O USO DA DECADIALÉTICA NO ÂMBITO EDUCATIVO: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CONCRETO E REAL DO ALUNO FRENTE AS CONTRIBUIÇÕES DO FILÓSOFO MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

RESUMO: A educação é uma construção de trocas de conhecimento entre o discente e o docente sempre repleta de oposições dialéticas. O ensino ao aluno enfrenta grandes dilemas quanto a passagem da  teorização do conhecimento para a posterior aplicação do mesmo na realidade na qual se faz intérprete e integrante ativo. Ademais enfatiza-se que a educação não se deve restringir estritamente às práticas do ensino ou das formas de conhecimento em si, mas sim na inter-relação social, econômica, psicológica e pedagógica do aluno para com a sociedade na qual está e será inserido.  Nesses dois aspectos essenciais cremos que a decadialética de Mário Ferreira dos Santos torna-se essencial: como forma de ativa na construção do próprio conhecimento e como uma conquista intelectual e ética do indivíduo na sociedade, sendo a decadialética uma aposta nesse processo de construção de uma unidade de sentido humano autêntica e verdadeira para o mesmo.

PALAVRAS CHAVE: EDUCAÇÃO – CONHECIMENTO – DECADIALÉTICA – SABER – PENSAMENTO CONCRETO – MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

INTRODUÇÃO:

Ainda que a educação esteja refletida numa grande pluralidade de conceitos e significações, de uma forma geral conceituamos a educação como o ato de transmitir às novas gerações um determinado conjunto de saberes e valores, ressaltando que este transmitir é real-realmente uma construção do aluno frente à troca horizontal de conhecimentos para com o professor (TARGA, 2015, p.10). Ademais, hoje sabemos

que a educação é sempre uma aposta de um processo harmônico de desenvolvimento do ser nos seus aspectos intelectuais, morais e físicos, ou seja, a construção de um ser concreto, que tenha participações significativas e autênticas na sociedade na qual está inserido.

Sabemos assim, que a educação sempre visa um contexto maior e mais amplo de extensão que a aquisição de conhecimentos, compreende sim uma correlação maior do ser aprendiz com fatores políticos e sociais ao longo da sua própria história (TARGA, 2015, p.120). Nesse aspecto as pedagogias histórico-sociais buscam uma compreensão da educação como um processo mais abrangente de construção crítica do saber, de autonomia individual do aluno e de participação ativa na construção do conhecimento. Parodiando às próprias palavras do grande educador brasileiro, Paulo Freire, uma das metas essenciais da educação é criar um pensamento autêntico no aluno, que no qual o mesmo exerça ferramentas críticas verdadeiras e dialógicas com a sociedade da qual faz parte (FREIRE, 1987, p. 63).

Por outro lado observamos que para ter as ferramentas adequadas para a construção do verdadeiro saber que transcende os muros das escolas há a necessidade de um método de apropriação de ensino que dialogue concretamente e de forma eficaz com a realidade do aluno e principalmente com a sociedade na qual vivencia e que deve participar. O método decadialético de Mário Ferreira do Santos, é uma aposta séria e concreta nas busca de soluções para esse objetivo, por ser coerente com a educação contemporâneo frente a todas a contradições e aporias, e buscar uma concreção humana mais completa e sólida.

Nesse ínterim o artigo buscará mostrar as possíveis contribuições da dialética de dez campos de Mário Ferreira dos Santos para com a educação contemporânea, tanto na construção dos projetos pedagógicos, do desenvolvimento do ensino pelo professor, do saber em si do aluno, como na formação concreta e autêntica do mesmo para com a sociedade.

A DIALÉTICA E A DECADIALÉTICA:

A dialética é a arte de esclarecer através de ideias (dos SANTOS, 1959, pg.88). Assim ela trabalha entre opiniões, sopesa valores e intenta concretizar a

discussão, buscando esclarecer ideias ou opiniões diferentes. Como bem enfatizava o pensador brasileiro, a dialética é um verdadeiro embate entre as áreas intuitivas, racionais e páticas do ser na constituição do seu próprio saber(DOS SANTOS, 1959), entendendo a área intuitiva como construtora do argumental das teorias lógicas, e a parte pática como as tensões não racionais constitutivas do próprio saber sempre presentes e influenciadoras dessas práticas.

Na dialética, da oposição de ideias opositivas se faz a síntese e composição de um novo conhecimento que identifica, esclarece, anula totalitarismos ou extremismos teoréticos, criando novos conceitos mais concretos com a realidade.

A história da construção do raciocínio dialético passou por vários pensadores, desde Platão na era clássica grega, os trabalhos escolásticos de Nicolau de Cusa; os modernistas Kant, Fichte, Schelling; os contemporâneos Hegel e Marx, e os existencialistas Heidegger e Gadamer (DOS SANTOS, 1959). O raciocínio decadialético de Mário Ferreira dos Santos intenta aglutinar todas as contribuições dos mesmos, não nas suas contradições metafísicas ou ontológicas, mas na busca de um método construtivo argumental que possibilite precisar os limites intuitivo-racionais e tensionais dos conhecimentos em jogo, na busca de uma síntese dos opostos que não se auto-eliminem mas ao contrário que se auto-afirmem na sua existência concreta. Consta de um raciocínio dialético sistematizado em dez campos, originado de todos esses diferentes posicionamentos, mesmo até com os seus contemporâneos, já que como bem afirma o autor, se constrói com conceitos dialéticos clássicos e escolásticos, se transforma com elementos contemporâneos da dialética hegeliana, marxista e existencialista e retorna reforçando-se numa existência fática e real (DOS SANTOS, 1962, p.133). A decadialética outrossim é uma aposta intelectual coerente e defendida pelo pensador brasileiro que não pretende de forma alguma criar uma via analítica única de avaliação do pensamento, como tampouco crê que seu método esteja acabado ou represente o método final para a análise de discursos (DOS SANTOS, 1959, p.239). Busca isso sim realizar uma análise clara e evidente que une a lógica com a dialética, a intuição com a dedução, as possibilidades reais ônticas ou ontológicas com a possibilidades abstratas da mente, as análises finais variantes e invariantes, já que a realidade é antinômica e potencial, não é estática e nem absoluta. Por outro lado, as contribuições idealistas de Hegel e

materialistas de Marx são imprescindíveis nessa análise dialética, na aplicabilidade real do método porque analisam fatos da realidade concreta, sua historicidade e sua espacialidade existencial humana, seus fatores contraditórios meta-epistemológicos, seu ser-ai que dialoga tanto internamente como se enfrenta a embates externos. Cremos por esse motivo que o raciocínio decadialético é essencial na análise de toda teoria, opinião ou conceituação filosófica pois intenta intelectualmente a apodicidade, o rigor filosófico e serve outrossim como uma resposta distinta aos pensamentos cientificistas, lógico-matemáticos, absolutistas empíricos ou racionalistas já que une a realidade com a construção argumentativa e não foge a abstrações nem a empiria pura (Dos SANTOS, 1959, pg. 242).

Seu caráter relacional permanente entre a teorização das ideias e sua real existência fática, entendendo a existência fática como nossa atuação no mundo real, assim como tentativa de integrar contradições do conhecimento buscando uma ciência dialógica e concreta é essencial a toda construção do saber. O uso do raciocínio decadialética, tanto por parte do educador, como no educando, como também na própria ciência pedagógica que coordena ambas tensões, nos parece uma aposta coerente e real para criarmos uma verdadeira conceituação de princípios educacionais, assim como aplicações concretas na realidade na qual esses estudos serão inseridos...