RESUMO

A presente pesquisa, tem como objetivo maior mostrar a conduta jornalística adotada ao noticiar o caso da Escola de Educação Infantil Base em 1994, onde sete pessoas suspeitas de cometer abuso sexual com os alunos, foram massacradas pela imprensa, sem ao menos uma prova de que fossem realmente culpadas.

Palavras-chave: Escola; Imprensa; Suspeitos; Abuso; Culpadas.

OS GRANDES DESLIZES DA IMPRENSA BRASILEIRA NO CASO DA ESCOLA BASE

O capítulo II do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros se diz respeito à conduta profissional do atuante na árealogo no Art. 3º é dito que “O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social, estando sempre subordinado ao presente Código de ética.” E em seguida o Art. 4º trás a seguinte afirmação “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação.” Tendocomo ponto de partida dessa argumentação o caso da Escola Base em 1994, a imprensa da época burlou essas duas principais normas, abrindo espaço para outros escorregões.

Tudo começou em 1992, Icushiro Shimada ou Ayres (nome que ganhou ao ser batizado na igreja Católica),possuía uma empresaem uma sala com 16 metros quadrados, além de algumas máquinas de datilografia, a empresa contava com uma xerox e duas máquinas copiadoras de planta de engenharia, morava com sua mulher Maria Aparecida Shimada ou simplesmente Cida e seu filho em uma quitinete comprada com o dinheiro arrecadado na empresa.

Cida tendo cursado Letras e trabalhado na área já à alguns anos, tinha o sonho de ter seu próprio negócio, com ajuda do marido e de sua primaPaula Milhin de Monteiro Alvarenga - chamada para inteirar o capital, comprou uma escolinha em decadência, com apenas 17 alunos, situada no bairro da Aclimação em São Paulo. As tarefas eram bem distribuídas, Paula com seu diploma em pedagogia cuidava da parte pedagógica, Cida era responsável pela parte Administrativa e Ayres ajudava ás vezes na saída das crianças.

Aos finais de semana o casal Shimada e Paula junto ao seu marido Maurício de Monteiro Alvarenga reformavam o estabelecimento, as obras somente se cessaram no inicio de 1994, sendo assim um sucesso, já que em menos de dois anos a Escola de Educação Infantil Base contava com 72 alunos matriculados. Mas na tarde de 26 de março a sorte dos quatro proprietários começou a mudar, eles e mais um casal de pais foram acusados por duas mães de cometerem crimes sexuais contra os alunos.

Em uma brincadeira com a mãe Lúcia EikoTanoue, Zeca (todos os nomes das crianças serão trocados, para preservar sua identidade) sentou em cima de sua barriga e começou a se movimentar, dizendo que era daquela maneira que o homem faz com a mulher. Lúcia surpresa, pois o filho de apenas quatro anos nunca havia presenciado um ato sexual, perguntou quem o ensinouisso e depois de uma longa conversa e muito insistir, o menino lhe falou que tinha visto aquilo em um videocassete na casa do Arthur, coleguinha da Escola Base, “o lugar tinha portão verde, jardim na lateral, muitos quartos, cama redonda e aparelho de televisão no alto” (ALEX RIBEIRO, 2000, v. 2, p. 20). Quem o levará ao local foi Shimada, que dirigia uma perua Kombi, uma mulher de traços orientais teria o beijado e o beijo havia sido fotografado por três homens, um deles era Saulo, pai de Arthur. Maurício, teria o agredido, uma mulher faria com que ele virasse de bruços para passar mertiolate e pomada em suas nádegas e, um casal ficariam colados na frente dele.

Segundo Zeca, outros coleguinhas teriam participado da orgia: Joana, Arthure Carina. Lúcia conhecia a mãe de Carina, Cléa Parente de Carvalho. No dia seguinte, uma manhã de domingo, Lúcia foi ao encontro de Cléa no térreo do prédio onde ela morava e repetiu tudo o que Zeca havia dito. A mãe de Carina voltou ao apartamento e conversou com a menina, foi difícil, Carina desconversava bastante, mas no final acabou confirmando a história de Zeca e contando mais detalhes do ocorrido.

Quando perguntada quem a levava para tal local, respondeu que era o tio Maurício e, iam junto, o Eduardo, o Lucas, a Joana, o Zeca, a Patrícia, o Pedro, a Maria, o Rafael, a Bruna e o Vitor. Contou que havia dormido umas dez vezes na casa de Arthur e uma vez “o tio Maurício a teria segurado pelo ombro e depois jogado no chão”(ALEX RIBEIRO, 2000, v. 2, p. 23). Carina também dissera que algo esquisito foi introduzido em seu ânus, que assistia filme de mulheres peladas e era fotografada nua e os tios ficavam sem roupas e deitavam sobre ela.

Cléa não perguntou mais nada a menina, junto ao seu marido e a Lúcia foram na manhã de segunda feira ao 6º Distrito Policial, no bairro do Cambuci. Quem dava o plantão nesse dia era o delegado Antonino Primante, ao seu comando iniciou-se uma busca na casa dos pais de Arthur e enquanto se esperava o mandado de busca e apreensão para o apartamento do casal, Zeca e Carina foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para realizar o exame de corpo de delito. Naquele mesmo dia as mães juntoas crianças voltaram para a delegacia. Mais tarde, Primante com o mandado em mãos foi à casa de Saulo e Mara, acompanhado de cinco policiais armados mais as mães e seus respectivos filhos.

Ao chegar no apartamento, quem os recepcionou foi Mara Cristina da França Nunes, lá eles reviraram tudo, mas nada incriminador foi encontrado.

Deste modo, o delegado achou que poderia ser encontrado algo na Escola Base e que Arthur, filho de Saulo e Mara também era uma vítima, então lá se foram os policiais,as duas mães, as crianças e, agora os pais acusados e seu filho. Bateram na porta da escolinha, Zeca e Carina não identificaram nem Saulo, nem Ayres e nem o Maurício, nenhuma prova foi encontrada no local. As investigações continuariam no próximo dia, mas as mães desgostosas com o andar da carruagem, decidiram chamar a Rede Globo. Valmir Salaro chegou na delegacia e logo os policiais buscaram Ayres, Maurício, Cida e Paula para um inquérito informal. No dia seguinte, 29 de março, os acusados voltariam para prestar depoimentos formais, mas não foram ouvidos. O delegado Edélson Lemos passou a chefiar o casoe, um telex que não substitui um laudo, chegou em suas mãos adiantando o parecer do exame de corpo de delito, nele dizia que os resultados eram positivos para atos libidinosos no menor Zeca.

A Folha de S. Paulo, A Folha da Tarde e a TV Bandeirantes chegaram a procurar o casal Shimada na escola, mas eles não foram encontrados. O Jornal Nacional, da Rede Globo, lançou a notícia sem a versão dos acusados, mas não assumia as denúncias como corretas. No dia seguinte, os jornais impressos acompanharam a reportagem de Salaro e lançaram matérias tecnicamente corretas. Entretanto a população já surtia o efeito das matérias: um coquetel molotov foi jogado na escola, que não pegou fogo pois um funcionário dormia no local e apagou;Mara e Saulo ficaram presos em casa devido ao excesso de jornalistas na frente do prédio, quando conseguiram sair, foram xingados pelos vizinhos e se esconderam na casa de um parente, no Jabaquara; Ayres, Cida e Paula se refugiaram na casa de um amigo em Guaianases e  Maurício viajou para o Espírito Santo.

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