A época que antecede os vestibulares representa, para inúmeros jovens, o momento crucial de decisão de seu destino profissional. Embora tal opção não seja considerada irrevogável, presume um desafio existencial, na medida em que afetará e orientará seu futuro campo de estudos e de trabalho.

São as ansiedades, indecisões, incertezas e angústias que conduzem os jovens a se inscreverem em programas de orientação profissional, o que e muito saudável, pois não está somente em jogo o que o jovem quer fazer no futuro, mas o que ele vai ser, pois a identidade profissional faz parte da identidade como um todo.

            O presente artigo é uma nova proposta, baseada em um autor argentino Rodolfo Bohoslavsky, calcada em uma estratégia clínica, fugindo do modelo convencional, o qual é por nós considerado já ultrapassado, uma vez que não atende à demanda do mercado de trabalho e do sujeito.

Trata-se de um modelo teórico que enfoca a problemática da Orientação Profissional a partir de uma visão ampla e compreensiva das circunstâncias que envolvem a questão da escolha, ainda se propõe a distinguir problemas de natureza vocacional de outros.

E assim começa o romance saudável entre orientandos e orientador (a). Fala-se de um romance porque desde o momento de inscrição já existe um imaginário sobre quem será aquele que vai orientar, que vai trazer respostas para as angústias e desejos de quem busca a orientação. Ou seja, existe ai um esboço de transferência, conceito desenvolvido na obra de Freud, está presente durante todo o processo, não só no processo de orientação profissional, mas no processo de vida, ou seja, estará presente onde aparecer uma relação, seja amistosa, hostil ou de desdém.

A prática clínica com adolescentes fundamenta tal proposta, entretanto não se destina apenas a este público, mas sim a toda e qualquer pessoa que não consiga, por algum motivo, escolher, enfim, decidir qual caminho tomar em sua vida profissional.

Percebendo o quão primordial para o homem é que sua relação com o  trabalho seja prazerosa, posto que o “sofrimento no trabalho” (Dejours, 1987) pode levar a uma psicopatologia do trabalho, ou a um estado de extrema frustração de cunho existencial, “nós procuraremos divulgar aquilo que, no afrontamento do homem com sua tarefa, põe em perigo sua vida mental” (Dejours, 1987, p.11).

A produção imaginária dos orientandos em relação às profissões e como isto se atualiza no processo transferencial com a orientadora, que também representa um profissional, ou seja, se cada um tem sua maneira particular, mesmo que inconsciente, de formar representações imaginárias, então este imaginário estará certamente presente nesta relação orientando - orientadora.

 O trabalho em si é considerado por Freud como sendo uma sublimação, o que é essencial para a existência da humanidade.

            Tenta-se trazer o leitor para uma reflexão sobre até que ponto o trabalho de orientação profissional com adolescentes pode ser abordado psicanaliticamente, já que a psicanálise é definida como sendo aquela que se propõe a ter como objeto de estudo, o inconsciente. Em que dosagem, em OP, deve-se trabalhar com conteúdos inconscientes, e em que dosagem, com conteúdos conscientes?

Orientador como facilitador de um processo, a família dentro do processo de escolha e como ela se implica com o social.

Do ponto de vista da Psicanálise, o inconsciente é o lugar de um saber, mas de um saber insabido, pois a consciência, na maioria das vezes, ignora os sentidos que possam ter as formações inconscientes. Será a escuta deste inconsciente, a pontuação ou a interpretação do mesmo, que possibilitará a construção de um saber consciente. Assim, procura-se fazer no processo de Orientação Profissional um papel de escuta, tendo a pretensão de “dar sentido” a esses conteúdos sem significação para o consciente.

Em função do tempo ser determinado, transforma esta escuta em uma escuta limitada, pois não há tempo para aprofundar as questões individuais. Por estar presente em uma sala com dez orientandos, torna-se difícil captar todos os conteúdos postos e aprofundá-los. A interpretação dos conteúdos expostos deve ser generalizada com o fim de não criar apenas um foco problemático, mas sim analisar todas as possibilidades destes, direcionando para a problemática da escolha ocupacional.

Outras questões que envolvem o processo de escolha profissional, podem ser abordadas aqui, como por exemplo, as identificações que o setting proporciona. Além das identificações que existem entre os orientandos, pode-se sugerir também que exista uma identificação do grupo com o orientador. Se ao final do processo de Orientação Profissional, a maioria do grupo optar por cursar Psicologia, há de se questionar se as escolhas foram realmente trabalhadas.

No processo transferencial, o orientador é posto, pelos orientandos em um lugar de sujeito suposto saber, aquele que talvez poderá dar respostas certas e prontas, mas isto aniquila a possibilidade do próprio orientando construir o seu saber.

Cabe aqui, levantar mais uma singularidade deste processo. É preciso que o orientador não se seduza por este lugar onde é colocado, não tomando para si, o que, genuinamente, é do outro. Contudo, não se pode ser radical tentando assumir uma neutralidade. Em alguns momentos é preciso que o orientador sustente tal posição para que o grupo possa trabalhar, para que a transferência não seja quebrada.

Faz-se então, de singular importância que um trabalho como este seja realizado vistos os possíveis prejuízos causados ao homem, ao ser tomada a sua escolha como dogmática e única. Defende-se a necessidade de participação de um processo que ampliará sua visão de mundo e de homem, sendo esta uma proposta de intervenção pioneira, a qual objetiva ultrapassar os valores quantitativos e momentâneos dos resultados dos testes vocacionais.

REFERÊNCIAS

BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação Vocacional; estratégia clínica. 7ª ed. São Paulo, Martins Fontes, 1987.

DEJOURS, A loucura do trabalho. São Paulo, Oboré, 1987.

FERRETTI, C. Uma Nova Proposta de Orientação Profissional. São Paulo, Cortez, 1988.