Adianta rezar para quem já morreu? Os mortos podem, de alguma forma, interferir em nossa vida?

Essa dúvida existe no coração do católico, devido a influência protestante que prega o estado de “dormição” dos mortos até o dia do juízo final. Como eles não aceitam nada como verdade além da Bíblia, eliminaram alguns livros que tratam claramente do assunto, como o livro de Macabeus. Mas antes de mais nada, vejamos a tradição católica.

Nossa igreja tem como tradição crer no Corpo Místico de Cristo, que é a igreja total, isto é, a igreja militante que somos todos nós, vivos, a igreja padecente que são os nossos irmãos falecidos que se encontram no purgatório (expiando suas penas, ou as conseqüências dos pecados cometidos, preparando-se para um dia ter a visão beatífica de Deus) e a Igreja triunfante que são os nossos irmãos falecidos que já estão diante do Trono da Graça, os santos (canonizados ou não).

Através do Corpo Místico, todos nós interagimos e nos influenciamos mutuamente, portanto, a nossa intercessão por aqueles que já morreram é muito eficaz, diminuindo o tempo de purgatório daqueles que lá se encontram.

Se oramos por alguém que já está na Graça, essa oração é salutar para nós mesmos e para as almas daqueles que ainda padecem no purgatório; se a nossa oração é dirigida para alguém que infelizmente se condenou eternamente ao inferno, essas orações também são bênçãos para nós mesmos e para a igreja padecente, porque de nada servem à alma condenada.

A nossa igreja celebra anualmente um dia em honra aos mortos, consagra todas as segundas-feiras à eles e, durante todas as celebrações eucarísticas dedica um momento aos fiéis defuntos. A igreja ensina que devemos sim, rezar pelos que já partiram dessa vida. Em Fátima, Maria ensina aos pastorzinhos esse fundamento de nossa fé, pedindo que eles rezem e ensinem a seguinte jaculatória:  “Oh meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu, principalmente aquelas que mais necessitarem”.

Algumas almas na igreja padecente não recebem missas nem orações, porque seus familiares e amigos não acreditam no purgatório; ou são protestantes, ou católicos de meia face, que só acreditam no que lhes convém. A existência do purgatório é afirmada por Jesus em Mateus 18,23-35, na parábola do servo cruel, concluindo nos versículos 34 e 35, Jesus afirma que o Pai tratará os que não perdoarem de coração da mesma forma que ao servo cruel:  “E indignado o entregou aos torturadores até que pagasse integralmente a dívida. Assim vos tratará meu Pai do céu, se não perdoais de coração cada um a seu irmão”.

Na Palavra de Deus está clara a necessidade de intercessão pelos mortos; em II Macabeus 12,38-46, é tratado o assunto de sacrifício pelos mortos e, recomendamos a leitura na íntegra, mas os versículos 43 e 44 nos oferecem um belo resumo: “Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecessem um sacrifício pelos pecados (daqueles que haviam morrido): belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles”. Judas Macabeu pediu um sacrifício para que os mortos fossem libertados de suas faltas.

Na II Timóteo 1,16-18, o apóstolo Paulo faz uma oração por um membro falecido da comunidade: “O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, que muitas vezes me reconfortou e não se envergonhou das minhas cadeias! Pelo contrário, quando veio a Roma, procurou-me com solicitude e me encontrou. O Senhor lhe conceda a graça de obter misericórdia junto do Senhor naquele dia.”

Naquele dia é o dia do juízo, e Paulo reza por esse irmão falecido. Que esse irmão estava morto nessa ocasião fica claro quando vemos a despedida de Paulo no capítulo 4, verso 19: “Saúda Prísca e Áquila, e a família de Onesíforo”; se ele estivesse vivo, o apóstolo o teria saudado e não à sua família.

Muito bem, já vimos que é bom e salutar, aliás, é nossa obrigação rezar pelos mortos, mas... e eles, podem interferir em nossa vida?

Sim! As almas dos fiéis defuntos são poderosas intercessoras. Não só as almas dos santos, mas também aquelas que se encontram no purgatório intercedem por nós: O Padre Luiz Manaci era um fervoroso devoto das almas. Viajando um dia por uma estrada infestada de salteadores, ele ia tranqüilamente rezando o rosário na intenção das almas do purgatório. Quando o avistaram ao longe, sozinho, um grupo de bandidos se preparou para o assaltar. Repentinamente, avistaram um pelotão de soldados rodeando o padre e aterrorizados se esconderam, enquanto o padre passava tranqüilo. Algum tempo depois, esses bandidos encontraram o padre numa hospedaria e perguntaram onde estavam os soldados que o seguiam.

-       Meus filhos, respondeu o padre, eu ando sozinho. Só tenho um companheiro, meu rosário, que recito pelas almas.

-       Pois bem, confessaram, essas almas vos salvaram. Somos bandidos e estávamos prontos para o despojar e matar. Cremos que as almas vos salvaram da morte.

E esses bandidos tocados pela Graça, se confessaram humildemente pedindo perdão de seus pecados.

Santa Teresa de Ávila dizia que obtinha tudo por intermédio da intercessão das almas, Santa Catarina de Bolonha dizia: quando quero obter com certeza uma graça, recorro a essas almas que sofrem, a fim de apresentarem a Deus o meu pedido e sempre me é concedida a graça. São João Crisóstomo, Santa Gertrudes, São Domingos, São Francisco de Salles dentre outros, eram grandes devotos das almas do purgatório.

Quanto a capacidade de intercessão daqueles que pertencem a igreja triunfante, não há menor sombra de dúvida. Existem milhares de relatos de curas, conversões, libertações pela intercessão dos santos. Aliás, são necessários vários milagres comprovados cientificamente, para que a igreja canonize alguém. Na Palavra de Deus está relatado um milagre de ressurreição através do toque em uma relíquia de um santo; está em II Reis 13,20-21: “Elizeu morreu e foi sepultado. Guerrilheiros Moabitas faziam cada ano incursões na terra. Ora, aconteceu que um grupo de pessoas, estando a enterrar um homem, viu uma turma desses guerrilheiros e jogou o cadáver no túmulo de Elizeu. O morto, ao tocar os ossos de Elizeu, voltou à vida, e pôs-se de pé.”

Portanto, não são apenas os vivos que podem interceder uns pelos outros, como dizem alguns de nossos irmãos separados. Peça sim, a intercessão das almas e dos santos e peça também a intercessão de Maria, aquela que em corpo e alma clama por cada um de nós.