Desde sempre que uma das questões mais problemáticas tratadas na Hermenêutica e na Filosofia da Linguagem é, efetivamente, o sentido que pretendemos para o nosso pensamento, de forma a que ele manifeste um conhecimento, e a correta significação para a sua transmissão, qualquer que seja a linguagem utilizada: verbal, gráfica, musical, mímica, pictórica, entre outras.

WITTGENSTEIN (Ludwig Joseph Johann WITTGENSTEIN, 1889-1951, filósofo austríaco, naturalizado britânico, foi um dos principais atores da virada linguística na filosofia do século XX. Suas principais contribuições foram feitas nos campos da lógica, filosofia da linguagem, filosofia da matemática e filosofia da mente) pretende fazer coincidir a significação e o uso, opondo-se às expressões (significação da palavra ou da frase), que fazem corresponder às expressões da nossa linguagem entidades particulares, que se poderiam identificar como sendo as suas significações.

O critério da compreensão não é a ocorrência de um acontecimento mental, mas o uso correto, e explica o sentido pelo uso, porque na linguagem, o fundamental não são os símbolos, mas o uso que deles fazemos.

Paul RICOEUR (Paul RICOEUR, 1913-2005 foi um dos grandes filósofos e pensadores franceses do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial) faz o relacionamento entre o acontecimento e o sentido, na medida em que todo o discurso é efetuado como acontecimento, mas compreendido como sentido, realizando uma promoção do sentido no próprio seio da linguagem.

Numa outra perspetiva: «Em vez de decalcar uma fenomenologia do sentido sobre uma análise científica da língua, propõe-na como inteligência integral da linguagem» (cf. FAGES, 1976), e assim o sentido de um texto não é intrínseco à intenção do autor, mas integrado no mundo que ele abre e descobre, porque a vinda à linguagem do sentido, será a vinda à linguagem de um universo.

Ao bordar a importância do signo, enquanto suporte da linguagem, certamente que não se pretende desenvolver o historial do signo, enquanto isolado do contexto linguístico-filosófico, mas tão-só o uso que dele se faz, para que através da linguagem possamos obter um sentido para a realidade que procuramos, ou seja, um conhecimento que buscamos e desejamos transmitir, muito embora, sendo o homem um ser imperfeito, inacabado, limitado e até desorientado, o que produz não é, logicamente, perfeito mas, bem pelo contrário, é insuficiente. 

Tal incapacidade, reflete-se, também, na linguagem que origina dificuldades insuperáveis, o que não deixa de distorcer a realidade, e não é por acaso que face a tais discrepâncias, na busca do conhecimento verdadeiro pretendido, surge o mito, também ele, em parte, fundamentado pela linguagem deficiente que o homem usa, de resto, a investigação linguística e etimológica, permite deslindar um pouco o tema misterioso que é o mito.

Max MULLER (Friedrich Max MÜLLER 1823-1900, linguista, orientalista e mitólogo alemão. Aluno de Franz BOPP e de E. BURNOUF) empregou a análise filológica para um ponto de partida entre a linguagem e o mito, que resulta no facto de: «O mito estar condicionado pela força da linguagem, pela significância intencional da palavra, pelo aproveitamento da fonética, pela interpretação do recetor.» (cf. 1876: Apêndice).

Bibliografia

DELEUZE, Gilles, (1977). Como Reconhecer o Estruturalismo, in: História da Filosofia, Vol. 8, direção de F. Châtelet. Lisboa: D. Quixote

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal