ÔNIBUS “ILEGAIS”, VANS “LEGAIS”

Por Marcelo Diniz | 17/04/2013 | Política

Há alguns anos atrás, líamos nos jornais sobre a “Máfia dos Ônibus”. A Fetranspor se organizou, fez acordos com o poder público e foram escolhidos os itinerários que mais interessavam: muitas linhas na Zona Sul, falta de linhas em alguns pontos da Zona Oeste. Em termos da segurança prometida, não adiantou muita coisa, como temos visto nas reportagens mais recentes, principalmente depois que um veículo despencou de um viaduto, mas prometeram também a modernização da frota e saíram das reuniões devidamente carimbados: legal; ilegais são os piratas.

As linhas que passam pela Zona Sul chegam a trafegar com meia dúzia de três ou quatro passageiros, fechando uma conta de produtividade e rentabilidade que me esforço para entender, mas as minhas noções de aritmética não são suficientes. E, no esquema feito para os  bairros mais carentes, algumas localidades são sacrificadas.

E o que acontece quando a oferta não atinge a demanda? Surgem os camelôs, vendendo quinquilharias adquiridas no Paraguai, porque são mais baratas, ou copiando os artigos de griffe, porque são inacessíveis para a maioria, apesar de desejados.

As vans são os camelôs do transporte público. São menores e mais adequadas ao trânsito do que os ônibus de poucos passageiros e atendem a população que não é bem servida por esses últimos. Porém, grande parte delas não conseguiu o seu passaporte para a legalidade. E o que acontece quando o mercado é ilegal? Os que já estão acostumados a essa situação se interessam: meliantes, contraventores, milícias. E, então, vão se embora todas as regras.

Além deste porém, todas as vans são objeto de preconceito por parte dos motoristas profissionais e particulares. Simples: há pontos de ônibus, mas não há pontos de vans. Então, para pegar ou deixar seus passageiros, elas promovem uma grande bagunça no trânsito, fechando Deus e o mundo.

Até que, há poucos dias atrás, uma turista foi violentada dentro de uma van. Pronto: proibir é muito mais fácil do que consertar. Fecharam as portas da Zona Sul para todas as vans “legais” e “ilegais”. Sacrificaram quem precisa de vans onde os ônibus não passam regularmente e deram uma grande satisfação à população e ao mercado turístico: “como as vans têm órgãos sexuais, ficam proibidas de trafegar onde os turistas passeiam”.

Amanhã, se houver um estupro dentro de um taxi ou de um carro particular, vão fechar as ruas para eles também? E se for dentro de um ônibus, como aconteceu na Índia?

__ Ah, não! Esses são “legais”.