CRÔNICA: OS MALABARISTAS DA PONTE GRANDE “SOBRAL - A CIDADE PRINCESA”

CAUSO DE NÚMERO XXVIII

Por: Wilamy Carneiro

O tempo não espera por ninguém. Sempre  vejo nos escritos e poemas de Mário Quintana. Seus lindos versos falam do Tempo, Natureza, Saudade. É um modo peculiar de cada escritor. ”O escritor é aquilo que escreve” E por falar em tempo aqui estou para um dos causos a contar na Cidade Princesa, em Sobral no Ceara.

As chuvas caem em solos cearenses com abundância. Para quem mora em outra região e não acompanha a quadra invernosa no semi-árido nordestino, passa por despercebido que o inverno aqui é inconstante. Ano sim é bom inverno e outros sequer cai uma gota de chuva. Mas, quando São Pedro abre as portas. Dá-lhes chuva, e o povo aproveita.

Um dos pontos turísticos é a Ponte Grande. Batizada por Ponte Othon de Alencar. Serve de atrativo para molecada, no período invernoso. O Rio Acaraú, rio têm uma de suas nascentes na Serra de Monsenhor Tabosa no Ceará; passa pela cidade de Sobral. Nas cheias traz uma maior atenção de populares e curiosos. E aí que entra os malabaristas da Ponte.  

O rio corta praticamente toda a cidade, acompanhada no leito do Bairro do Sumaré, Bairro do Tamarindo, Bairro das Pedrinhas, Largo das Dores, Bairro Dom Expedito e outros. Na ponte grande os meninos malabaristas se jogam rio abaixo, desafiando a Lei da Gravidade e da Natureza. Os acrobatas em vôos livres numa altura de 6 a 8 metros. A vista é de se impressionar. Lindo é o seu leito, com águas barrentas trazidas das chuvas. Do alto avista o azul da Serra da Meruoca; as torres da Igreja de São Pedro; A Catedral da Sé, o Largo das Dores; O Boulevard do Arco; O Cristo na Rua da Estação, o Teatro São João, nosso ponto turístico, a Torre da Antiga TELECERÁ além de outros.    

Os mais afoitos meninos de corpo esqueléticos, entre 10 a 14 anos de idade, só couro e osso sobem nos postes, olham para baixo. Fixa seu ponto de interferência, respiram, fazem gracinhas com os que esperam para chegar a sua vez de subir também. Muitos curiosos e trabalhadores que vem do bairro vizinho Sinhá Sabóia param para ver o espetáculo. Aguardam a hora do pulo. Os gritos anunciam sua jornada:

- PULA! PULA! Está esperando o quê?

- Ta com medo, desce e dá a vaga para outro.

Quem está lá em cima não liga as provocações dos amigos e transeuntes. Nessa hora ele está sendo o centro das atrações. Em tempos modernos, Selfies são tiradas. Gravações de celulares registram o momento do pulo. Gritos, gargalhadas, assobios, interagem na caçada de sua aventura. Respira fundo, dá uma ajeitada, olha para baixo, estica o corpo, solta as mãos. Lá vai um corpo desafiando a Lei da Física com giros, acrobacias, de braços abertos e estivando-se todo para um mergulho triunfante.

TBUM! Um jato d’água de cor barrenta sobe rumo a superfície e a ponte. Curiosos olham para baixo querendo achar o corpo do mergulhador. Passam-se uns minutos e ele submerge com um grito arrepiante.

- UHHUUU! SOU O MELHOR!

- Assobios, gritos e aplausos tornam o mergulhador mais confiante. Incentivos para os próximos malabaristas das águas tentarem seu pulo.

O filho Sobralense Renato Aragão: Humorista, comediante, Diretor, Ator, Escritor e Cineasta fala da sua infância em Sobral numa de muitas de suas apresentações com os amigos Dedé, Mussum e Zacaria no céu ao encontro de São Pedro. Faz citação em suas gravações na rua da Cachorra Magra e o tão conhecido Bairro das Pedrinhas.  A Rua Paulo Aragão é um das ruas que dá ao encontro do Rio e a Ponte. Nome do pai do humorista sobralense. Uma homenagem e gratidão. Lá o menino trapalhão Renato nasceu.

Nos anos 80 e 90 moradores da Rua da Cachorra Magra, e Bairro das Pedrinhas aventuravam no mesmo episódio em períodos das cheias do Acaraú.  Confesso que era mais arriscado. O rio era mais lindo, tinha uma ribanceira muito alta de aproximadamente 3 metros de altura para seu leito. Os bancos de areia no período de agosto era ponto turísticos dos banhistas, vazanteiros da região e das lavadeiras (mulheres que ganham à vida batendo roupa na águas do rio). Quem vinha da antiga Rua Do Celeiro, atualmente Rua Dona Maria Tomásia, passava pelo Country Clube e lá avistava o barreiro e as frondosas oiticicas e Juazeiros enormes à margem do rio com suas raízes expostas, devido a erosão das chuvas. Uma altura que dava medo. Os aventureiros das águas de movimentos extravagantes arriscavam suas vidas na travessia para chegar do outro lado. Nadavam com peixes, e saía de mergulhos para a ribanceira nos escombros da antiga “Casa de Força” de cor amarelada esboçado pelas intempéries onde existia próxima a Ponte Grande. Lá tinha uma enorme bomba que puxava água para toda cidade num cano de ferro que passava pela lateral da ponte e seguia pelos casebres que ficava próximo ao rio. Na passagem do cano os meninos e passageiros faziam a travessia por cima dele de quem vinha do centro para o Bairro das Pedrinhas e Campo Grande. Nessa travessia, reduzia o percurso de uma boa caminhada para o outro lado. Outro fato da travessia era os canoeiros que ficava no Largo das Dores com Bairro Dom Expedito, ao lado da antiga Fábrica de Algodões Dona Emilianinha, esposa do filho sobralense e empresário Oriano Mendes. Oriano Mendes foi um grande vulto de nossa História e um grande empreendedor. Ele que trouxe a Usina de Luz e Força para nossa cidade. Abastecia a cidade em tempos de outrora até as 9hs da noite e depois apagava. Depois em comunhão foi remodelada, reestruturada para abastecer toda a cidade e a Fábrica de Tecidos Ernesto Deocleciano (COFFITEC). Atualmente a antiga fábrica deu lugar a UFC (Universidade Federal do Ceará).

Quando as cheias do rio e o período invernoso finda, acabam as travessuras dos aventureiros da arte de brincar. E retoma tudo outra vez no próximo inverno com novos malabaristas da Ponte Grande em Sobral.