Os campos através o mundo se distinguem, o caso de Tindouf, sudeste de Argélia, 1975, levanta a questão das relações humanas, na vida, nas experiências das pessoas e das nações, como no dito, dos provérbios e da sabedoria dos ancestrais, costuma-se dizer que a espera, mesmo se alonga tem limite, os ausentes inevitavelmente vão retornar a suas origens, mas só depois de esgotar a espera, o que sem dúvida se almeja nos horizontes, alcançado pela espera; no entanto, nestes campos de Tindouf, ninguém volta mais, tanto em relação aos filhos quanto aos pais, fartos da felicidade e do amor no sentido de viver nas terras dos persas, mantidos apenas graças aos nomes e títulos, ilusões e equívocos, o que se dissipa com a fé e vontade.

Até mesmo na vida temporária / permanente dentro dos campos esta volta se tornou condicional e suspensa, devido à manutenção do básico, comendo e bebendo nos limites inferiores deste mundo mortal, uma vida que precisa de uma dose de água para saciar as pessoas com sede, saciando a sede de meninos, rapazes e moças, aqueles que não têm pecado, exceto porque eles se encontraram nos campos, onde o tempo é interrompido por um grupo e uma ação, cujo calor excessivo no verão, e no inverno  insuportável geado.

Tais campos de Tindoufs carecem dos requisitos mais básicos para uma vida normal,seus atores violam a dignidade humana, iludidos de tornar este lugar como "campos de orgulho e dignidade", jurando pelo senhor da Glória ser inocentes ou responsáveis  dessa tragédia e dos ditos, considerando a tenda na autêntica herança do deserto à liberdade.

Quanto a moradia, ela  proporciona um momento de estabilidade, das dificuldades da natureza, símbolo de generosidade, de resiliência e de magnanimidade entre o povo do saara, mas  sem ser confundidos entre isso e aquilo, entre os campos à vontade de seus atores e líderes, delimitados pelo céu e terra, e dos campos cercados por milícias armadas e um exército pertencente a um outro estado, que delega as autorizações e as licenças, até quando trata de seus vizinhos e parentes.

Apesar de tudo isso, é certo que, mesmo que haja uma longa espera nos campos, não existe outro país no horizonte, além da terra natal do império do Magrebe, vasta com a miséria da história e da geografia, motivo dos contratempos e erros -, os bons atos negados, os quais não podem ser desperdiçados, nem comparados a cidade de Laayoune, Dakhla e Smara, sobretudo no clima dessa pandemia.

Esta ocasião constitui uma condição. No momento em que os países do mundo vivem a incidência de uma crise intratável, devido à pandemia de Corona, ameaçando todos os aspectos da vida, da saúde, do social, da econômico e até do político e das relações internacionais, diante das suas complexidades e equilíbrios atuais.

Tais momentos exigem dos países enfrentar essa epidemia, mobilizando todos os recursos humanos, materiais e logísticos para enfrentá-la e limitar sua disseminação, reduzir suas possíveis repercussões no sistema de saúde, do social, do econômico e do relacional da sociedade, em relação aos campos de Tindouf, localizados no sudoeste da Argélia, tornado completamente isolado do mundo, nesta situação excepcional.

E sem entrar nos debates dos antecedentes políticos, regionais e internacionais que levaram a prolongar os sofrimentos e as tragédias de Tindouf,perante os fatos  registrados de uma maneira quase consumidora ao longo da situação, além das dificuldades e obstáculos dentro da liderança da Polisário, a exemplo da corrupção, da incompreensão e da indiferença,  fatores indubitavelmente considerados como motivo do surgimento do tráfico, das crianças e dos idosos,  vivendo nesta situação por mais de quatro décadas.

A abordagem e o tratamento das condições dentro dos campos de Tindouf, sob um ângulo puramente humano, nestas circunstâncias difíceis, exigem metodicamente descartar a alguns preconceitos e impressões, frequentemente governados nos contextos de sentimentos da pátria e da imaginação, constituindo um dos elementos básicos destas idéias, dos conceitos e premissas.

Por essa razão, a cobertura da mídia e de todas as suas variedades em relação ao estado estático de Tindouf, foi reduzido a trocas e acusações ao  serviço das agendas da propaganda polisário, enquanto a tragédia e o sofrimento dessa população permanecem ausentes ou ignorados, motivo que permite à liderança da Polisario aproveitar essas condições miseráveis, como ativo comercial para acumular riqueza e implorar a simpatia e a generosidade das organizações humanitárias  e ocidentais.

Voltando à situação atual nos campos à luz da turbulência internacional e regional, causada pela pandemia de Covid-19 e, apesar do blecaute existente, e á luz do que se publica a nível dos sites de redes sociais, de alguns portais ao serivço dos separatistas, indicando que a tragédia de Tindouf chegou ao seu clímax, sem mais o moral nem o sentimento humano para tolerar.

Um outro problema levantado é a crise da sede que toma proporções, alguns jovens saíram de dentro dos campos graças a tecnologia de vídeo para pedir à Argélia e à comunidade internacional intervir e salvar as vidas de crianças e idosos,buscando  soluções radicais para essa situação prolongada. Uma vez esta nova crise agrava o sofrimento de indivíduos e das famílias, numa situação que estes campos são considerados como números adicionais no mercado político de interesses.

Por outro lado, a ocupação dos  governantes da Argélia envolve outra situação, um problema interno que complica as cartas, a exemplo de reorganizar o cenário militar e a segurança à luz da dispersão e da repulsão dos centros de poder ( continuação do conflito entre alguns generais ...), além da situação econômica e social, causa das repercussões da pandemia de Corona, à luz do dramático declínio dos preços do petróleo, prejudicando os campos de Tindouf, como um fardo pesado, difícil a continuar a pagar uma conta sem fim, à luz dos horizontes políticos e internacionais bloqueados.

Além da escassez de recursos para os governantes da Argélia, os altos custos de incubação econômica e financeira dos campos de Tindouf pioram a situação– sem tomar conta do setor humano, - diante de uma população vulnerável, devido à negligência e à perda, cambaleando entre o martelo de uma "liderança no deserto" sem consciência, vontade, governada por depósitos culturais e intelectuais ultrapassadas, através de uma bigorna, cujo".estado do exército "utiliza essa população, apenas como uma ferramenta de exploração ou de propaganda," estrategia diplomática para esgotar o Marrocos, de acordo com a literatura e os fundamentos de uma ideologia hostil, o que não mais seduz nenhum, nem convence os filhos da Argélia e dos sarauis.

Finalmente, diante dessa terrível situação vivida pelos habitantes dos campos, hoje é necessário que o Marrocos assuma sua responsabilidade histórica em relação ao povo dos campos, longe dos cálculos de ganhos e perdas impostos pela lógica da política.Os aspectos humanitários e os laços sanguinários e familiares exigem a busca de canais para prestar assistência àqueles empurrados de acordo com certos contextos históricos, numa batalha perdida, ficcional, sem iludir-se  por um pequeno estado, logo vai descobrir que gerações morreram após gerações, e o sonho de fornecer um tanque de água nos campos de Tindouf se torna maior do que o sonho de um "Estado".

 

Lahcen EL MOUTAQI

Professor Universitário, Rabat – Marrocos

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