Da janela, seus olhos lacrimejantes

Entornavam-se nas ruas.

Molhavam as praças ermas e nuas.

 

Delírios de alegria!

 

Imagino nessa hora a minha viela

De tetos molhados

E vento nos coqueirais!

 

Minha cidade menina!

 

Imagino-a plena e bela,

Em meio ao deserto alagado

Do seu imenso chafariz.

 

Surpreendo-me feliz

Com tão presente lembrança!

 

Na tez da memória,

O rugir dos potentes trovões

Na rua simples da Boa Esperança.

 

Ritmadas melodias

Ecoavam nos telhados

Da morada humilde e pequena.

 

E a janela sempre acesa

Do meu quarto, na frente,

Refletia a beleza

Do espetáculo fluente.

 

Era tão bom

Embriagar-me no som

Daquela pluvial canção!

 

E ver os fluidos de suas águas

A correr pelo chão,

Indo depressa aos rios

 

Que, sedentos de vida

E de leitos profundos e abertos,

Eram os rumos mais certos

Da sua abundante chegada!

 

Conduzindo a fantasia

Dos inocentes barquinhos de papel

Que seguiam imponentes,

 

A despeito do lume reluzente

Dos vorazes relâmpagos

Que rasgavam o céu.