rumo ao norte
sem medo da morte
jogando com a sorte

chegou minha hora
de ir embora
para o mundo lá fora

dormindo na rua
sob a luz da lua
da cidade nua

de frente com a fome
enfrentando o homem
imortalizando meu nome

na memória os olhares
na visita os lugares
na despedida os mares

conversas sem sentido
com mendigos mal vestido
é o mundo que foi esquecido

caminhar pela estrada
na paisagem desgastada
de uma vida fracassada

sem mais trabalhar
pelo país a viajar
vale a pena arriscar

os corações cheios de dor
as almas perderam o valor
minha vidência e o esplendor

o tempo acabou
a esperança passou
o que aprendi ninguém ensinou

uma carona para o futuro
enxergo melhor no escuro
tudo é tão prematuro

moldados em suas casas
como um anjo que perdeu suas asas
implorando por covas rasas

enquanto busco a cura
mergulhado na loucura
sem temer qualquer altura

sei que esse é o meu caminho
como sei que adoro vinho
ficando longe do remoinho

não acredito em solidão
não acredito em religião
só acredito na minha imaginação

como um cão na sarjeta
um ser de outro planeta
uma vida que ninguém aguenta

busco uma forma de liberdade
esgotando toda a maldade
que se acumula na cidade

sempre em frente
pois o sol é mesmo quente
me criei para se diferente

minha existência eu comando
o meu corpo eu mesmo sangro
continuo ainda respirando

serei o mais afastado
que por Deus e mundo foi abandonado
mas com o espírito purificado

serei o dono da rodovia
poeta da rebeldia
até o inferno me louvaria

como a sombra que alguém quer ver
como o livro que alguém quer ler
como todos querem ser

fui levado pelo motorista
o ônibus riscando a pista
nas palavras do imoralista

alguns vão para o céu
outros para o motel
mas a cruz de Cristo é de papel

eu não nasci
fui jogado e cresci
e agora querem saber como viverei aqui

vivo um dia de cada vez
minha fé se faz na lucidez
nas trilhas da embriaguez

mentiroso é quem diz não saber mentir
medroso é quem tem medo de partir
nada vivo me impede de prosseguir

a crença eu vejo nos espelhos
vocês que rezam de joelhos
não venham me dar conselhos

o caos proclamei
a vida traspassei
nesse reino sem rei

entre a alegria e a tristeza
a burguesia e a pobreza
cheguei pelo fundos da delicadeza

através do túnel mais profundo
percorrerei o imenso mundo
como o criador do absurdo.