Desde a antiguidade o ser humano com sua mania de grandeza e competição, inventa, cria e copia, de acordo com as possibilidades de sua época, as mais esplêndidas e mega construções, das quais ainda restam algumas ruínas históricas. Desde os Jardins Suspensos da Babilônia, o Farol de Alexandria, grandiosas mesquitas, gigantescas pirâmides, os túmulos dos faraós e suas esposas, onde foram sepultadas fabulosas fortunas, , o glorioso Taj Mahal, o Coliseu e outras grandes obras mais recentes como a Torre Eiffel, o Cristo Redentor do Corcvado, riquíssimos palácios reais e religiosos  e templos  com altares e santos cravejados de ouro. E a vida continua, haja a vista os moderníssimos arrranha céus de Dubai, aonde existem até banheiras com torneiras de ouro e outros mimos para quem pode desfrutar. São obras fabulosas que custaram incalculáveis fortunas, sempre arrancadas dos contribuintes, e onde inúmeras vidas de anônimos operários atraídos por promessas mentirosas, foram ceifadas.

Neste exato momento estiveram em evidência as construções e reformas dos estádios brasileiros, dispendiosos e futuros elefantes brancos, que resolveram trocar de nome: hoje eles se chamam arenas. Nos antigos tempos romanos esse nome era dado a tenebrosos anfiteatros, onde os infelizes cristãos eram besuntados em azeite e queimados vivos ou devorados por ferozes leões famintos, em espetáculos sangrentos e horripilantes,  exibidos sob os aplausos de um público ensandecido e sádico, ávido de sangue derramado e de contemplar corpos dilacerados pelas feras, como bem retrata o antigo filme Quo Vadis e tantos outros com o mesmo tema. Sei lá por que, o título deu a volta por cima e hoje arena virou estádio de futebol, recauchutado ou recém construído. Menos mal.

Segundo a Bíblia, o Rei Salomão, filho do Rei Davi, deu continuidade à construção do grande templo começado por seu pai por ordem de Deus, simplesmente para adorá-lo. Porém como o objetivo do homem é sempre a sua própria glória e não a glória de Deus, tudo virou idolatria ao ser humano, e por fim não restou do suntuoso templo, como diz a própria Bíblia,  pedra sobre pedra, pois o templo seria para a glória de Deus e não do homem, mas tudo foi transformado em orgulho do poder do homem, nem que para isso ele sempre continue explorando a inferioridade ou ignorância dos seus subalternos.

Eu só não entendo é como hoje, pessoas esclarecidas e que tanto estudam e pregam sobre a Bíblia, conseguem repetir a mesma história.  Num país onde milhares de pobres estão vivendo à míngua, sem ter sequer uma cama decente num hospital miserável aonde possam morrer, religiosos e políticos ansiosos por deixar seus marcos gloriosos na história, constroem obras gigantescas e templos luxuosos, para a satisfação do seu egoísmo e vaidade, e em suas obras deixarem relembrados os seus nomes, para a posteridade.

Não existe país tão rico que não lhe faça falta gastar fortunas com o supérfluo. E aqui está um país cujo lixo está sempre sendo jogado para baixo do tapete. Um país onde só se enxerga o que se quer enxergar. Um país famoso por sua grandeza territorial e belezas naturais, cuja população de analfabetos é assustadora, onde milhares de jovens adolescentes se prostituem , roubam, matam e assaltam por falta de qualquer outra opção de vida, pois não lhes dão oportunidade. Um país onde milhares de corpos são enterrados em covas rasas e anônimas, como tão anônimos eles foram enquanto viveram, pois nunca tiveram um lugar decente dentro da sociedade. Um país onde muitos são forçados a contribuir para o governo parte do parco salário que ganham,  e enquanto muitos doam seus dízimos e ofertas na esperança de um retorno ilusório que nunca viram, nem verão chegar.

O tempo é uma roda gigante;  momentos em cima, momentos embaixo e a história sempre se repetindo. E aí estão as obras e as reformas faraônicas, que para pouco ou nada servem, e o que não faltam são os mega projetos para as próximas obras,  muitas das quais não sairão do papel ou ficarão inacabadas. Públicas ou de iniciativa privada, aí estão. Enfeites, pontos turísticos, lugares de diversão pra quem pode pagar, beleza. Apenas beleza.

Acabam de dar à luz uma das últimas maravilhas do mundo moderno, que há muito passaram das sete do mundo antigo: um suntuoso e novo Templo de Salomão, em São Paulo, fruto de mentes megalomaníacas, ambiciosas e competitivas. Inaugurado com todas as pompas e circunstâncias a que tem direito. Erguido com o dinheiro das doações dos fiéis universais, que continuam aguardando as promessas de uma vida melhor  em troca das suas ofertas, profecias que eles nunca verão se cumprir.

Não tenho dúvidas de que em um tempo não muito distante, de tudo isto também não mais restará pedra sobre pedra.

 Autora: Júnia - 08.8.2014