OS ALIENADOS DO CELULAR

Nazaré, 14-05-2011

Eu estava numa loja
De minha cidade natal.
Os transeuntes passavam apressados
Com o celular no ouvido
Parecendo extra-terrestres,
Sem falar com as pessoas,
Achando que estava falando com o mundo.
Parecem que já nasceram assim
Com um celular pregado ao ouvido.
Olhei para a rua
E vi pessoas dentro dos carros
Com celulares nos ouvidos
Parecendo alienados.
Aliás, eram alienados do sistema.
Atropelou uma criança
E seguiu em frente
Como se nada tivesse acontecido.
Um policial apitou
E o fez parar:
-Sabia que é proibido dirigir
com o celular no ouvido?
-Peraí. Tô fechando um negócio.
-O senhor está preso.
-Depois a gente conversa.
-Desligue o carro.
-Não posso. Tô fechando um grande negócio.
-O senhor atropelou uma criança.
-Não. A criança foi quem atropelou
meu carro e meu grande negócio.

Havia outro alienado
Na porta da loja
Falando em dois celulares.
Fiquei a observar aquela maluquice.
Um celular em um ouvido
E outro celular no outro ouvido.
Fiquei pasmo de surpresa
Ao descobrir que a pessoa
Do outro lado da linha
Era ele mesmo.
Acreditem, é verdade.
Ele ligou para ele mesmo.
Comecei a sorri e lhe perguntei:
-Está falando com quem?
E ele respondeu:
-Hã? Ah sim. Comprei o celular agora
e estou testando,
falando comigo mesmo. É o hábito.

Quando atravessei a rua,
Outro maluco estava gritando com o aparelho
E esmurrando um poste.
Assim não dá!