Girlene Santos de Souza
Profa. Adjunto 3
CCAAB/UFRB

INTRODUÇÃO

A seringueira (Hevea brasiliensis) é uma espécie arbórea pertencente à família Euphorbiaceae de grande importância econômica para o Brasil, por ser a principal produtora de borracha em escala comercial. Apesar de sua importância pela produção de borracha natural, é pouco estudada, especialmente em aspectos básicos como a ontogênese reprodutiva e isto deve-se, em parte, á dificuldade em se trabalhar com tal espécie arbórea. Porte alto, longos períodos de imaturidade e ciclo biológico, baixa produção de frutos, sementes recalcitrantes, são alguns dos fatores limitantes.
No início do século o Brasil era o maior responsável por 98% da produção mundial de borracha natural, quando este era o segundo produto nacional mais exportado, mas, no início dos anos 90 estava produzindo menos de 1% do total mundial e importado cerca de 75% do seu consumo interno (Bernardes et al., 1990). Em 1999, mais de 68% da produção mundial foi originária da Tailândia, Indonésia e Málasia, que contribuíram, separadamente, com 32%25% e 11% respectivamente, da produção mundial. O Brasil embora seja o berço das espécies do gênero Hevea, contribui, no ano de 2000, com apenas 1% da produção mundial de 6.629 mil toneladas e consumiu 3% de um total de 7.361 mil toneladas da demanda mundial (International Rubber Study Group, 2001).
Um dos principais empecilhos do melhoramento genético de seringueira é a duração do tempo entre gerações, devido ao seu hábito de florescimento. Experimentos descritos na literatura recente (Weigwl & Nilsson, 1995), indicam uma grande conservação dos mecanismos moleculares implicados no florescimento. Entretanto ainda há uma carência de estudos básicos na área de biologia reprodutiva, que permitam um melhor conhecimento de aspectos básicos da biologia da planta.
A seringueira é uma planta monóica, ou seja, apresenta flores dos dois sexos no mesmo indivíduo, dispostas em inflorescência do tipo panícula (Wycherley, 1992). Cada inflorescência possui, em média, seis flores femininas. A proporção de flores masculinas para femininas é, em geral, 60 para 1 (Gonçalves, 1986). As flores, tanto masculinas como femininas, apresentam pequenas diferenças clonais quanto à forma, tamanho e coloração, sendo, entretanto, bastante semelhantes. Têm de 3,5 a 8,0 mm de comprimento, coloração variando entre diferentes tonalidades de amarelo, extremidade afilada e são incompletas devido à ausência de corola (Wycherley, 1992). A flor feminina é essencialmente constituída por um ovário súpero e normalmente formada por três carpelos soldados e um estigma séssil. Cada carpelo delimita uma loja que, como regra, contém um único óvulo anátropo (Gonçalves et al., 1983 e 1989; Wycherley, 1992). Segundo Bouychou (1963), entre o ovário e o cálice pode haver, sobre o receptáculo, uma coroa de estaminódios, que são estames abortados.
A flor masculina possui, no geral, dez estames sésseis, com anteras bilobadas e tetraloculadas, diretamente inseridos no andróforo (órgão em forma de coluna que serve de suporte para os estames), dispostos em dois verticilos de cinco estames (Gonçalves, 1989).
Apesar dos autores citados acima descreverem as flores como unissexuais evidências de hermafroditismo têm sido obtidas ao longo dos anos. Warmke (1950), citado por Cuco (1997), estudou as flores supostamente femininas de uma árvore de H. brasiliensis e observou que 50% delas eram bissexuais, com um número de um a cinco pequenos e funcionais estames, possuindo grãos de pólen aparentemente normais.
Dada a falta de informações sobre o desenvolvimento reprodutivo em Hevea brasiliensis e às dificuldades observadas no processo do desenvolvimento floral, o objetivo do presente trabalho foi caracterizar a ontogênese floral em Hevea brasiliensis, espécie de grande importância na econômica brasileira e mundial, e fornecer informações básicas para suprir as necessidades acadêmicas e, conseqüentemente tecnológicas e industriais.