Djalmira de Sá Almeida[1]

Corruptos, corruptores e corrupção: o que são o que faz e onde moram?

Resumo

      A corrupção, ultimamente, vem sendo atribuída somente aos políticos partidários e representantes do Poder Público: Câmaras, Assembleias, Senado e Congresso Nacional. As lições de filosofia, nos aspectos de moral e ética ensinam exatamente o contrário. A família, a escola e as organizações possuem profissionais corruptos e também corruptores responsáveis pela existência da corrupção.

Palavras-chave: Corrupção - Moral – Ética – Política.

Introdução

                   A falta de moral e ações não éticas na sociedade são fatores que contribuem para alimentar a corrupção no mundo. È  comum atribuir-se a culpa aos outros, e comum também é atribuir a existência da corrupção aos representantes políticos, considerando-se as ações não éticas aos que chegam às câmaras e ao senado, como se a falta de moral começasse de cima para baixo. A minha tese, portanto, é contrária a esta posição. Acredito que é na família onde, a  princípio, se manifesta a corrupção, uma vez que é com os pais e responsáveis que começa a questão da preparação da criança. É ali onde se definem as colunas do caráter do homem e mulher de amanhã. Embora os pais joguem essa responsabilidade para a escola e esta empurre para o grupo social mais próximo, igreja, amigos, clube e sociedade em geral; sabe-se que essa corrupção ideológica é própria do ser humano, pois os outros seres irracionais não se corrompem nem admitem corruptores.

 

A justiça não tem existência por si própria, mas sempre se encontra nas relações recíprocas, em qualquer tempo e lugar em que exista um pacto de não produzir nem sofrer dano. Entre os animais que não puderam fazer pactos para não provocar nem sofrer danos, não existe justo nem injusto; e o mesmo sucede entre povos que não puderam ou não quiseram concluir pactos para não prejudicar nem ser prejudicados. (Epícuro)

 

                               Sendo assim, considero que o animal racional é o único ser da natureza capaz de gerar, gerir e administrar a corrupção, desde atos corriqueiros à educação formal, que busca fundamentar-se nos valores universais da pessoa. E que esse mesmo ser até é capaz de estruturar e organizar o estilo de vida na contramão da seriedade, que se baseia no descompromisso e desfacelamento social, que desmoraliza e compactua com a desonestidade, caracterizando casos de corrupção na família que repercutiram em toda a sociedade.

      

  1. 1.     Conceitos

            O Dicionário Brasileiro Globo (2009) traz acepções várias para  corrupção, corrupto e corruptor, palavras da Língua Portuguesa, de origem latina, que estão no cotidiano dos que mais deveriam primar pela ética e moral, além de dar mostras de bom comportamento na sociedade; pais, educadores, professores, líderes, representantes das normas, executores e julgadores das leis do convívio coletivo na sociedade.

            Do Latim corruptione, o substantivo feminino corrupção significa o ato de corromper, decomposição, putrefação, desmoralização, depravação, devassidão e sedução.  Questiona-se: a corrupção é ato só de político?

           Do latim corruptus, o adjetivo corrupto se refere àquele que sofreu corrupção, corrompido, deteriorado, adulterado, pervertido, desmoralizado, devasso, errado, linguagem corrupta. Em relação a essa adulteração, equivale apenas à ação sofrida só pelos políticos?

           Do latim corruptore, adjetivo /substantivo, aquele que corrompe, o alterador, deturpador, subornador. Essa atitude é utilizada somente por políticos?

           Os grupos sociais família, escola, igreja, clube, município, universidade, estado e nação colocaram na “berlinda” os termos desse campo semântico e esqueceram que as personagens dessa ação de corromper estão no meio de nós, na família, na escola, no campo, na rua ou na fazenda, sem desconfiar  que estamos sujeitos também a compactuar por comodidade com a formação do aprendiz de corrupção.

           Será que todos os políticos que nós escolhemos são corruptos? Não tem ninguém com moral para nos representar? Quem os corrompeu e os desmoralizou?  Será que não conhecemos algum corruptor nos grupos sociais? Não sabemos de alguém na família, na escola, na instituição e entidades de classe, de empresas, de organizações públicas e privadas que gerenciam a ação de corruptores?

 

  1. 2.         Corrupção X Moral e Ética

 

 Entendendo ‘Ética como um conjunto de crenças e valores que servem como sustentação do comportamento que se adota ao longo da vida, na busca dos objetivos que ela persegue'. (FIPECAFI, 1997, p. 22), e considerando também que a Ética profissional é o alicerce para o exercício de uma cidadania plena e digna, pode-se relacionar  a falta desse cumprimento da tarefa de cidadão seja um sinal grave de corrupção e primeiro passo para faltar com a ética prejudicando o direito dos outros e comprometendo a moral social.

             Ao tratar de corrupção e sua relação com a moral social e a ética conhecida, deveríamos associar que alguém em algum grupo social não está cumprindo sua tarefa de cidadão: pai,mãe, filho, filha, professor, professora, diretor, diretora e os administradores de organizações públicas e privadas, bem como todos os profisisonais. Um profissional  percebe, dentro de si mesmo o que deverá fazer para que a tarefa se desempenhe da melhor maneira possível, e se não consegue perceber, é porque ainda não está apto para ser um profissional. (SÁ, 2001, p.177).

Desta forma, defendo a tese de que atribuir a existência da corrupção aos representantes políticos torna-se uma posição muito cômoda. È o mesmo que retirar o lixo de casa e jogar no muro do vizinho, exigindo ainda que esse se responsabilize pelo que você consumiu. A sociedade prende e quer matar aquele que rouba uma galinha, porém aplaude os que roubam a nação.Todos jogam essa responsabilidade que é de todos para os que entram para a vida pública, em especial as lideranças partidárias. Entretanto, ninguém associa essa culpa aos corruptores que existem nas famílias, nas organizações públicas e privadas. Também não se relaciona como suborno, depravação e desmoralização as atitudes imorais praticadas por militares e civis nem se referem às sementes podres que germinam no seio das famílias, nas escolas, nas direções das instituições educativas e de assistência, muito menos cogitam que em casa e em sala de aula tem sempre em desenvolvimento ideias unilaterais e mentes brilhantes capazes de fazer mudanças para bem ou para mal. (NIETZSCHE).

          A educação fundamentada na ética e valores das pessoas não pode deixar-se levar pelas facilidades e conformação com indícios de injustiça, discriminação ou preconceito, muito menos pelo interesse em adquirir benefícios e favorecimentos fisiológicos.

           Quando um filho mente e explora os pais, já estão em evidência atos corruptos os quais se robustecem se os pais não reprimem esse indício corruptor. Na escola, quando um aluno “cola” na prova ou obriga os colegas a introduzi-lo em um grupo do qual não participam, também aí se caracterizam ações corruptas.

            Se um professor premia alunos incompetentes com notas altas ou vota em colega incompetente apenas por interesse por cargo, função ou benefício, este também está colaborando com o crescimento da corrupção.

           Assim, várias instituições educativas às quais a sociedade confia a preparação dos seus cidadãos para agir com ética, lealdade e justiça, acabam muitas vezes, no seu dia-a-dia, utilizando-se de atitudes ilícitas que vão costurando o tapete para seus representantes desfilarem na passarela da corrupção.

                              

Conclusão

           Conclui-se que o tema da corrupção tem sido associado às lideranças das câmaras legislativas, ao executivo, ao judiciário e ao senado, por considerar que as ações partem deles, mas todos têm família, todos foram à escola e todos ouviram algum segmento ou pertencem a alguma oligarquia municipal ou estadual até chegar no cimo da hierarquia política. Por isso, não entendo porque ainda dizem que a corrupção começa de cima para baixo. Por isso, sou contrária a essa tese. Não acredito ser possível construir o edifício a partir do teto, nem que se plante a semente começando pelo topo da árvore nem mesmo pelo tronco e, sim pela base, pela célula mater da sociedade: a família. Mas não pensem que considero a família falida ou quero que ela se dissolva, muito pelo contrário. Eduque seu filho para a cidadania com respeito e igualdade. Ensine seu aluno a ter ideias próprias e a ser ele mesmo. Tenha respeito pelos seus dirigentes e colaboradores e não os use para solidificar sua campanha em seu próprio benefício.

        Enquanto houver filho (a) desobediente, aluno (a) indisciplinado (a), pai e mãe mau-caráter, professor (a) desleal, diretor (a) não ético, comerciantes e empresários desonestos, haverá lugar para se alojar a corrupção. O estímulo para boas e más ações começam na família, em nome da fama e do sucesso, na arte de “ser esperta”, iniciação que pode ser instigada pelo pai ou mãe, parentes e responsáveis, por professores e colegas no treinamento do ABC de “trapacear o outro”, “pedir e dar vantagem” e “dar-se bem”.

         Na escola também pode acontecer e o que é pior, geralmente acontece, do mesmo modo que há educadores e professores que educam e ensinam  para a cidadania, há os que incentivam o estágio com as práticas de fingir que ensina e fazer de conta que aprende, ao mesmo tempo em que se clareia o caminho de quem já tem luz e se lança às trevas os que ainda não tiveram acesso à clareza, ou seja, escolhe-se apenas os que a natureza já dotou de vantagens. Depois de ser aprovado na banca do TCC de corruptor, agora basta chegar ao topo da liderança para representar com os eleitores que optaram por votar com os que garantem a consolidação dos benefícios da corrupção. Sendo assim, toda a rede corruptora nasce de baixo para cima, do grupo social familiar, aperfeiçoa-se na escola, gradua-se nos municípios e estados e pós-gradua-se no topo da vida política que apenas representa a comodidade, o conformismo e aceitação do erro, sem compromisso com o cidadão, sem volta, sem remédio e sem recuperação, isto porque a raiz desse câncer está na base.

                               Deste modo, pais, filhos, educadores, alunos, professores, aprendizes e filósofos da educação, faz-se necessária a todos uma reflexão sobre os conceitos da corrupção e suas formas, bem como a discussão sobre quem são os corruptores, onde estão os corruptos, quem os estimulam. E como todo político tem pai ou mãe, procurem encontrar se é em sua família ou na sua escola onde mora a corrupção, quando achar, irá repensar a educação que temos para conseguir melhorar a sociedade que temos e alcançar o mundo que queremos.

 

Referências Bibliográficas

1. Dicionário Brasileiro Globo (2009).

2. FIPECAFI, 1997, p. 22.

3. SÁ,   A ética na contabilidade.  2001, p.177).

4. EPICURO. A filosofia e seus objetivos.



[1] Professora de Português e Inglês no IFPA - Campus de Itaituba –Pará. Setembro de  2011.