ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

Keyla Ferreira Mendes.

 

            Para que a evolução do mundo chegasse ao atual nível de inteligência e modernidade o planejamento sempre esteve presente na vida do homem, inclusive entre os primitivos, os quais utilizavam dessa faculdade mental para obter êxito na caça e na sobrevivência. A história da humanidade é um reflexo do pensamento do homem em relação ao tempo. Sendo assim, do ponto de vista do tempo estabelecido, o homem pensa no que fez, no que está fazendo e no que fará. Logo, o pensamento é também o planejamento, pois tudo que foi planejado foi de certa forma pensado.

            O planejamento é um sistema de prevenção de necessidades que possui vertentes, podendo ele ser: mentalizado, gravado ou oralizado; mediante o surgimento de urgências sobre a realidade. Além disso, ele passa por processos de validações, os quais, posteriormente, definirão sua eficiência, utilidade e os impactos para se alcançar um objetivo. Esse processo segue uma sequência lógica, atrelada as normas, aos métodos, as técnicas e as metas até finalizar com a intervenção do pensamento.

            O ato de planejar está presente em todas as áreas, e no âmbito educacional não seria diferente. No que se refere ao planejamento educacional sobre o ponto de vista humano, Arduini (1975), defende que a educação não é suficiente para que o homem tenha a garantia de seus projetos, pois além disso é necessário que se determine o padrão educacional na intenção de se compreender o rumo em que uma nação caminha. Ou seja, a educação por si só é um processo que não dadiva ao homem tudo o que ele almeja. Esse processo deve ser compreendido sobre o prisma da antropologia, visando a trajetória do homem no mundo em que ele está inserido. A propósito, uma das condições aspiradas pelo ser humano é a conquista da vida. Sendo assim, a compreensão sobre esta visão partirá sobre o conhecimento do homem a fim de auxiliá-lo a buscar melhores caminhos e alternativas, efetivando assim a sua liberdade consciente. A educação deve determinar e orientar as diretrizes, traçar melhores alternativas, metas e objetivos, para que assim possa ser, de fato, cumprido o real significado de previsão e planejamento no processo educacional. Após isso, fica evidente que o planejamento é o objeto substancial de todo sistema educativo.

            É imprescindível que haja um planejamento que mensure o processo educativo e produtivo do homem para que ele viva o presente, e, concomitante a isso, se lance para o futuro. Nesta premissa o planejamento se faz necessário para que o homem não se acomode e busque maneiras sábias para a solução de impasses, e assim encontre o sentido da vida para si. A educação não deve objetivar a aprendizagem exclusiva de conteúdos pré-estabelecidos por ideologias, tampouco por sistemas políticos, pois se assim for, esse modelo educativo impedirá que as decisões da vida sejam particulares e bloqueará a liberdade de evolução do homem. Planejar a educação é estabelecer visões acerca daquilo que é infinito, se refletido que a educação não é uma fórmula pronta e nem um processo mecânico. Nesse interim, a Filosofia é a orientadora do planejamento, pois é ela quem estimula o pensamento sobre o “que” e o “como fazer” em frente à realidade humana.      

            O planejamento educacional não é algo sem flexibilidade, de maneira oposta, é e deve ser democrático, pois tudo que evolui deve fazer parte da natureza humana. No entanto, mesmo não sendo um processo ditatorial, as metas são objetos que devem ser estabelecidos nele, ainda mais se pensado no complexo e caótico sistema educacional brasileiro, o qual sofre com diversas adversidades. Com isso, é de suma importância ter o conhecimento de que o processo educacional não pode ser desenvolvido externamente ao contexto escolar em que a escola se insere, ou seja, todo planejamento deve ser pautado a nível nacional, regional e comunitário, pois subentende-se que em todo lugar existem problemáticas diferentes, portanto um plano não pode ser desenvolvido ou comparado à outra realidade.  A escola deve se atentar ao próprio currículo, a fim de superar as suas dificuldades e pôr em prática os planos educacionais planejados para o bem da comunidade a qual a ela se dispõem a atender, sendo assim, esse processo educacional se configura além de um simples projeto, mas sim sobre o status de um processo gradativo que possibilita a interdependência, conforme afirma a UNESCO (1968).

            A escola é uma entidade que ao longo do tempo aperfeiçoou o seu discurso em relação às diretrizes defendidas nos papéis. Muito se ouve falar em “planejamento” e “planos”, no entanto, sabe-se que esses termos sofisticados, em relação a sua significância e ao seu valor, permanecem somente no discurso, na prática o funcionamento tem se mantido estático desde o modelo de escola do século XX. Nos papéis todos têm planejado, a direção, a orientação, a supervisão, os professores, e até mesmo os estudantes. Via de regra, é dito que o estudante tem o poder do planejamento participativo, porém é certo que essa teoria do planejamento não faz parte da vida dos aprendizes. É um erro achar que planejar se limita em reuniões do corpo docente, em que muitas vezes são criticadas justamente por não haver um planejamento e ser vista como um protocolo. Assim como diz Osvaldo Ferreira de Melo (1969), o planejamento tem sido confundido como o planejamento de atividades, que nada mais são do que técnicas utilizadas pela escola para justificar o que de fato deveria ser cumprido. Do ponto de vista do pragmatismo, é possível acreditar que na verdade nem mesmo a escola tem conhecimento do que de fato é o planejamento.     

            Além disso, é evidente que muitos profissionais da educação não simpatizam com a atividade que envolve o planejamento de suas atividades. É nítida a falta de motivação e disposição quando convocados para a realização de atividades extraclasse. A crença de que tudo é difícil de se resolver tem enfraquecido o senso de justiça, o qual muitas vezes acaba por não aflorar. Isso nos faz refletir sobre o discurso maquiado em relação à educação, pois quando um profissional conclui o curso que o habilita a ingressar no mercado, ele faz um juramento em que se compromete a desempenhar com honestidade e esmero o seu papel de profissional. Mas como o sistema é algo visivelmente corrompido, prevalece a ideia de que essas cerimonias são somente para o cumprimento burocrático, e não como algo leal que deva ser levado em consideração.              

            O planejamento entre professores e estudantes se faz necessário para que uma ação sólida de ensino e aprendizagem seja construída. Por isso, o planejamento do professor não deve ser algo privado, para que o ensino-aprendizagem seja eficaz é necessário que o planejamento seja direcionado ao estudante de maneira prioritária, assim as chances de reciprocidade são maiores, o que enriquece o currículo escolar de cada estudante. Logo, se faz necessário a sondagem, ou seja, é fundamental que o professor conheça o perfil do seu estudante para que a maneira como ele transmita o conteúdo seja eficiente e atrativa, pois em todas as classes existem estudantes com os mais variados níveis de conhecimento, e a forma como eles chegam à escola deve ser levada em consideração no processo educacional.

            O processo de avaliação é a última etapa do ensino-aprendizagem e tem um peso significativo maior para o estudante do que para a escola e para o professor. Para o professor, a avaliação é o modo pelo qual o feedback­ é dado, pois assim, na teoria, sabe-se se o aprendiz compreendeu ou não o que lhe foi repassado, e que, posteriormente, lhe será dado o conceito ou a nota a qual supostamente lhe corresponde sobre o prisma dos testes e das provas. Além disso, para o professor esse é o momento de saber quais são os entendimentos e as dificuldades dos aprendizes, e assim, o profissional pode mais uma vez interferir na problemática a fim de saná-la. Vale ressaltar que no processo de avaliação o docente tem a autonomia de decidir qual o melhor método para aplicá-la. Se a sondagem for levada em consideração de modo fiel, o docente saberá que o mesmo modelo de avaliação não é justo para todos os estudantes, os quais possuem níveis distintos. Sendo assim, no sistema de avaliação existem diversas possibilidades, as quais se “encaixam” perfeitamente no perfil de cada educando.   

 De maneira honesta é válido frisar que a avaliação aplicada para os estudantes significa para a escola alguns ruins ou bons números, baixos ou altos índices, que por vezes, são mais almejados do que o real entendimento daqueles que os fazem. Ou seja, por diversas vezes a escola tem se preocupado mais com a somatória dos rendimentos dados pelos estudantes na intenção de quanto maior o coeficiente, maiores são os destaques e premiações para a instituição, do que com o aprendizado. Essa é uma realidade que deve ser superada, pois o estudante é muito mais do que um estepe que ergue o nome da escola, aliás, essa comparação nem deve ser cogitada, mas no sistema atual é essa ideia que tem prevalecido.

Em todo caso, o educador possui ferramentas capazes de auxiliar no progresso do educando mais eficiente do que as fichas de presença e afins. O educador têm consigo a capacidade de incentivar o seu aprendiz chamando-o pelo nome, orientando-o, elogiando-o, acentuando suas habilidades e seus pontos positivos.

            Em um planejamento é crucial que a ideia de transformação da realidade seja um dos resultados mais almejados do plano, pois quando se fala em transformação, automaticamente somos levados a pensar em Política, e isso nos faz refletir sobre a condição na qual estamos inseridos, além da realidade global, uma vez que as dificuldades existem em todos os quatro cantos do planeta. O planejamento educacional não pode ser confundido com reuniões fúteis, tampouco com o preenchimento de quadrinhos, dado que se assim for feito a dignidade humana estará sendo colocada bem abaixo do segundo plano.

            A educação libertadora é aquela que inspira o despertar da consciência humana, convertendo o aprendiz em um ser capaz de raciocinar sobre a sua realidade e capaz de compreender as facetas do sistema que o oprime.

            Um planejamento visa a participação coletiva para que o bem estar de todos seja alcançado. Esse passo para a mudança não deve ser dado somente por aqueles que aparentam compreender melhor do assunto. Para isso existe a educação, para que todos tenham a oportunidade de raciocinar por igual e assim se engajar nos assuntos que trarão benefícios para a sociedade. É necessário que nesse processo todos trabalhem juntos, mas que ao mesmo tempo todos tenham consciência e conhecimento sobre si, bem como disposição para compreender os seus iguais biologicamente e diferentes na forma de pensar, e é isso que nos faz únicos. O sistema nos fez acreditar que é possível alcançarmos patamares importantes a partir do esforço desempenhado por cada um; a isso chamamos “meritocracia”, porém, sabemos que se as condições de oportunidades não são dadas de forma igual a todos, o menos favorecido levará mais tempo para conquistar o que almeja. Por fim, já que crescemos a cada dia em um sistema que qualifica e classifica as pessoas em boas ou ruins, na esperança de mudança e superação desse status desigual se faz necessário auxiliar o nosso semelhante para que ele consiga compreender que o planejamento e todas as suas correntes devem ser executadas não apenas pelos especialistas, mas por todos que se preocupam e se solidarizam com a bem estar social. Auxiliar não é o mesmo que planejar pelo outro, pois isso se configura como comodismo. Auxiliar é proporcional que o outro encontre o melhor caminho para fazer as suas próprias decisões.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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WHITEAD, A. N. Os fins da educação. Buenos Aires, ED. Paidos, 2.003