O "Tarifaço" de Trump e os Nossos Jornalistazinhos

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 14/07/2025 | Política

É interessantíssimo perceber os comportamentos das pessoas, não de um, mas de todos os campos de atuação política. E, após tal escrutínio, ter a certeza de que não existe povo mais subserviente que o brasileiro. Falo isso, basicamente, por duas razões: numa das cenas mais patéticas que tive o desprazer de assistir, o Ex-Presidente da República Jair Bolsonaro fez continência para a bandeira dos EUA. Bolsonaro, e eu não peço que me desculpe (até mesmo porque nada sinto por ti, a não ser desprezo), você foi absolutamente ridículo. Aliás, a pecha de comportamentos ridículos se aplica à maior parte da imprensa brasileira.

A segunda razão é que, com o “tarifaço” de Trump contra o Brasil, a maioria das “análises” dos referidos jumentos põe a culpa num comportamento que, por parte de Lula, seria ideológico (como se uma das motivações de Trump, o processo contra Bolsonaro, que o Presidente dos EUA confessa tão bem na carta enviada a Lula, também não o fosse), e no fim expõem situações corriqueiras que ocorrem no mundo todo para, ao fim, deificar aquele país, com afirmações como “se fosse nos EUA…” e apelando a uma conclusão que, na sua podre ótica, seria invariavelmente mais insatisfatória “se fosse no Brasil”.

A esses, eu digo: realmente, se fosse nos EUA, você seria julgado levando-se em conta a cor da sua pele. Se fosse nos EUA, a repressão a qualquer questionamento sobre o atual mandatário seria a truculência policial. Se fosse nos EUA, cuspiriam nos seus pés, ou até mesmo no seu rosto, quando da primeira identificação de que é latino. Se fosse nos EUA, pessoas de rua seriam absolutamente desprezadas por sua condição social, sob a torpe justificativa de que não lutaram para obter o “sonho americano”. Se fosse nos EUA, psicopatas estariam rondando a escola de seus filhos e esperando a primeira oportunidade para cometer uma chacina. Se fosse nos EUA, por um crime vagabundo você poderia ser condenado a muitas décadas de prisão, enquanto a plutocracia (e, nunca, democracia) lá instalada protegeria os genocidas que, de fato, dirigem o país. Se fosse nos EUA, muitas pessoas estariam se suicidando porque a mídia lhes impõe padrões de consumo impossíveis de atingir, pois se sentem “inferiores” ao sistema.

Mas não é isso o que a nossa imprensa escrota que nos passar. O que nos transmitem é, simplesmente, ódio a Lula pela atual crise diplomática. Como se Trump, conforme acima expresso, não agisse por pretensões ideológicas ao exigir o fim do processo contra Bolsonaro (além disso, se me rebatem ao argumento de que não se trata de ideologia, é amizade pura). Vejam, amizade. É o Presidente dos EUA usando a máquina pública para defender um interesse privado ("se fosse nos EUA…"). No Brasil tal conduta renderia, no mínimo, impeachment. Mas isso é muito complexo para as cabecinhas da maior parte do jornalistas, que tanto atacam Lula por sua baixa e escolaridade.

Além disso, nossos jornalistazinhos sempre quiseram impor o pensamento de que o sistema de livre globalização seria o melhor para o Brasil. Então, é o que Lula faz ao se aliar a quem tem melhores chances de satisfazer nossos interesses comerciais, e para quem serão desviadas as exportações afetadas pelo “tarifaço” (bem como a novos mercados que venham a, posteriormente, se abrir). Por que o Brasil não pode se aliar à Rússia e à China (cujos regimes internos eu também condeno)? É porque não é uma aliança com os EUA? Se a Rússia e a China são ditaduras, aliados do governo estadunidense, como a Arábia Saudita, o Egito e o Paquistão são o que? Se, no sistema de livre globalização, formos só negociar com quem tem as mesmas visões de mundo e sistemas políticos parecidos ao nosso, ficaremos isolados. E não é isso o que os nossos jornalistazinhos querem, presumo eu. Ou é?