Maquiavel foi o primeiro pensador ocidental a refletir sobre a liderança, numa época em que ser líder era um papel exclusivo da aristocracia e não do homem comum.  O foco de preocupação do Maquiavel era o poder político, exercido pelos príncipes, mas seus ensinamentos se aplicam a todo tipo de liderança, seja no comando de um Estado Nacional ou numa empresa, exercendo um cargo de comando. Maquiavel é considerado até em nossos dias como o mal personificado. Na Inglaterra ele é designado como o Old Nick que é um sinônimo inglês para o satanás.

               Mas será que ele realmente era a personificação do mal ou apenas um intelectual, experiente em negócios de Estado, que pesquisou profundamente através da história as atitudes dos líderes em seus sucessos e fracassos e com isso criou um manual para um líder ser bem sucedido? Primeiramente é bom observar que conhecemos muitas pessoas, sejam políticos, líderes empresariais e várias categorias de gerentes, chefes e supervisores que praticam os ensinamentos contidos no livro “O Príncipe” sem nunca terem lido ou ouvido falar nele. Isso pode ser uma prova de que as lições do “Príncipe” não foram inventadas pelo intelectual de Florenza, mas compiladas em suas pesquisas sobre vários líderes ao longo da história humana. Com as informações sobre o sucesso e o fracasso ele pode então formular uma teoria sobre  como proceder para se manter no poder ou conquistá-lo.

               É sempre bom lembrar que Maquiavel foi um homem da Renascença, portanto fruto de seu tempo, uma época de grandes transformações sociais, culturais, políticas e científicas. Neste contexto antropocêntrico ou o homem como medida para todas as coisas, ele analisou a questão do poder sob uma nova perspectiva, mudando radicalmente o pensamento predominante. Ele observa que o poder é fruto da vontade humana, do desejo de uns dominarem os outros e o desejo dos outros de não serem dominados. Assim, o poder para Maquiavel não era originário da vontade divina, mas dos interesses e ambições puramente humanos.

               O pensador florentino era pessimista em relação à humanidade e para ele o homem seria incorrigível em seu constante desejo de dominação e poder. Diferentemente dos pensadores românticos como Rousseau, que acreditava que o homem teria nascido bom e livre e corrompido e escravizado pela sociedade.

               A ética prognosticada em O Príncipe para os líderes bem sucedidos, não era comprometida com valores, mas com os resultados obtidos.  De nada adiantaria ser um líder justo, ético, honesto, mas sem resultados positivos para o fortalecimento do Estado e o bem estar da sociedade.

               Os aduladores merecem um capítulo específico no seu livro mais importante. Os bajuladores da corte podem se tornar uma ameaça se o líder não ter cuidados com a sua influência. Assim, o líder não deve dar ouvidos a todos, mas apenas a alguns em especial e somente deles ouvir conselhos, pois caso contrário poderá ficar a mercê de pessoas mal intencionadas ou incompetentes. Deve também o líder ouvir a opinião de alguns “amigos” confiáveis antes de tomar uma decisão importante, pois voltar atrás pode relevar um líder fraco, sem idéias próprias. Outra lição importante neste capítulo, é que a prudência do líder não deve depender dos seus conselheiros, mas os conselhos dependerem da sua prudência. O líder para Maquiavel deve cercar-se de sábios, mas de nada adianta ter sábios conselheiros se ele não for capaz de avaliar os conselhos antes de tomar uma decisão.

               Outro conselho que Maquiavel prescreve para os “líderes” é a questão ética. O líder deve ser sempre justo e generoso, mas também deve estar pronto para não sê-lo quando isso for conveniente para si ou para os interesses do Estado. Aliás, Maquiavel era um estadista na própria acepção do termo. A sua visão a instituição deve estar acima dos interesses pessoais.

               Maquiavel escreveu “O Príncipe” como um receituário para se conquistar o poder ou mantê-lo tendo como alvo os mandatários dos pequenos estados italianos do século XVI, mas ele continua atual  e não só para chefes de estado, mas também para os líderes organizacionais. Uma leitura atenta do livro é um bom conselho que o florentino ilustre ainda daria para os modernos executivos de grandes e pequenas corporações.