Os Direitos e os Humanos
Em Belém, cidade das palmeiras, os patrimônios são marcas históricas de orgulho e tradição. O teatro da paz, a Basílica de Nazaré, Praça da República, Praça Batista Campos...
É, de fato, admirável contemplá-los, mas o que os cerca não são apenas belezas, ou especiarias, muito pelo contrário, são marcas de esquecimento e abandono, muitos moradores de rua. Pessoas que perderam tudo ou quase tudo. Perderam, talvez, o que nunca tiveram: sonhos, moradia, família, dignidade, amores.
Os dois, patrimônios e moradores de rua, habitam muito tempo em nossa cidade com uma enorme diferença, os primeiros são mais valorizados. Em que momento as construções históricas se tornaram mais valiosas que seres humanos? Será um valor atribuído pelo próprio ser em detrimento ao outro?
Passamos por eles todos os dias, em alguns casos insipientes, com um olhar abjeto, o que de certa maneira tornou-se prosaico. Percebemos o quanto não os enxergarmos no "corre-corre" do dia-a-dia, pois nossas ocupações nos privam disso, da contemplação ou reconhecimento desse ser como pessoa- igual a nós.
Contemplá-lo como ser, igual a nós, não é uma tarefa fácil. Embora não reconheçamos, os moradores de rua possuem os mesmos direitos, chamados humanos, que nós. Sem moradia, sem emprego, sem ter o que vestir ou comer, que direitos são esses? Direitos que estão numa Constituição que deveria funcionar. Direitos que deveriam servir como assessoramento a todos. Direitos desconhecidos. Direitos nossos. Direitos dos mendigos.
Os moradores de rua também fazem parte da história de nossa cidade. São adultos, jovens, crianças. Boa parte envolvida na criminalidade, esquecidos por uma sociedade que valoriza mais o material do que o ser. Sociedade que prega e luta por Direitos, entretanto não consegue se reconhecer como possuidor dos mesmos Direitos de um morador de rua. Sociedade que eleva e cumpre os direitos de alguns e se esquece dos demais.
A desvalorização do sujeito que é, ou deveria ser alguém que atuante na sociedade, ocorre por causa do cuidado exacerbado com os bens materias e da insensibilidade com o próximo, o que parece ser um simples discurso religioso e tão trivial quanto práticas do cotidiano é esquecido por nós, seres humanos.
Tanto um trabalhador quanto um mendigo possuem os mesmos Diretos perante a Lei. A Lei prega a igualdade, assim como a própria sociedade mascarada, mas vive a desigualdade, o privilégio para alguns e o total descaso para outros.
Os Direitos que foram negados aos moradores de rua são, simplesmente, essenciais para vida assim como a moradia e o ensino. Fazemos parte de uma sociedade tão contraditória, que apresenta atitudes de torpeza com as pessoas que deveriam ser protegidas pelos Direitos Humanos. Que eles existem alguns de nós temos conhecimento. Que não são concretizados é fato.