OPUS
Por Héctor Enrique Giana | 23/10/2012 | PoesiasOPUS SINFÔNICO No. 1
em Amor Sustenido Maior
(Rondó - Adagio sostenuto molto apasionato - Allegro cantabile - Vivace)
Regente: Minha Musa
Solista: Eu (Pena d´amore)
Primeiro movimento
Rondó
Como é possível expressar em palavras
a música do amor, a música do espírito,
se toda expressão é vã, a letra, o conteúdo,
e tudo o que possa macular o sentimento
que brota do peito de quem ama, ...do peito...
De que forma se diz o que se sente
a quem não escuta com físicos ouvidos,
a quem não sabe o que lhe dizem
por haver transcendido a material
essência dos sentidos, ...pura essência...
Por que é que a nota, a musical nota,
que surge de dócil e tangível instrumento,
não é dada a aparecer da vibração da alma,
ondulando em invisíveis pentagramas,
como o verso que te escrevo, ...como o verso...
E flutuando pelo espaço do universo
onde tudo se confunde, se encontra e se amalgama,
onde a física vida não importa, o poema sutil
que meu espírito redige, vai célere ao encalço teu
para permanecer contigo, eternamente, para sempre.
Como é possível, dizia, expressar em palavras
a música do amor, a música do espírito,
para que saibas que te lembro e que te quero,
e que um dia o meu amor te alcançará de novo,
alvo imaculado, pureza virginal, espírito de luz.
Segundo movimento
Adagio sostenuto molto apasionato
Te amei, muito te amei antes até da aurora da vida,
antes que a carne fosse carne e o espírito flutuante
buscasse a matéria para sentir o pulsar do sangue,
que acelerado em remoinho de infértil existência
procurava um coração para expressar-se logo.
Como Drummond, desesperado, chorava tua falta.
Hoje não mais a choro, não há falta em tua ausência.
A tua ausência é um estar comigo, para dentro,
e aprendi no sofrimento, que essa ausência partilhada,
ninguém rouba mais de mim.
Lembras, por acaso, dos três amores que te dei?
Aqueles que continham em si, inteiro o universo?
Claro que te lembras, como irias esquecê-los?
Agora meus poemas, expressão do amor sem culpas,
partirão pelo mundo louvando tua essência pura.
Esse corpo finito que nos nasce envelhecido,
é da alma a moradia, é do espírito o crisol.
Esse corpo que acostuma nossos olhos,
nossa mão acaricia, toque místico, amoroso,
esse corpo, de meus olhos, de meus toques, já se foi.
Juntos caminhando pela estrada, nevoa fina nos feriu.
Lado a lado projetávamos o presente, o futuro, e vós
à minha direita caminhavas, sorridente, sem presa...
Mas a nevoa nos cobriu e eu, sentindo a presença tua,
nunca mais te vi com meus olhos cansados, nunca mais.
Fecho os olhos para não mais ver nada, para que?
Ao espelho, te refletes; eu mesmo sou você
imitando-te, imitando-me, confluindo em almas,
musicando em versos, almejando reencontros próximos,
esperando a eternidade transformar-se em lágrimas.
É verdade que estas dentro, amalgamada em meu espírito.
Minha mão sente a tua, meu peito pulsa junto ao teu,
mas meus olhos não te vêm, que infortúnio, que desdita.
Sei que os olhos d´alma não precisam das pupilas, porém,
que saudades do teu jeito, que saudades, que saudades...
Terceiro movimento
Allegro cantabile
Senti tua presença em noites mal dormidas,
quando viestes ao encalço de meus sonhos
sonhados sem presa, buscando a luz que um dia
iluminara meu sendero, aquele mais tarde compartido
por tua exótica figura, mescla de anjo e de menina.
O ar de alegre cumplicidade que trazias desvelou o sopor
que meu corpo sentia; e acordei, abri meus olhos,
sacudi o resto da letárgica modorra que acompanha o sono,
atentei para Handel e seu Messias tocando suave
na calada da noite escura, e te chamei, como antes, como sempre.
Sei que me ouviste porque o mundo parou para escutar-me,
para ouvir a voz que jazia postergada pela ausência,
para esquadrinhar a sombra de teu espírito imortal,
para sentir a fragrância que acompanha tua alma.
Então falaste a língua dos anjos, e eu te ouvi!
Quarto movimento
Vivace
(INACABADO!)