Uma das experiências mais difíceis que alguém pode enfrentar na vida, definitivamente, é o luto. A dor de perder um ente querido, seja após um longe período de enfermidade ou mesmo de repente, é algo sempre custoso de lidar. Frequentemente vemos histórias de pessoas que passaram a vida toda juntos e, após a morte do cônjuge, acabaram por falecer após pouco tempo. Mesmo que a perda de um ente querido acontece após poucos anos de relacionamento, entretanto, uma situação semelhante pode acontecer.

Um amigo dos tempos de colégio recentemente perdeu a esposa em um acidente de carro provocado por um motorista bêbado, que também não resistiu ao choque. Conheço-o a mais de vinte anos e posso dizer com certeza que nunca vira meu amigo em situação semelhante. É certo que ninguém consegue lidar com um fato dessa magnitude de forma fácil, mas o que aconteceu é que ele basicamente se entregou ao desespero após a morte de sua companheira.

Tristeza

Alguns dias após o enterro, liguei para ele para saber como estava, mas o telefone se encontrava desligado. Ao comentar o fato alguns dias depois com outro conhecido em comum, ele me conta que nosso amigo resolvera tirar algumas férias atrasadas do emprego e desde então não dera mais notícias. Como conheço a família há décadas, resolvi procurar seus pais – que, por coincidência, moravam perto dos meus – e fui recebido por sua mãe, visivelmente abalada. Ela me conta que tiveram que trazer meu amigo praticamente à força para casa deles, visto que se trancara em seu apartamento pois, segundo ele, não queria mais viver. Cheguei a conversar um pouco com ele, que mal balbuciou algumas palavras e me tratou como um completo estranho.

Pilates

Mantive contato com a família nos meses seguintes, que me disse que estavam fazendo progresso aos poucos. Meu amigo voltara ao trabalho e começara a se consultar com um psicólogo, mas ainda estava totalmente recolhido em seu luto, silencioso na maioria do tempo. Entretanto, por recomendação médica tanto para cuidar de sua saúde como para adotar um novo hábito, ele passara a frequentar um estúdio de Pilates. Mal sabíamos nós que seria um ponto fundamental em sua recuperação.

Mudança

Ele sempre fora afeito a exercícios, mas deixara totalmente de se cuidar após a morte da esposa. Assim, o Pilates acabou sendo para ele uma preciosa válvula de escape, dado seu ritmo individualizado e específico. Ao voltar a explorar os limites de seu corpo, ele passara a se sentir melhor e perceber que podia realizar novas coisas; tinha passado a caminhar algumas vezes por semana, por exemplo, o que para ele significava uma pequena vitória.

Conforme me disse algum tempo depois – para minha surpresa, me convidara para almoçar, para agradecer a preocupação desde o acontecido – a saudade ainda era bastante dolorida, mas que com o tempo ele chegara à conclusão de que seria uma espécie de traição para sua companheira desistir de viver, como queria anteriormente. Segundo ele, o Pilates fizera com que se sentisse vivo e equilibrado pela primeira vez em muito tempo, algo que ele tinha certeza de que a agradaria bastante.