Leide Albergoni*

Todo casal já passou por isso: ainda na festa de casamento, surge a famosa pergunta “e os filhos, quando virão?” Mal o casal termina de arrumar suas coisas na casa e a pressão se intensifica. A decisão de ter um filho deve ser tomada com muito mais cuidado do que atender às pressões sociais e familiares. A responsabilidade por uma vida é muito grande. Filhos alteram a rotina do casal e podem trazer desequilíbrios financeiros irrecuperáveis se os pais não souberem se organizar. Melhor então que sejam muito bem desejados e cuidadosamente planejados para que não se tornem um fardo. Mesmo sendo um ato de amor, racionalidade é a palavra-chave para não se perder nesse momento.

A decisão de ter um filho envolve custos desde antes de sua concepção: consultas médicas para verificar as condições de saúde da mãe, suplementos vitamínicos para preparar o corpo para receber a fecundação e até mesmo a alimentação e cuidados com a saúde. Durante a gestação, os custos de uma alimentação saudável para a mãe pesam mais do que o habitual, mas são fundamentais para a saúde do bebê. Logo começam as compras de roupas de gestante, que custam razoavelmente mais do que as roupas comuns: nesse caso, o ideal é comprar poucas peças versáteis e usá-las bastante, pois dificilmente serão aproveitadas depois.

Preparar o enxoval e o quarto do bebê também requer cuidado: nesse momento, é bom contar com a experiência de uma mãe recente que seja um exemplo de bom senso financeiro para lhe orientar, pois, na empolgação, a mãe pode comprar coisas que terão pouco ou nenhum uso. Brechós de bebês são excelentes opções para economizar, pois muitas vezes é possível encontrar peças com um ou nenhum uso de mães que se empolgaram demais na preparação do enxoval. Aquelas roupinhas usadas do bebê de uma amiga são bem vindas também.

Os pais estão muito sensíveis e ansiosos nesse momento e dispostos a pagar o que puderem para saber o máximo possível sobre o bebê: exames genéticos, sexagem fetal, ecografia 3D, vídeo da ecografia 3D, book mensal da mamãe, filmagem do parto, curso de parto, curso de maternidade, curso de odontologia para o bebê, culinária para bebê, festa de chá de bebê, doula para o parto, enfermeira para ensinar a amamentar... há uma infinidade de opções de gastos que podem ser economizados com um pouco menos de ansiedade dos pais e um círculo de amizade de outras mães já experientes.

Após o nascimento, os gastos com o bebê aumentam naturalmente: estima-se que uma criança consuma mais de 2.000 fraldas durante sua vida, o que dá um valor razoável no total. Não se economiza nas fraldas, pois elas afetam a saúde de seu bebê. O melhor é avaliar a dispensa de outros itens como book mensal do bebê, roupas estilo adulto (que além de ser desconfortáveis, são caras), cosméticos mais elaborados, entre outros. Novamente, invista em itens básicos de qualidade e dispense o que terá pouco impacto na saúde do bebê.

O aniversário de 1 ano é especial, principalmente para os pais, mas será que os “conhecidos” se importam com isso? Por que não um momento íntimo com a família e amigos mais próximos? As festas seguintes, embora menos marcantes, também são fontes de potencial perda de controle. Invista no seu relacionamento diário com seu filho, pois ele não vai sequer lembrar de quantas pessoas estavam presentes na festa de 2 anos, ou qual o motivo da decoração. Pelo contrário, pode até ficar assustado com tanta gente.

A escola tem um papel importante na vida de uma criança, mas será que um colégio internacional ou bilíngue é compatível com sua renda? Faz sentido matricular a criança em uma escola cara e se sacrificar para pagá-la? Ainda mais: ela certamente perceberá que seu padrão de vida é inferior ao dos coleguinhas - e isso sim poderá afetar seu desenvolvimento emocional. Uma boa escola é importante para o futuro da criança, mas nos cursos superiores é  possível encontrar bons alunos de escolas públicas e péssimos alunos de escolas particulares. A verdade é que só a escola não faz milagres: o acompanhamento dos pais na rotina de estudos é fundamental. O mundo está cheio de exemplos de que a melhor forma de criar um filho não é ter mais dinheiro, e sim mais amor, atenção e acompanhamento de sua rotina.

*Leide Albergoni é economista, professora da Universidade Positivo e autora do livro Introdução à Economia – Aplicações no Cotidiano.