Onde estão sendo formados os pais do hoje?

Por sebastião maciel costa | 08/04/2019 | Educação

Onde estão sendo formados os pais do hoje?

Oásis: cais de partida, porto de chegada.

“Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e, aproximando-se de um velho, perguntou-lhe:

– Que tipo de pessoa vive neste lugar ?

– Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? – perguntou, por sua vez, o ancião.

– Oh, um grupo de egoístas e malvados – replicou o rapaz

– estou satisfeito de haver saído de lá.

– A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui – replicou o velho. No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:

– Que tipo de pessoa vive por aqui? O velho respondeu com a mesma pergunta:

– Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?

O rapaz respondeu:

– Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.

– O mesmo encontrará por aqui – respondeu o ancião.

Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:

– Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?

Ao que o velho respondeu:

– Cada um carrega no seu coração o ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.

Nisso consiste a teoria de que cada aluno traz em si, o ambiente em que vive. Na escola, ele forja o seu tempo de compreensão, absorção e aprendizagem, consciência e maturação.

Se na escalada da vida, todas as escadas são galgadas seguramente, degrau por degrau, o processo e leitura, apreensão e compreensão do mundo e dos seus fatos requer igualmente, planejamento, cautela, pertinácia, renúncia, coerência e, acima de tudo, determinação. Ocorre que a nossa geração tem se descuidado desse ritmo, quando o assunto é educar a criança para que venha a ser seguramente um ser pensante e responsável. Para documentar esse raciocínio, voltemos aos princípios da formação natural que ocorre no seio da família: a orientação, ajuda; a disciplina, orienta; o rigor, pode vir a ter efeitos contrários; o conselho, aplaca os ânimos, ... o exemplo, arrasta.

Onde existe uma escola para formação de pais? Onde existe uma academia de bons costumes que possam ser copiados, de forma, espontânea a fim de que a criança, o aprendiz, a pessoa, mesmo sem se reconhecer sob um comando, queira aprender para o seu próprio benefício, crescimento e bem-estar.

Ora, se há escolas para formar leitores, escritores, pensadores, amadores, reconhece-se que há uma preocupação com a melhoria de qualidade de todos e quaisquer agentes da realidade e do movimento natural do homem em busca da qualificação e da competência. Se há espaços formadores de pintores, atores, pastores, criadores, desenhistas, pianistas e flautistas... é possível que nem todos alcancem a excelência. É preciso que se reconheça que, nem sempre o fracasso é sinônimo de derrota. Uma pessoa que não passa em um concurso não implica derrota; pode ser utilizada como impulso para novos voos. A reprovação em uma série escolar, não precisa e nem deve ser encarada, necessariamente como um fracasso, mas como motivação para novos projetos.

Onde se aprende isso? Na Escola, na vida, em casa, na rua..

Na rua, expressão pesada para os nossos dias. Criança de rua, menino de rua, ninguém de rua, o que vem da rua, o que vive na, o que se forma na rua, o que morre na rua. Há de se reconhecer que tanto a escola, como a rua são caminhos de vida, caminhos de formação, escolas de muitos. Enquanto caminho de formação, as ruas têm suas regras, suas leis, seus manuais. Se são regras seguras, não se sabe; mas funcionam da forma que convém aos que as ditam.

Se são justas, não vem ao caso; se estão em algum livro ou manual, pouco importa: mas são assimiladas, compreendidas e executadas pelo preço da conveniência que quem as institui. Na rua, como na escola, se aprende regras para serem cumpridas, é o código do conhecimento aprendido pelo amor, na escola; ou pela dor na rua. Ou não seria necessariamente nessa ordem? É possível que lições duras ou até mesmo cruéis sejam ensinadas e aprendidas na escola, enquanto com firmeza, prática e objetividade lições de vida sejam aprendidas na rua.

Como em um jogo de ensina-aprende, esses espaços formam, informam, transformam ou deformam pessoas, mentes, ideais e projetam para novos horizontes homens a quem a história atribuirá papeis honrosos, meritórios, dignos ou indignos da espécie humana.

Uma pergunta insiste em desafiar um raciocínio: onde estão as escolas de formação para pais? Onde estão as regras do bom aprender, do bom fazer, do bom formar para que uma pessoa se diga apta para gerar, criar, educar, formar, moldar, forjar novos espécimes de sua espécie?  Na experiência acumulada pela criança, em um lar onde os pais são leigos na tutela dos melhores meios de “educar”, tomados pelo entusiasmo da vida moderna, fundamentada em uma tecnologia onde os valores humanos são arremedos da vida real, qual o crime desses “brotheres” na formação de novos homens enfrentarão a vida fora das telinhas?

            Considere-se que há uma infinidade de modelos que podem ser seguidos livremente como um portfólio das aulas dadas pelos pais, pelos vizinhos, pela sociedade. No entanto, nesse aspecto, nós falhamos, miseravelmente. Não compreendemos o que olhamos, não absorvemos o que vemos, não sabemos administrar o que sentimos. Então, vem o desafio: Como formar leitores que não aprenderam a ler?  Com o passar dos tempos, enquanto prevalece a visão de que avanço corresponde a melhoria de qualidade de vida, permanecem os mitos a respeito da leitura. Estaria a leitura a serviço do letramento, ou o letramento que nos coloca a da de ia mais distantes da compreensão dos fatos que povoam o nosso sentimento ode evolução, dificultando, cada vez mais, a interação entre os agentes de uma sociedade tecnologicamente evoluída e, inversamente incapaz de elucidar um fato, pela falta de coerência entre os valores considerados ideais para o crescimento humano e o que, de fato, se vive, em nome do “ o mundo mudou, os tempos são outros... o homem é o mesmo, o homem moderno é outro. Voltando ao oásis, 

Cada um carrega no seu coração o ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.

Se o homem moderno mudou, a sua forma de ver, ler, ouvir, sentir e expressar-se também sofreu mudanças. De fato, quando se questionou: onde existem escolas de formação de pais, velada estava a cobrança de ambientes salutares para o crescimento humano, familiar, social e intelectual para o ser em formação que, definitivamente, chegará na escola preparado para ler, absorver e transformar conteúdos em conhecimentos numa espiral de evolução capaz de manter o aprendiz com raízes nos valores que lhes foram passados e com asas para enfrentar seus próprios desafios em voos cada vez mais dignificantes da grande corrida do ser humano em busca da competência pela qualidade de vida e harmonia entre os valores, o tempo e o espaço que a natureza nos concede.

A responsabilidade, muitas vezes foge das mãos dos pais que, envolvidos numa luta desumana pela sobrevivência e subsistência de sua prole, terceiriza conscientemente o papel de formação dos seus filhos. Há de se reconhecer o empenho e a luta que muitos empreendem para dar conta do trabalho, da rotina que a sociedade moderna impõe, dos riscos e armadilhas que são vieses da formação da rotina de pessoas que cultivam valores, lutam a cada dia, por manter-se na linha em que foram educados, mas os tempos são outros, os valores são outros, os exemplos são outros, as leituras são outras, o correto deixa de ser, o avesso passa a ser direito. “Ah! no tempo dos meus pais, isso não aconteceria”, no meu tempo de escola, era diferente”, o homem é outro, a sociedade é outra, a educação é outra, a empresa é outra, a felicidade é outra... onde ela está?

Parece uma grande incoerência: o mundo mudou, a comunicação mudou, as formas de relacionamento são outras, as propostas pedagógicas são modernas e cheias de tecnicismos e subjetivismos, regras e expectativas...Se a criança é outra, pensa diferente da criança do passado, vem de uma família que vive dividida em ser amigos e disciplinadores ao mesmo tempo. Não se afinam esses dois instrumentos em um mesmo diapasão.

Conversa entre pais e filhos, como amigos, não traz nenhum problema, pelo contrário. O que preocupa é que a criança precisa ter presente: meu pai, meu amigo. Eu diria ao meu pai o que diria a um amigo? A conversa se nivela, mas, quem dará as ordens? Amigos não costumam “dar ordem” a  amigos. Mas pais e educadores precisam desse instrumento formativo, construtivo e reconhecidamente salutar para uma boa formação fundamentada em valores enraizados, filtrados pela experiência e tenacidade com que as sociedades de ontem nos presentearam, para termos o que temos, fazermos o que fazemos, da forma que aprendemos e da forma que acreditamos ser ideal para o futuro  da espécie. 

“- estou satisfeito de haver saído de lá.”  Que cada criança, cada filho, cada ser em formação, possa chegar no novo mundo da escola de hoje e reconhecer suas bases, seus pendores, suas expectativas, seus valores. Nas metodologias ativas reside o princípio da valorização dos conhecimentos prévios como ponto de partida para um bem sucedido processo de ensino-aprendizagem. Cada aluno, com o seu universo, com o seu histórico, com as suas perspectivas.

A sistematização de conhecimentos ocorre de forma natural e imperceptível, já que não há ensinante sem aprendente, mas nesse jogo de quem sabe mais, faz há a metamorfose da transformação do que em tese é uma tarefa, atividade, problema, questão, dúvidas, questionamentos, passa a ser um prazeroso fazer juntos, criando mil e uma condições de sucesso entre os agentes do processo.

 

Sebastião Maciel Costa