O meu tio, após uma temporada na capital dos mineiros, voltou à casa paterna. Decorridos tempos e contratempos, ele se empregou na Organização Contábil Pereira Neto, onde eu já exercia a função de guarda livros. O telefone não existia nas casas e todos tinham que fazer fila no posto telefônico. Finalmente o DDD chegou à cidade, custando uma fortuna, restrito aos comércios e algumas residências. Nos primeiros dias do telefone instalado no escritório recebemos alguns trotes e passamos outros. O titio saiu do escritório dizendo que iria recolher as notas fiscais de algumas firmas. Passado um tempo ele estava de volta e foi avistado pelo Ademir, meu irmão. Neste momento eu estava passando um pano com álcool no aparelho telefônico, que eu mesmo havia sujado com minhas mãos cheias de carbono. Ademir falou rapidamente: Vamos passar um trote no tio. Fala que é uma ligação para ele, de parte de uma bela moça que residia na capital dos capixabas. Deixei o telefone fora do gancho e gritei: Corre tio, é telefone da Genoveva para você. O homem veio bufando, deixou a bicicleta cair na calçada, pegou o fone e ficou falando: alô, alô, alô... A brincadeira seria apenas isto, mas o interesse do meu tio em falar com Genoveva era tão grande que ele acreditou que a ligação tinha caído. Aproveitando a deixa, resolvi prolongar o trote e pedi desculpa por ter, sem querer, passado o pano no pino preto que serve como interruptor das ligações. Puxa! Sem querer querendo eu desliguei o telefone. O irmão do papai falou que eu era um jacu do mato, um bobo, uma pessoa que não sabia nem o que era um telefone. O parente de segundo grau na linha colateral apanhou a bicicleta e saiu desembestado. Olhei para o Ademir e perguntei que Genovesa era essa com quem o nosso tio queria tanto falar. Ademir pediu segredo e me contou que titio tinha conhecido a moça em um final de semana e estava enrabichado por ela. A mãe de Genoveva morava em Mantenópolis, razão por que a donzela esteve no interior visitando a genitora e acabou por esbarrar no empregado do Miguel. Lá vem o bobo de novo, repete o trote, falou o Ademir. Vem logo, a Genoveva esta na linha de novo. O homem pegou o fone como se fosse uma cerveja gelada, com muito gosto. Alô, alô, alô... O in memoriam Nilton Cardoso, nosso colega de trabalho, não conseguiu segurar e começou a rir. Não teve mais jeito, todos gargalhavam a custa de titio. A frustração de que a moça nunca tinha ligado foi maior do que o trote. O furioso e desapontado homem partiu para cima de mim e queria me fazer engolir uma bucha de papel. Foi preciso a intervenção de terceiros para que eu não fosse sufocado com papel garganta abaixo. Depois de acalmado, o tio falou que quando do primeiro trote, acreditando mesmo que era a Genoveva, foi até a casa da mãe dela e pediu o numero do telefone da filha. Passou no posto telefônico para ligar com mais privacidade, mas a fila no posto era grande, tendo então deixado para ligar mais tarde. Imagina Creumir! Se eu ligo para Genoveva. Eu iria indagar o que ela queria falar comigo, torcendo para que fosse algo romântico, e ela provavelmente iria perguntar se eu não estava ficando doido. Só te peço uma coisa, não quero que você conte este episodio para ninguém. E nem aquele do falso homossexual com quem eu iria me encontrar em BH, caso contrario, você vai ter que engolir a lixeira inteira.