Ocorrência de hepatites virais B e C acometidos em indivíduos em setembro de 2009, notificados no Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Amazonas
Por Ezequias Andrade da Silva | 08/11/2009 | ArteAs infecções causadas pelo vírus da
hepatite B (VHB) e pelo vírus da hepatite C (VHC) constituem
grave problema de saúde (FERREIRA & SILVEIRA, 2004).
Segundo estimativas da Organização Mundial da
Saúde, dois bilhões de pessoas já
tiveram contato com o VHB e 350 milhões tornaram-se
portadores crônicos (ALTER, 1997; SHARMA et al., 2005),
enquanto 150-200 milhões de pessoas (3% da
população mundial) está infectada com
o VHC e 130 milhões evoluíram para hepatite
crônica e cirrose, com cerca de um a dois milhões
de óbitos ao ano (TOLEDO et al., 2005).
No Brasil,
estudos de prevalência para o VHB e VHC na
população em geral ainda são escassos.
A endemicidade da infecção pelo VHB pode ser
avaliada pela prevalência de portadores do HBsAg, ou com
evidência sorológica de
infecção prévia, com a
classificação de endemicidade mundial em 3
padrões: baixa (<1%), intermediária (1 a
5%) e alta (>5%). A soro positividade para o HBsAg e anti-HBc
variam de região para região e em grupos
populacionais específicos. Muitos dos portadores inativos do
VHB (70%-90%) permanecem inativos por toda a vida. Em área
endêmica de infecção pelo VHB (Taiwan)
observa-se o clareamento do HBsAg em cerca de 40% dos portadores
inativos adultos, após seguimento de 29 anos (CHU &
LIAW, 2007).
Os principais mecanismos envolvidos na
transmissão do VHB estão relacionados
à exposição percutânea de
sangue e seus derivados, transmissão perinatal (vertical) e
transmissão sexual (HYAMS, 1989). Outros mecanismos de
transmissão seriam a intrafamiliar (FONSECA, 1994), que
ainda não está bem definido na Amazônia
Ocidental (FONSECA, 1989), e em ambiente fechado onde ocorram respingos
nas paredes, de sangue contaminado pelo VHB, como exemplo em unidades
de hemodiálise (ALMEIDA et al., 1971; HADLER, 1990).
O
antígeno de superfície do VHB (HBsAg) encontra-se
presente no sangue e em diversos líquidos corporais como
saliva, secreção vaginal e líquido
seminal de portadores desse vírus, os quais estão
relacionados diretamente com propagação e
perpetuação da infecção em
populações humanas (ZUCKEMAN, 1990).
A
transmissão do vírus através de
insetos tem sido postulada e debatida por décadas. O
vírus pode sobreviver no intestino de mosquitos e
percevejos, mais não ocorrendo a
replicação em seu interior. Assim, os insetos,
provavelmente, seriam simplesmente um vetor mecânico da
infecção, principalmente entre visitantes de
regiões tropicais (HYAMS, 1989); ZHENG et al., 1995).
Aproximadamente
20 anos atrás, a identificação do
vírus da hepatite C (HCV) era ainda motivo de debate sobre o
grau de transmissao sexual do HCV. Sabe-se hoje que vírus da
hepatite C é transmitido essencialmente por contato com
sangue, hemoderivados, agulhas, seringas e materiais intravenosos, e,
secundariamente por via sexual (SHAPIRO & MARGOLIS, 1990). A alta
cronicidade é uma característica óbvia
da infecção, ocorrendo em cerca de 85% dos
pacientes infectados. A cirrose hepática se desenvolve em
10-50% dos casos, o carcinoma hepatocelular em 1-23% e a mortalidade
relacionada à doença hepática
é de 4-15% (FAN et al., 2004).
As hepatites B e C
são ainda prioridades em pesquisas virais na medicina
tropical, principalmente na amazônia brasileira (de PAULA et
al., 2001).
Na amazônia ocidental, o clima é
tropical úmido e a população, em
detrimento de um melhor índice de desenvolvimento humano,
possui uma historia de contatos freqüentes
precárias de condições ambientais de
moradia. Nesta população, há uma alta
e inexplicável prevalência de hepatites causadas
pelos vírus B, C e D (BRAGA et al., 2001).
Recentemente,
esta região tem implementado um ambicioso programa de
vacinação contra o HBV de impacto, do qual
somente obterá resultados, no mínimo,
após uma década. Isto é
necessário para reconhecer atualmente, a realidade da
epidemiologia do HBV para estudos comparativos e
custo-benefício no campo de programas de
vacinação (TAVARES-NETO et al., 2004).
No
Brasil, existe um plano de estudos relacionando a prevalência
da hepatite B e C, até mesmo uma
divulgação do Ministério da
Saúde, mostrando a alta incidência de hepatites
virais aguda e crônica nesta área (BRASIL.
MINISTÉRIO da SAÚDE/GERÊNCIA de
DOENÇAS EMERGENTES e REEMERGENTES, 2002).
Material e métodos
Tipo de estudo
Realizou-se um estudo retrospectivo do mês de setembro de 2009, com pacientes encaminhados ao Laboratório Central do Amazonas (Lacen-Am) para fins diagnósticos das hepatites virais B e C.
Aspectos epidemiológicos e diagnósticos de laboratório
Os dados epidemiológicos e laboratoriais foram obtidos através de prontuários médicos de casos notificados em 2009. Os marcadores sorológicos pesquisados, isolados ou conjuntamente, foram solicitados por médicos da rede publica, oriundos de todos os municípios amazonenses requeridos.
Banco de dados e análise estatística
Os resultados dos exames sorológicos solicitados para os marcadores de hepatites virais foram obtidos a partir do banco de dados do setor de virologia do Lacen-Am, utilizando-se o programa EXEL e, posteriormente, foi submetido à análise utilizando-se o programa Epi-Info.
Resultados
Apesar da implementação de campanhas de saúde pública realizadas na amazônia ocidental, atualmente ainda são notificados um alto índice de casos de hepatites B e C. De todos os pacientes que deram entrada no Laboratório Central do Amazonas, em 27 foram detectados como diagnostico REAGENTE para HBsAg, enquanto que 10 foram REAGENTES para o HCV.
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