OBSERVAÇÕES

A paisagem é rural: terra batida, bosta de boi, coruja voando. O grito do quero-quero quase não se ouve, mas ele está lá. Um cavalo rola tomando banho na grossa camada de poeira

É noite, se vê pelas luzes acesas. O pisca-pisca pisca-piscando não é vaga-lume: é um letreiro luminoso. Propaganda? Sim!

Um balão de são João, em agosto? Não. Não é isso não! É mais propaganda. Um balão de propaganda? Propaganda, sim! Sal prá boi que come capim! Sem salada.

Tem uma rodinha de gente: uns cantam, uns riem, alguns estão fantasiados de americanos, roupa de “cauboi”, alguns só olham...prá lugar nenhum. Olham um olhar perdido...vago, melancólico...um olhar sem nada ver... distraidamente... Seria paixão ou somente distração? cansaço, talvez? Deixa eu olhar só mais uma vez...

De repente um barulho. É um boi que pinoteia, corcoveia, sapateia... Joga o peão na areia. Levanta a cabeça e funga uma ameaça: não me chateia!

Tem artista, tocador, escultor, compositor. Tem um que faz poema, outro que chora versos. Um que fala, um que escreve, um que observa tudo calado, de um lado... acabrunhado?

Lá na frente muita luz, muita criança querendo mergulhar na iluminação. Sacolejar, cantar, se alegrar, desfrutar........mas cadê o dinheiro prá pagar?

No boteco, improvisado, ali do lado, o rapaz tá atolado na lata de cerveja.

Minissaia, perna grossa: uma passa, rebolando outra rebola sem passar...dá vontade de chamar. De convidar ... prá passear...

Tem morena, loira, ruiva, negra linda.

A garota, feita só de beleza, está só. Vai passando. O rapaz, deixa de lado a lata de cerveja, levanta e corre... Vai correndo e entra no banheiro....e a garota, fascinante passa... está só!

Estou só!

Música? Tem, mas o barulho é tanto que ela se perde.

A música é apenas mais um barulho que se perde na multidão.

Estamos num parque de exposição!

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura – RO