O TEMPO QUE O TEMPO FAZ

      Recentemente, ouvi, não sei de quem: “...dinheiro para o trabalhador é um escudo; para a criança uma atração; para o pobre, um conto de fada; para o rico, tudo; para o mundo, um risco; no mundo dos negócios, dinheiro é tempo; na história, tempo é dinheiro.” Tempo é dinheiro. Mais do que isso, é vida. E para conseguir uma vida agradável, a correta utilização do tempo é essencial. Na rotina cada vez mais estressante e atribulada, há momentos em que as pessoas parecem perdidas na pressa para atenderem aos seus compromissos. Já diziam os nossos pais: “Há tempo para tudo, para brincar, para estudar...” Eles estavam e ainda estão certos. Basta se organizar e passar a ter o tique-taque do relógio ao seu favor.

      Relógio: um objeto de pulso, de parede, de mesa, do vento, do sol...O problema da má administração do tempo precisa ser resolvido em resposta a todos e quaisquer propósitos que envolvam o ser humano, suas relações, seus planos e possibilidades. O processo é evolutivo, não dá para seguir, alcançar, realizar tudo de imediato, mas com o tempo, obtêm-se respostas se forem procuradas com metas e objetivos bem definidos, ao seu tempo.

      Para se comandar o tempo que nos é concedido, o maior impeditivo é a preguiça. Esse é o primeiro desafio, com “moleza”, nada que se faça pouco, por conta do tempo, adquire importância no contexto de valorização, mas configurará o consumo indevido do tempo. Que o desânimo seja suprimido, que a falta de vontade seja para os fracos.

      Esforçar-se e praticar exercícios físicos é moderno e nos coloca bem visíveis diante da sociedade moderna. Dormir, pode ser benéfico ao físico e ao espírito, mas pode ser uma fuga dos afazeres, dos estudos, do trabalho, da vida. Acordar cedo é uma poderosa ferramenta para quem quer usar o tempo como instrumento de possibilidades e conquistas. Acordando mais cedo há mais tempo para se programar e até conseguir uma folga para descanso durante o dia. Redes sociais, somente com hora marcada e espaço de tempo matematicamente limitado. É moda ser informado de tudo, em tempo real, pelas redes sociais, produzindo-se um ambiente virtual que atropela o tempo, incita os interesses, sufoca a lógica e produz dependentes usuários de uma ferramenta perigosa para qualquer um que se torne “vítima” de uma tela.

      Temos apenas uma boca, para falar pouco; dois ouvidos, para ouvir em dobro; duas mãos para apoiar e produzir; dois pés para firmar-se e avançar, um cérebro para aprender, realizar e satisfazer. Ora, se é apenas um cérebro, ele não dará conta de múltiplas ações simultâneas, se não houver disciplina e cuidado. Que se evitem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Comportando-se como um robô multifuncional, mesmo que a intenção seja a melhor, nada sairá conforme o desejado e há o risco do refazer tudo, é lutar contra o tempo, sem tempo para ter tempo.

      Se costumamos esperar até o último instante para começar algumas tarefas, perigo à vista. Somos vítima do vício da procrastinação. Comportamento nutrido por grande percentual de pessoas em todos os níveis pessoais, em todos os meios de convivência humana, pelas mais variadas justificativas. Trata-se do terrível ato de adiar afazeres, postergar ações, deixar para depois, mesmo diante da comprovação de que o tempo não para, não volta, não se duplica... esvai-se. Para que, crianças e adolescentes alcancem a realização de projetos futuros, precisam, no seu tempo, mesmo acreditando que criança não tem que agir com responsabilidade, o caminho para que se desenvolva de forma plena  é preciso encontrar alternativas para eliminar a procrastinação desde cedo.

      Um estudante aplicado pode encontrar dificuldades na compreensão e domínio de uma determinada área do conhecimento. Por capricho e dedicação ele passa a estudar afincadamente aquela disciplina, esquecendo-se das demais, não se alimenta, não dorme, foca nos exercícios, estuda as lições assiste a vídeos sobre aquele assunto, como se ele fosse o único. Na hora da prova, por não ter dormido bem, se alimentado adequadamente, vivido plenamente, não consegue provar que aprendeu. Fracassa, por conta da má administração, não das atividades em si mesmas, mas do seu tempo. É próprio da condição humana, e fazemos isso quando a tarefa a ser executada não é tão divertida quanto aquelas que fazemos por prazer ou lazer.

      A procrastinação se caracteriza como um vício quando praticada frequentemente e passa a prejudicar nossa vida pessoal e profissional. É um círculo vicioso que só tende a piorar com o tempo. A procrastinação em crianças e adolescentes é bem comum durante a fase escolar. Manifesta-se, principalmente, quando existe um trabalho demorado que deveria ser feito antes de jogar videogame, questões de fixação que atrapalham a ida ao shopping, à pracinha, ao teatro, coisa rara nos dias de hoje ou, até mesmo, a prática esportiva que deixa de ser feita quando estreia uma série nas redes sociais ou nos sistemas televisivos. A iminente causa de tal vício é a falta de gerenciamento do tempo e organização. Em muitos casos, também devido à falta de gestão emocional frente a emoções como medo de falhar e baixa autoestima, ocorrem problemas de aprendizagem e insegurança.

      Parece pouco, mas iniciamos o processo de postergar compromissos, por exemplo, quando usamos o “botão de soneca” no despertador, para acordar instantes mais tarde, além do previsto ao deitar-se, e imaginar que pode usar a máxima dos tempos idos “parem o mundo que eu quero descer”. O mundo, como o tempo, não para. A procrastinação é passada de pais para filhos, de irmãos maiores, para menores, de professores para alunos, de sinais de trânsito para a velocidade, de condutores para transeuntes. Podemos negar mas todos nós procrastinamos. Quem já criou o hábito de procrastinar sempre tem muita dificuldade de abandoná-lo. Estudos indicam que  20% dos adultos da população mundial são procrastinadores crônicos — apenas no Brasil, esse grupo alcança a margem de 20 milhões de pessoas. Se você, pai, mãe, responsável ou pessoa próxima, procrastina além do normal perto de uma criança, questione-se se está sendo um bom exemplo. Dir-se-ia que procrastinar toma as dimensões de uma bola de neve, quando não nos sentimos felizes por algumas horas, enquanto deixamos aquela atividade para depois, mas logo o sentimento ruim chega e começa a impactar o nosso bem-estar.

      O tempo é o senhor das ações humanas. “Não deu tempo, preciso de tempo, não tenho tempo, espero o tempo, preciso de mais tempo, ao mesmo tempo, antes do tempo, depois do tempo...­” uma referência a tudo o que se diz, se faz, se explica, se justifica, se desculpa. Se o tempo é tão determinante para justificar as falhas e conquistas humanas, imperioso se torna que esse elemento seja visto como um aliado de quem precisa ser protagonista de si mesmo e de suas ações enquanto agente do seu tempo.

      Naquele tempo, diz a história: “O tempo perguntou pro tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.” Sendo o ser humano, aquele que se julga o senhor dos tempos configura-se como uma verdade indiscutível de que independente dos avanços tecnológicos e científicos conferidos ao homem do século XXI, agente do seu tempo com ferramentas poderosas como a inteligência artificial, se perdeu em si mesmo.

     Outras espécies têm agido com melhores armas. As formigas, por exemplosão consideradas uma espécie de animais mais trabalhadores do Planeta. Apesar do tamanho, têm uma capacidade invejável de organização e divisão de tarefas. Na hora de buscar alimentos, formam um batalhão e saem em busca do alvo removendo impedimentos, superando dificuldades, ultrapassando barreiras, a fim de alcançar os seus objetivos. Elas usam adequadamente o tempo e fazem do seu tempo, a confirmação do seu status de excelentes naquilo que se propõem a fazer.

      Quando se questiona a presença inevitável do tempo no universo herdado pelo homem, não há como se ignorar ser esse, o termômetro  de todas as ações, o eixo de todos os atos, a base de todos os propósitos. Certa feita, um pai com excelentes condições financeiras dirigiu-se ao seu filho e perguntou qual seria o melhor presente que ele sonhava receber. E a criança, surpreendentemente, respondeu: -“hoje”. Como assim? Refletiu silenciosamente o pai. Como era possível associar algo material, o presente, no caso, com o tempo? Seria pelo simples fatos de a palavra “presente” prestar-se a denominar o objeto e, simultaneamente corresponder a uma parcela do tempo?

      Em sendo o tempo, senhor de si mesmo e de tudo que o homem projeta, imperativo se faz levantar meios para transmitir às novas gerações que o tempo precisa ser trabalhado, valorizado, reconhecido a fim de estreitar o seu papel à racionalidade. A criança precisa, ao seu tempo, aprender a aprender  que em sua fase inicial de vida, deverá haver tempo para brincar, tempo para aprender a brincar de brincar, tempo para iniciar-se na tese de que o tempo é ouro. O melhor tempo, agora; o senhor do agora, a história do ontem; o melhor tempo para projetar o futuro, agora.

     O adolescente precisa administrar o tempo a partir das lições vivenciadas na infância, comprovando por meio de atitudes “amadurecidas” que o adolescente não tem porque se sentir inexperiente, incapaz de ser agente do seu tempo, de suas ações e dos seus propósitos. Afinal, a adolescência já é uma segunda fase sequenciada, devidamente catalogada a fim de desmistificar que o adolescente é imaturo.

    O jovem, em fase de desenvolvimento biopsicossocial, começa a abrir espaço para as mais diversas áreas do conhecimento, envolvendo-o em um ciclo que implica sonhos, projetos, perspectivas e expectativas de um amanhã próximo:  universalização do saber, a fase de amadurecimento nos estudos, na família, se projetando para o trabalho, para a universidade, para o mercado de trabalho, para a vida.

      Racionalidade. Razão de ser, porque sabe fazer; razão de fazer porque aprendeu a ser, ao seu tempo, protagonista de sua história. Afinal o ser racional busca razões para ter o comando de tudo. Os animais não dotados de razão têm seus mistérios e segredos. Mito ou folclore, pulemos para o universo de pequenas irracionais: as formigas. Pequenas, de pouco valor expressivo dentre os insetos, elas trazem, em si, um recorte deveras curioso que vai além da sua conhecida capacidade de agir em grupos, colônias com disciplina  e requinte de fazer inveja a grandes pensadores. Uma curiosidade: O que as formigas pensam de nós? Ou, em que elas pensam?  “Elas pensam no futuro e se preparam. Elas pensam no verão o inverno inteiro. Durante o inverno, elas se motivam pensando: “Esse tempo horrível já vai passar, logo sairemos daqui”. O que elas pensam de nós, melhor não registrar...

     Que lição tiramos desse recorte? Como podemos vislumbrar um futuro capaz de nos fortalecer porque fomos fortes no presente, porque fomos sensatos no passado? Precisamos fazer do tempo uma ferramenta eficiente que se traduza em eficácia.

  • Sebastião Maciel Costa