Embora continue difícil cravar qualquer definição em relação ao impeachment de Dilma, acredito que o cenário não é tão crítico como já esteve. Nem mesmo o desembarque do PMDB da base do governo conseguiu dar o tiro de misericórdia no PT por uma série de fatores determinantes, especialmente o sucesso da estratégia de caracterizar como golpe um impeachment sem crime de responsabilidade e a adesão de artistas e intelectuais que gozam de grande credibilidade frente a sociedade. Sobre a estratégia de levantar a bandeira de que o pedido de impeachment sobre a presidenta Dilma é golpe o resultado foi melhor do que o esperado. Felizmente a memória da sociedade brasileira, que costuma ser curta, não conseguiu apagar os horrores da ditadura militar iniciada no golpe de 64. O risco de que a democracia possa ser prejudicada fez com que a sociedade refletisse mais sobre o atual cenário, o que freou a onda golpista. É importante que o brasileiro se lembre do quão difícil foi consolidar a democracia e que persistir no caminho democrático é a única via segura para que seja possível alimentar o sonho de uma sociedade melhor no futuro.

Junta-se a isto a adesão em peso de da classe artística e intelectual brasileira, figuras como Chico Buarque e Caetano Veloso, personalidades que foram importantíssimas na luta contra a ditadura e pelo restabelecimento da democracia. Outras vozes de artistas consagrados também engrossam o coro contra o impeachment, como o da atriz Letícia Sabatella, os atores Wagner Moura e Gregório Duvivier, os músicos Tico Santa Cruz e Emicida, entre outros. Alguns destes artistas marcaram presença nas manifestações desta quinta, o que gerou maior repercussão da mídia. Embora estas manifestações tenham tido menor adesão do se comprada a do dia 18, a presença nas ruas mostram que Dilma ainda tem força popular e que haverá resistência de grupos sociais que se posicionam contra o impeachment.

A reação das ruas e da classe artística e intelectual pegou a ala golpista da oposição de surpresa. Esperavam enfrentar um governo acuado e que não oferecesse resistência, sem base de sustentação nas ruas e sem o apoio de forcas políticas e sociais. Não foi o que aconteceu, o governo adotou uma estratégia que vem funcionando. A oposição tenta manter o ritmo acelerado do processo de impeachment, pra não dar tempo e espaço para que o governo se organize. Outro fator que precisa de tempo para ser analisado é a saída do PMDB da base do governo. Não é possível dizer ainda se esta saída do PMDB foi negativa ou positiva. Há quem defenda que perder o apoio do maior partido do Brasil foi o golpe de misericórdia no governo, que sem o apoio do PMDB não será possível somar 1/3 dos votos para barrar o impeachment. Porém, há quem acredite que mesmo com a formalização da saída do partido tanto os deputados que votariam contra quanto os que votariam a favor do impeachment vão manter seus votos e que com a ruptura o governo ganha capital político pra barganhar com partidos que ainda estejam em cima do muro.

Nesta reta final do processo de impeachment Dilma também deve se preocupar com os desdobramentos da operação lava jato que a cada nova fase deixa feridas no governo. Espera-se que os abusos cometidos pelo Juiz Sérgio Moro não aconteçam de maneira tão explicita, pois o novo ministro da justiça já deixou claro que não permitirá excessos de nenhum membro da justiça brasileira.