A nossa razão está impregnada do conceito existente em nossa bandeira de que ordem é progresso, ou seja, de que sem ordem não há progresso. Será que esse conceito ainda tem validade universal? Se não, qual é seu impacto no meio empresarial e, mais particularmente, no modelo de gestão das construtoras? O caos, na tradição filosófica, cientifica e administrativa, sempre foi considerado intrinsecamente como algo ruim e, portanto, devia ser combatido em nome do progresso. Esse lema, que teve seu auge durante meados do século passado, burocratizou as organizações e padronizou produtos e processos, possibilitando naquele contexto um incrível progresso material. Contudo, no inicio da década de 1970 tal modelo começou a entrar em crise.

De um lado, a sociedade começou a questioná-lo, exigindo respeito á sua diversidade racial e cultural. Por outro, o ambiente político e econômico passou a apresentar grau crescente de complexidade, tornando-se cada vez mais instável, dinâmico e, portanto, imprevisível. Como, então, investir em longo prazo em linhas de produção padronizadas de alta escala em alguns setores sujeitos a esse caos? Diante desse contexto, era evidente o risco empresarial para garantir retorno do capital investido em instalações de produção em massa. As empresas tinham duas alternativas, ou sucumbiam ao caos, ou tentariam se adaptar a ele. A partir da década de 1980 assistimos a inúmeras tentativas de adaptação das clássicas teorias de administração para tornar a empresa mais flexível, mais ágil, sem, no entanto, mudar alguns de seus paradigmas. Seria como ensinar um elefante a bailar. Alguns “adestradores” até Vêm prescrevendo uma dieta para a estrutura paquidérmica. “enxugando” os quadros de pessoal e cortando custos para se adaptar á dança do mercado, mas tal estratégia tem um grave erro: considera o ser humano como “descartável” quando, na verdade, num ambiente caótico ele deve ser o foco e o centro das atenções. Na construção, devido ás características mais caóticas do seu tipo de produção, mais importante ainda é o papel das pessoas para garantir os resultados.

De fato, de nada adianta preparar a hierarquia para dar ordens e controlar sua execução, pois o improviso subverte o planejamento. Se o trabalhador, o mestre ou o engenheiro, cada um dentro do seu escopo de trabalho, não estiver preparado para tomar decisão no momento e local certos para enfrentar os “pepinos” do dia a dia, o resultado final estará prejudicado. Nós já estamos acostumados a ouvir sobre a operação “tartaruga”, utilizada em muitos setores. Trata-se simplesmente de seguir as normas estabelecidas pela hierarquia da empresa para atravancar o trabalho. A mesma estratégia vemos numa obra quando o trabalhador faz “corpo mole” para “deixar as coisas rolarem”.

Nesse momento você pode ficar confuso e pensar: então a hierarquia perde sua função? Não, não é isso. Primeiro, ao admitir que o caos está presente ela deve entender que seu papel muda. A sua atenção deve estar muito mais voltada para as pessoas e para as metas de resultado do que para o trabalho a ser executado. Deste modo deve criar um clima de confiança mútua e educar, motivar e informar as pessoas para que possam corrigir o rumo quando os imprevistos ocorrerem. Há uma máxima que diz “Quando nada é certo, tudo é possível”. Diante da impossibilidade de colocar ordem no caos, devemos vê-lo como fonte de criatividade, participação, motivação e aprendizagem. No lugar de inimigo torna-se uma fonte de realização profissional, de exploração de oportunidades e, portanto, de progresso. 

 

Nádia Januário

Bacharel Administração com Habilitação em Marketing

Especialista em Gestão de pessoas