O Congresso Inova FEI de 2017 propôs uma pergunta intrigante. Onde e como estaremos em 2050 em relação à cidade e o campo, mais precisamente como o campo estará em termos de inovação tecnológica e como se relacionará com os centros urbanos? Trinta e dois anos é um tempo relativamente curto, mas a forma rápida como a tecnologia evolui atualmente, muita coisa poderá acontecer nesse período.

Há um consenso de que a maioria da população mundial estará residindo nas cidades, pois é uma realidade já presente em países economicamente mais desenvolvidos e é só acompanhar a evolução do êxodo rural nos últimos cinquenta anos no Brasil para se ter uma ideia de como a distribuição demográfica se alterou.

Falou-se muito em veículos autônomos para o transporte terrestre de pessoas e mercadorias, como também o transporte aéreo que muito em breve prescindirá do ser humano para pilotar aeronaves, reduzindo os riscos de acidentes. A internet das coisas que envolve a aplicação da tecnologia da informação no cotidiano das pessoas, já se torna uma realidade hoje e já é possível inferir o que poderá mudar até lá.

Como serão as fábricas? A previsão de Assimov de que teremos no futuro as fábricas com um homem e um cão. Sendo o homem para alimentar o cão e o cão para evitar que o homem se aproxime das máquinas. 2050 é ainda muito cedo para isso se concretizar, mas a Inteligência artificial cognitiva pode ser realidade no futuro considerando a evolução rápida da tecnologia eletrônica e nanotecnologia. Talvez no ano 2100 os robôs estarão suficientemente inteligentes para conduzir fábricas, fazendas, minas, viagens cósmicas, cirurgias de alto risco, exploração de minas e mares em alta profundidade etc.

Alguém lembrou que a humanidade se desgasta a procura de soluções para um determinado problema e a solução vem por um caminho totalmente inesperado. Por exemplo: o enorme problema das grandes cidades no início do século XX era o que fazer com as fezes dos animais nas ruas, considerando que todo o transporte era feito por veículos com tração animal? Além disso, dezenas de animais morriam nas ruas durante o dia e levavam-se dias para retirá-los, gerando um sério problema de higiene e saúde pública. O problema foi resolvido por uma via totalmente inovadora e rápida com o advento dos motores a combustão utilizados em ônibus, caminhões e veículos particulares.  Mas essa solução gerou outro problema, que é a poluição atmosférica que ainda não se sabe como será resolvida de forma definitiva. Há quem diga que os motores elétricos são muito caros e consomem muita energia para resolver esse problema. Mas há um consenso que em 2050 o carro não terá o protagonismo que tem hoje.

E as universidades terão o mesmo formato das atuais ou o ensino terá mudado tanto que em 2050 será difícil entender como se funcionava no tempo presente. Mas já o consenso de que o conhecimento estará totalmente nas nuvens e não mais exclusivamente nas universidades ou escolas isoladas de ensino superior. O ensino poderá ser predominantemente à distância e o conhecimento disponível para a maioria da população, o que de certa forma já está ocorrendo atualmente com o Google e outros sites de busca.

A saúde mudará tanto que as pessoas poderão ser diagnosticadas sem sair de casa utilizando-se mecanismos de varredura do corpo humano à distância, permitindo-se a identificação de tumores, mau funcionamento de órgãos, infecções etc. As cirurgias poderão ser realizadas totalmente por robôs, dispensando-se grandes equipes de profissionais médicos e auxiliares. Será algo semelhante como a introdução do sistema digital e sua substituição ao sistema analógico. Os medicamentos serão inteligentes e sem efeitos colaterais, agindo diretamente no local do problema.  Além disso, a tecnologia permitirá a produção de alimentos mais saudáveis reduzindo os riscos de doenças comuns atualmente. A tecnologia tornará uma realidade a produção de órgãos através da genética, tornando possível transplantes sem riscos de rejeição e sem depender de doadores.

E a política? Continuará funcionando da mesma forma ou as decisões serão tomadas através de plebiscitos em tempo real, tornando desnecessárias as representações parlamentares?  Assim, sem intermediários, a sociedade poderá ter um papel mais participativo nas decisões de interesse público, eliminando-se a corrupção ou decisões em função de interesses corporativos.

A sustentabilidade será algo sério em 2050, pois as grandes mudanças climáticas exigirão de governantes um cuidado maior com os recursos naturais. A governança mundial como a ONU poderá ter um papel mais relevante e com maior autoridade, evitando que decisões nacionais tenham impacto negativo no planeta. Enfim, o nacionalismo xenófobo poderá estar sepultado definitivamente, prevalecendo as decisões que levem em conta que a terra é a nossa pátria e não uma divisão geográfica construída historicamente.