O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO INFANTIL
Por Carolina Pessoa Varanda Leite | 23/10/2025 | EducaçãoO USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO INFANTIL
O presente artigo discute o papel das tecnologias digitais no processo de alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental. A inserção de recursos tecnológicos no ambiente escolar tem se mostrado uma ferramenta importante para ampliar as possibilidades de aprendizagem, favorecendo o engajamento e a autonomia dos alunos. Busca-se compreender como o uso de ferramentas digitais, quando mediadas por práticas pedagógicas intencionais, pode contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da leitura e da escrita. O estudo apoia-se em referenciais teóricos que abordam a relação entre educação e tecnologia, como Moran (2018), Kenski (2012), Lévy (1999) e Freire (1996), enfatizando a importância de uma postura crítica e criativa diante das tecnologias. Conclui-se que, quando utilizadas de forma planejada e contextualizada, as tecnologias digitais podem potencializar o processo de alfabetização, tornando-o mais interativo e significativo.
O processo de alfabetização e a tecnologia.
A alfabetização constitui uma das etapas mais importantes da vida escolar, representando o momento em que a criança começa a compreender o poder da leitura e da escrita na comunicação e na construção do conhecimento. É nesse período que o aluno passa a interagir de forma mais consciente com o mundo das palavras, descobrindo que os textos, as histórias e os símbolos fazem parte da sua realidade cotidiana. O processo de alfabetização, no entanto, vai muito além do simples domínio do código escrito; ele envolve o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais, que permitem ao sujeito ler o mundo, como defende Freire (1996), antes mesmo de ler a palavra.
Com as transformações tecnológicas que marcam o século XXI, o contexto educacional também passou a vivenciar mudanças profundas. As crianças de hoje já nascem em meio a telas, sons, imagens e informações digitais, e, por isso, chegam à escola com novas formas de perceber, aprender e se relacionar. Essa realidade desafia a escola e o professor a repensarem suas metodologias, a fim de integrar práticas pedagógicas que dialoguem com o universo tecnológico que cerca os alunos. Segundo Kenski (2012), a tecnologia não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como uma aliada no processo de ensino e aprendizagem, capaz de ampliar as possibilidades de construção do conhecimento.
Nesse cenário, o uso de tecnologias digitais no processo de alfabetização tem se mostrado um recurso potente e inovador. Ferramentas como jogos educativos, aplicativos interativos, vídeos, plataformas online e histórias digitais podem tornar o aprendizado mais atrativo e dinâmico, estimulando o interesse das crianças pela leitura e pela escrita. De acordo com Moran (2018), o uso pedagógico das tecnologias favorece a criação de ambientes de aprendizagem mais colaborativos e participativos, nos quais o aluno é protagonista da própria aprendizagem.
Ao mesmo tempo, é importante compreender que a tecnologia, por si só, não transforma o processo educativo. Ela precisa estar articulada a um planejamento pedagógico intencional, fundamentado em objetivos claros e em práticas mediadas por professores reflexivos e críticos. Lévy (1999) destaca que vivemos em uma “sociedade do conhecimento”, na qual a informação circula de forma veloz e descentralizada. Nesse contexto, cabe ao educador desenvolver nos alunos habilidades de interpretação, análise e produção de textos em múltiplas linguagens — habilidades essenciais para o letramento digital e para a alfabetização plena.
O processo de alfabetização mediado por tecnologias digitais possibilita novas formas de interação entre professor, aluno e conhecimento. Ao utilizar recursos como aplicativos que associam som, imagem e texto, por exemplo, o professor pode explorar diferentes canais de aprendizagem, atendendo aos variados estilos cognitivos das crianças. Essas ferramentas também contribuem para a inclusão, pois permitem que alunos com dificuldades específicas tenham acesso a atividades adaptadas às suas necessidades, promovendo a equidade e o respeito às diferenças.
Além disso, o uso de recursos tecnológicos estimula o desenvolvimento de competências essenciais no século XXI, como a criatividade, o pensamento crítico, a comunicação e a colaboração. A alfabetização deixa, então, de ser um processo isolado e linear, para se tornar uma experiência interativa e significativa, em que a criança é convidada a explorar, experimentar e construir conhecimentos de forma autônoma.
Por outro lado, é fundamental reconhecer que a inserção das tecnologias digitais na educação também impõe desafios. Um deles é a formação docente: muitos professores ainda se sentem inseguros ou despreparados para integrar os recursos tecnológicos em suas práticas pedagógicas. Outro desafio é o acesso desigual às ferramentas digitais, tanto no ambiente escolar quanto fora dele, o que pode ampliar as diferenças entre os alunos. Por isso, é imprescindível que as políticas públicas de educação garantam condições adequadas de infraestrutura e capacitação continuada aos educadores, para que as tecnologias possam ser utilizadas de maneira efetiva e democrática.
A escola, enquanto espaço de socialização e construção do conhecimento, precisa se posicionar diante dessas transformações, buscando equilibrar tradição e inovação. O papel do professor torna-se, então, o de mediador, orientador e facilitador das aprendizagens, promovendo situações em que as tecnologias sejam utilizadas de forma crítica, criativa e pedagógica. Como defende Freire (1996), ensinar exige pesquisa, curiosidade e abertura para o novo. Da mesma forma, o educador do século XXI precisa ser um pesquisador da própria prática, disposto a aprender junto com seus alunos e a explorar os recursos tecnológicos de modo consciente.
Portanto, discutir o uso das tecnologias digitais na alfabetização infantil é refletir sobre o próprio papel da escola na sociedade contemporânea. É compreender que as novas gerações aprendem de formas diferentes e que a educação precisa acompanhar esse movimento, sem perder de vista os valores humanos, a criticidade e o desenvolvimento integral da criança. As tecnologias, quando integradas de maneira planejada e significativa, podem potencializar o processo de alfabetização, tornando-o mais prazeroso, interativo e conectado à realidade dos alunos.
Assim, este artigo busca analisar as contribuições, desafios e possibilidades do uso das tecnologias digitais no processo de alfabetização infantil, considerando o papel do professor mediador e a importância de práticas pedagógicas que promovam aprendizagens significativas. Pretende-se, com isso, evidenciar que a tecnologia, quando usada com intencionalidade educativa, pode ser uma grande aliada na formação de leitores e escritores competentes, críticos e criativos — cidadãos preparados para atuar de forma consciente no mundo digital em que vivem.
A importância das tecnologias digitais na alfabetização
O avanço tecnológico das últimas décadas transformou profundamente a maneira como as pessoas se comunicam, aprendem e constroem conhecimento. No contexto educacional, essas mudanças provocaram uma reconfiguração das práticas pedagógicas e das formas de ensinar e aprender. As tecnologias digitais, antes restritas a espaços de lazer ou ao ambiente corporativo, tornaram-se ferramentas essenciais também na sala de aula, inclusive no processo de alfabetização.
A alfabetização, compreendida como o aprendizado do sistema de escrita e leitura, é uma das etapas mais desafiadoras e significativas da educação básica. Nos anos iniciais do ensino fundamental, a criança entra em contato sistemático com a língua escrita, desenvolvendo habilidades de reconhecimento de sons, sílabas, palavras e frases. Esse processo exige estímulo, repetição, interação e, acima de tudo, motivação. É nesse ponto que as tecnologias digitais podem desempenhar um papel essencial, contribuindo para tornar o aprendizado mais atraente, interativo e significativo.
Segundo Kenski (2012), a tecnologia deve ser entendida como um meio que amplia as possibilidades do processo educativo, e não como um fim em si mesma. O uso de recursos digitais na alfabetização, portanto, deve estar articulado ao planejamento pedagógico do professor e aos objetivos de aprendizagem definidos para cada turma. Aplicativos que trabalham o reconhecimento de letras e sons, jogos de formação de palavras, vídeos educativos e plataformas de leitura interativa são exemplos de recursos que favorecem o desenvolvimento das competências linguísticas e cognitivas de forma lúdica.
Essas ferramentas oferecem à criança um ambiente visual e auditivo rico, que estimula múltiplos sentidos. Ao associar o som da letra à sua forma e ao seu uso em palavras e frases, o aluno passa a construir significados de modo mais espontâneo. Além disso, o uso de imagens coloridas, personagens e sons de recompensa nos jogos digitais ajuda a manter a atenção e a curiosidade das crianças, elementos essenciais para a aprendizagem nos primeiros anos escolares.
Moran (2018) ressalta que a tecnologia, quando utilizada de maneira criativa e intencional, promove uma aprendizagem mais ativa e participativa, em que o aluno assume um papel protagonista. Nesse modelo, o professor deixa de ser o único transmissor do conhecimento e passa a atuar como mediador, orientando os alunos na exploração dos recursos tecnológicos e na reflexão sobre os conteúdos. O uso de tecnologias na alfabetização não significa substituir o caderno, o lápis e o livro, mas integrar novos meios que dialoguem com o universo digital das crianças.
Outro aspecto relevante é que as tecnologias digitais permitem diversificar as práticas pedagógicas e atender aos diferentes estilos e ritmos de aprendizagem. Em uma turma de alfabetização, é comum encontrar alunos que aprendem com mais facilidade ouvindo, outros que preferem o visual e alguns que se desenvolvem melhor com atividades práticas e manipulativas. O uso de tablets, computadores ou lousas digitais possibilita ao professor criar propostas variadas, adaptando as atividades às necessidades de cada estudante.
Além disso, o ambiente digital pode favorecer a inclusão de alunos com dificuldades específicas de aprendizagem. Softwares e aplicativos de acessibilidade — com recursos de leitura em voz alta, ampliação de letras, dicionários visuais e exercícios interativos — auxiliam na superação de barreiras e promovem a participação de todos os estudantes. Isso está em consonância com a perspectiva da educação inclusiva, que valoriza as potencialidades individuais e o respeito às diferenças.
De acordo com Lévy (1999), vivemos em uma era de cibercultura, na qual o conhecimento é construído coletivamente e está em constante transformação. As crianças já fazem parte dessa cultura digital e chegam à escola com habilidades prévias relacionadas ao uso de tecnologias, mesmo antes de saberem ler e escrever. Elas observam os adultos utilizando celulares, computadores e tablets, e aprendem intuitivamente a interagir com esses dispositivos. A escola, portanto, deve reconhecer esse repertório e transformá-lo em ponto de partida para o ensino da leitura e da escrita.
Entretanto, é preciso cautela e discernimento no uso das tecnologias. O excesso de estímulos e a exposição prolongada às telas podem causar distração e dificultar a concentração. Por isso, o papel do professor é fundamental: ele precisa mediar o uso dos recursos tecnológicos, estabelecendo objetivos claros, limites de tempo e estratégias de acompanhamento. O uso pedagógico da tecnologia requer equilíbrio entre o digital e o concreto, garantindo que as experiências de aprendizagem sejam completas e significativas.
A integração das tecnologias digitais ao processo de alfabetização também implica uma mudança na cultura escolar. É necessário que a instituição de ensino ofereça infraestrutura adequada — como acesso à internet, equipamentos em bom estado e suporte técnico — e invista na formação continuada dos professores. A capacitação docente é essencial para que o uso das tecnologias seja feito de forma crítica e criativa, evitando o improviso ou o uso apenas recreativo dos recursos digitais.
Freire (1996) defende que a educação deve ser libertadora, estimulando a autonomia e o pensamento crítico. Nesse sentido, as tecnologias podem ser vistas como instrumentos que ampliam o horizonte de leitura de mundo das crianças, possibilitando o acesso a diferentes fontes de informação, culturas e linguagens. Ao explorar vídeos, músicas, textos digitais e histórias interativas, o aluno desenvolve não apenas habilidades técnicas, mas também competências de interpretação e produção de sentidos.
Portanto, o uso das tecnologias digitais no processo de alfabetização infantil deve ser compreendido como uma prática pedagógica inovadora e integrada, que valoriza o protagonismo do aluno e o papel mediador do professor. Mais do que ensinar letras e sons, trata-se de formar sujeitos críticos, curiosos e criativos, capazes de compreender e transformar o mundo em que vivem.
O papel do professor mediador
O papel do professor na contemporaneidade ultrapassa a simples transmissão de conteúdos. Ele se transforma em mediador do conhecimento, articulando saberes, experiências e recursos para favorecer a aprendizagem significativa dos alunos. No contexto da alfabetização infantil, essa mediação ganha novos contornos com a presença das tecnologias digitais, que ampliam as possibilidades de interação e de construção coletiva do conhecimento.
Segundo Freire (1996), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Essa ideia reforça que o professor é um facilitador, alguém que promove situações de aprendizagem que despertem a curiosidade, o pensamento crítico e o desejo de aprender. Ao incluir as tecnologias em suas práticas, o educador potencializa essas possibilidades, pois cria pontes entre o mundo digital — tão presente no cotidiano das crianças — e o universo escolar.
professor mediador é aquele que planeja, orienta e acompanha o uso das tecnologias de forma intencional e pedagógica. Ele seleciona os recursos adequados, define objetivos claros e avalia constantemente os resultados alcançados. Não se trata de usar a tecnologia por modismo, mas de integrá-la como ferramenta que enriquece o processo de alfabetização, promovendo aprendizagens mais ativas, participativas e personalizadas. Como afirma Moran (2018), a tecnologia tem sentido educativo quando está a serviço de metodologias que colocam o aluno como protagonista.
Nas aulas de alfabetização, o professor pode utilizar aplicativos de leitura, jogos digitais, vídeos e plataformas colaborativas para explorar letras, palavras e textos de maneira lúdica e interativa. Entretanto, sua intervenção é essencial para garantir que esses recursos sejam utilizados de modo reflexivo e com propósito. Ele ajuda os alunos a relacionarem as atividades digitais com a realidade, interpretando informações, construindo sentidos e desenvolvendo autonomia.
Além disso, a mediação docente é fundamental para promover o uso ético e responsável das tecnologias. É papel do professor orientar os estudantes sobre o respeito à autoria, a importância da privacidade e o uso consciente dos recursos digitais. Dessa forma, ele contribui para a formação de cidadãos críticos, capazes de navegar no ambiente digital com discernimento e responsabilidade.
Kenski (2012) destaca que o professor mediador deve estar em constante formação, acompanhando as inovações tecnológicas e refletindo sobre suas práticas. A formação continuada é essencial para que o educador se sinta seguro no uso das tecnologias e possa transformá-las em aliadas da aprendizagem. O domínio técnico, aliado à sensibilidade pedagógica, é o que permite ao professor integrar o digital ao currículo de forma criativa e eficaz.
Assim, o professor mediador assume um papel de protagonista na integração das tecnologias ao processo de alfabetização. Sua ação consciente, planejada e reflexiva transforma o uso das ferramentas digitais em experiências educativas ricas e significativas. Ele é o elo entre o conhecimento, a tecnologia e o aluno — um agente que inspira, orienta e aprende junto com seus estudantes.
Recursos tecnológicos aplicáveis à alfabetização
O processo de alfabetização, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental, exige práticas pedagógicas criativas e diversificadas, capazes de despertar o interesse e a participação ativa das crianças. Nesse sentido, os recursos tecnológicos vêm se consolidando como importantes aliados, pois ampliam as possibilidades de ensino e aprendizagem, tornando as atividades mais interativas, lúdicas e significativas. As tecnologias digitais permitem ao professor explorar diferentes linguagens — visual, sonora, textual e simbólica —, favorecendo a construção de conhecimentos de forma dinâmica e contextualizada.
Segundo Moran (2018), a tecnologia deve ser vista como uma oportunidade para reinventar o modo de ensinar e aprender, estimulando a autonomia e o protagonismo dos alunos. No processo de alfabetização, isso significa utilizar ferramentas digitais que contribuam para o desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita, oralidade e interpretação, ao mesmo tempo em que despertam a curiosidade e o prazer pelo aprender.
Entre os recursos tecnológicos mais utilizados no processo de alfabetização estão os jogos educativos digitais, os aplicativos de leitura e escrita, os vídeos interativos, as plataformas de aprendizagem online e as lousas digitais. Cada um desses instrumentos, quando usado de forma intencional e planejada, pode atender a objetivos pedagógicos específicos e promover aprendizagens significativas.
Os jogos digitais educativos são um dos recursos mais eficazes na alfabetização, pois unem diversão e aprendizado. Eles estimulam o raciocínio lógico, a concentração e a memória, ao mesmo tempo em que trabalham aspectos linguísticos como o reconhecimento de letras, sílabas e palavras. Jogos como “ABC do Bita”, “Palavra Cantada”, “Letrando” e “Ler e Escrever” oferecem atividades que associam som, imagem e texto, favorecendo o aprendizado de forma lúdica. De acordo com Kenski (2012), o caráter interativo dos jogos estimula o envolvimento das crianças e possibilita a aprendizagem pela experimentação e pelo erro, reforçando a autonomia e o desenvolvimento cognitivo.
Outro recurso amplamente aplicável à alfabetização são os aplicativos e softwares educativos voltados para a leitura e a escrita. Muitos desses programas permitem que o aluno pratique a escrita de palavras, frases e pequenas histórias, utilizando recursos visuais e sonoros que reforçam o aprendizado. Aplicativos como “Ler e Contar”, “EduEdu” e “Livros Digitais Interativos” possibilitam o acompanhamento individual do desempenho de cada criança, permitindo ao professor identificar as dificuldades e personalizar o ensino.
Os vídeos educativos e histórias animadas também desempenham papel importante no processo de alfabetização. Por meio deles, é possível trabalhar a escuta atenta, a interpretação e a ampliação do vocabulário. Plataformas como o YouTube Kids, por exemplo, oferecem conteúdos audiovisuais que podem ser utilizados como ponto de partida para discussões, recontos e atividades de leitura e escrita. Moran (2018) afirma que o uso de vídeos como recurso pedagógico amplia o repertório cultural dos alunos e estimula a leitura de mundo, integrando som, imagem e emoção.
As plataformas digitais de aprendizagem constituem outro importante avanço para a alfabetização. Ambientes virtuais como o “Google for Education”, “Khan Academy Kids” e “EducaPlay” permitem a criação de atividades personalizadas, promovendo o aprendizado de maneira colaborativa. Essas plataformas oferecem relatórios de progresso, possibilitando que o professor acompanhe o desempenho dos alunos e adapte suas práticas pedagógicas. Além disso, tais recursos favorecem a interação entre colegas, estimulando o trabalho em grupo e o compartilhamento de experiências.
A lousa digital interativa é outro instrumento que transforma a dinâmica da sala de aula. Com ela, é possível exibir textos, imagens, vídeos e jogos de forma ampliada, facilitando a visualização e o envolvimento dos alunos nas atividades. O uso desse recurso incentiva a participação coletiva e estimula o trabalho colaborativo, pois as crianças podem interagir diretamente com o conteúdo apresentado. Conforme aponta Lévy (1999), o uso de recursos tecnológicos interativos favorece a construção coletiva do conhecimento, promovendo uma aprendizagem mais significativa e compartilhada.
Além desses recursos, as histórias digitais e os livros interativos merecem destaque. Eles combinam elementos multimodais — texto, som, imagem e animação —, tornando o ato de ler uma experiência envolvente e prazerosa. O uso desses materiais favorece o desenvolvimento da imaginação, da interpretação e da criatividade, além de despertar o gosto pela leitura desde os primeiros anos escolares.
Vale ressaltar, contudo, que a integração das tecnologias digitais à alfabetização requer uma postura crítica e planejada por parte do professor. O uso desses recursos deve estar alinhado aos objetivos pedagógicos e ao nível de desenvolvimento das crianças. O professor mediador é quem garante que a tecnologia seja utilizada com propósito educativo, e não apenas como entretenimento. Freire (1996) enfatiza que o papel do educador é criar condições para que o aluno construa o conhecimento de forma ativa, participando do processo e refletindo sobre o que aprende.
Outro aspecto importante é a necessidade de formação continuada para os professores, de modo que possam dominar as ferramentas tecnológicas e integrá-las de forma criativa às suas práticas. A capacitação docente é essencial para que o uso das tecnologias não se limite à substituição de métodos tradicionais, mas se torne uma oportunidade de inovação e de aprimoramento das aprendizagens. Kenski (2012) reforça que a tecnologia é transformadora apenas quando articulada a práticas pedagógicas significativas, que envolvem planejamento, intencionalidade e reflexão.
Por fim, o uso dos recursos tecnológicos na alfabetização infantil deve ser equilibrado com atividades concretas e experiências reais, garantindo o desenvolvimento integral das crianças. As tecnologias são ferramentas valiosas, mas o contato com livros físicos, jogos de letras, contação de histórias e atividades manuais continua sendo essencial para a formação cognitiva e afetiva dos alunos. A combinação entre o digital e o tradicional enriquece o processo educativo e possibilita aprendizagens mais completas, significativas e duradouras.
Em síntese, os recursos tecnológicos aplicáveis à alfabetização representam um campo fértil de possibilidades pedagógicas. Quando utilizados de forma planejada, crítica e criativa, tornam-se instrumentos poderosos para promover o prazer de aprender, desenvolver competências linguísticas e preparar as crianças para atuar em uma sociedade cada vez mais digital.
Desafios e possibilidades
A incorporação das tecnologias digitais no processo de alfabetização representa um avanço significativo para a educação contemporânea, mas também impõe desafios que precisam ser cuidadosamente analisados. O uso de recursos tecnológicos em sala de aula oferece novas oportunidades de aprendizagem, amplia o acesso à informação e estimula o engajamento dos alunos. Contudo, ao mesmo tempo, exige do professor e das instituições escolares uma postura crítica, planejada e reflexiva, para que tais ferramentas sejam realmente instrumentos de inclusão e não de exclusão.
Um dos principais desafios é a formação continuada dos professores. Muitos educadores ainda enfrentam dificuldades em integrar as tecnologias digitais às suas práticas pedagógicas, seja por falta de domínio técnico, seja por resistência a novas metodologias. Kenski (2012) afirma que o uso adequado das tecnologias na educação requer mais do que conhecimento instrumental: é necessário compreender suas implicações sociais, cognitivas e culturais. Ou seja, o professor precisa ir além do “saber usar” e refletir sobre o “como” e o “porquê” usar determinada ferramenta no contexto de aprendizagem.
Outro obstáculo recorrente está relacionado à infraestrutura escolar. Nem todas as instituições de ensino dispõem de acesso à internet de qualidade, equipamentos adequados ou suporte técnico. A desigualdade de acesso às tecnologias também é evidente entre os próprios alunos, especialmente em contextos de vulnerabilidade social. Essa disparidade pode gerar exclusão digital, dificultando o desenvolvimento das competências de leitura e escrita em condições equitativas. Segundo Moran (2018), a democratização do acesso às tecnologias é um passo essencial para garantir uma educação de qualidade e alinhada às demandas da sociedade contemporânea.
Além disso, é preciso considerar o tempo de exposição das crianças às telas. Na alfabetização, a aprendizagem ainda depende fortemente da motricidade, do contato físico com o papel e do desenvolvimento da coordenação fina. O uso excessivo de dispositivos digitais pode comprometer essas habilidades, se não houver equilíbrio entre as atividades virtuais e as práticas concretas. Por isso, o papel mediador do professor é fundamental: ele deve planejar momentos específicos para o uso das tecnologias e atividades que favoreçam o desenvolvimento integral da criança.
Outro desafio importante diz respeito à seleção dos conteúdos digitais. Nem todo material disponível na internet possui qualidade pedagógica ou adequação à faixa etária dos alunos. Cabe ao professor filtrar, adaptar e contextualizar os recursos, garantindo que estejam alinhados aos objetivos de aprendizagem. Essa curadoria digital é um aspecto essencial do trabalho docente no século XXI, exigindo criticidade e sensibilidade pedagógica.
Apesar desses desafios, as possibilidades que as tecnologias digitais oferecem para o processo de alfabetização são amplas e promissoras. Elas permitem que o ensino se torne mais atrativo, interativo e personalizado. Ferramentas como aplicativos educativos, plataformas colaborativas e ambientes virtuais de aprendizagem possibilitam que os alunos avancem em seu próprio ritmo, explorando diferentes formas de expressão e interação com o conhecimento.
As tecnologias também favorecem a aprendizagem significativa e o protagonismo infantil. Ao utilizar jogos digitais, histórias interativas e vídeos educativos, as crianças passam a participar ativamente do processo de aprendizagem, tornando-se construtoras do próprio saber. Freire (1996) enfatiza que ensinar é criar condições para que o aluno produza o conhecimento, e não apenas recebê-lo de forma passiva. O uso pedagógico das tecnologias está em consonância com essa perspectiva, pois estimula a investigação, a curiosidade e a autonomia dos estudantes.
Outro ponto positivo é o estímulo à interdisciplinaridade. As tecnologias digitais permitem integrar diferentes áreas do conhecimento — língua portuguesa, matemática, ciências, artes e geografia — em atividades conjuntas. Por exemplo, um projeto de alfabetização pode incluir a produção de um livro digital com temas ambientais, unindo leitura, escrita e conscientização ecológica. Esse tipo de prática desenvolve habilidades múltiplas e torna o aprendizado mais contextualizado e prazeroso.
As possibilidades de inclusão também são expressivas. As tecnologias podem ser grandes aliadas na superação de barreiras de aprendizagem, principalmente para alunos com necessidades educacionais específicas. Softwares de leitura de texto, aplicativos com letras ampliadas, recursos de áudio e vídeos com legendas são exemplos de ferramentas que promovem o acesso à alfabetização de forma mais justa e equitativa. Kenski (2012) ressalta que as tecnologias, quando bem utilizadas, têm o poder de romper fronteiras e aproximar os sujeitos do conhecimento.
Além disso, as tecnologias digitais favorecem o trabalho colaborativo entre alunos e professores. Plataformas de aprendizagem e ambientes virtuais permitem que os estudantes troquem experiências, compartilhem ideias e aprendam uns com os outros. Essa colaboração estimula o desenvolvimento de competências socioemocionais, como a empatia, a comunicação e o respeito às diferenças — aspectos fundamentais na formação integral das crianças.
Entretanto, para que essas possibilidades se concretizem, é indispensável que o uso das tecnologias seja intencional, planejado e humanizado. O professor deve manter o foco no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, garantindo que a tecnologia seja um meio e não um fim em si mesma. O uso equilibrado entre o digital e o concreto, o virtual e o real, é o que assegura uma alfabetização rica e significativa.
Por fim, é importante compreender que a tecnologia sozinha não transforma a educação. Ela é uma ferramenta poderosa, mas depende do olhar sensível e criativo do educador para se tornar efetivamente transformadora. O grande desafio, portanto, é equilibrar tradição e inovação, valorizando o que há de melhor em cada abordagem. Quando bem mediadas, as tecnologias digitais não apenas auxiliam na alfabetização, mas também formam crianças mais críticas, criativas e preparadas para os desafios da sociedade contemporânea.
Considerações finais
O uso de tecnologias digitais no processo de alfabetização infantil representa um avanço significativo na forma como a escola se relaciona com o conhecimento e com as novas gerações. As transformações tecnológicas trouxeram mudanças profundas nas práticas sociais e comunicativas, e a educação não pode se manter alheia a esse movimento. Integrar recursos digitais às práticas pedagógicas é uma necessidade contemporânea, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental, quando se formam as bases da leitura e da escrita.
Ao longo da reflexão apresentada neste artigo, foi possível compreender que as tecnologias digitais, quando utilizadas de maneira intencional e planejada, tornam-se importantes aliadas do processo de alfabetização. Elas contribuem para o desenvolvimento das habilidades linguísticas, cognitivas e sociais das crianças, tornando a aprendizagem mais prazerosa, interativa e significativa. Aplicativos, jogos educativos, vídeos, plataformas digitais e histórias interativas são recursos que aproximam o conteúdo escolar da realidade vivenciada pelos alunos, estimulando o interesse e a curiosidade.
Entretanto, é fundamental destacar que a tecnologia, por si só, não garante o sucesso da alfabetização. O elemento central continua sendo o professor, que atua como mediador entre o conhecimento, os recursos tecnológicos e o aluno. Cabe ao educador planejar o uso das ferramentas digitais de acordo com os objetivos pedagógicos, selecionar conteúdos adequados e acompanhar de perto o progresso dos estudantes. Como enfatiza Freire (1996), ensinar é um ato de criação, e o educador precisa estar aberto à inovação, à pesquisa e ao diálogo com a realidade do aluno.
Os desafios também se fazem presentes, como a necessidade de formação continuada dos professores, o acesso desigual às tecnologias e a exigência de infraestrutura adequada nas escolas. No entanto, esses obstáculos não devem ser vistos como barreiras, mas como oportunidades para repensar as práticas pedagógicas e fortalecer o compromisso com uma educação inclusiva e de qualidade.
O equilíbrio entre o uso de tecnologias digitais e as práticas tradicionais é essencial. A alfabetização precisa continuar valorizando o contato direto com os livros, o uso do lápis e do papel, as rodas de leitura e a interação humana. As tecnologias devem complementar — e não substituir — esses momentos, enriquecendo o processo e ampliando suas possibilidades.
Conclui-se, portanto, que o uso de tecnologias digitais na alfabetização infantil deve ser compreendido como um caminho promissor, desde que acompanhado de reflexão pedagógica, planejamento e sensibilidade. A escola que acolhe o novo sem perder seus princípios formativos torna-se um espaço mais dinâmico, criativo e inclusivo. Assim, o desafio e a missão do educador contemporâneo são integrar o melhor da inovação tecnológica com o valor insubstituível das relações humanas, formando crianças leitoras, escritoras, críticas e preparadas para atuar de forma consciente na sociedade digital em que vivem.
Referências
· FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
· KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 7. ed. Campinas: Papirus, 2012.
· LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
· MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 7. ed. Campinas: Papirus, 2018.