O Sujeito Surdo no Contexto Educacional do Ensino Fundamental na Sociedade Atual
Publicado em 16 de janeiro de 2017 por Lucinéia Militão Sarti
1. Introdução
Este estudo tem como finalidade abordar questões referentes à educação do surdo.São inquietações de quem está inserido na educação especial,acompanhando a escalada de desenvolvimento do surdo e também analisando o grau de envolvimento das instituições de ensino no recebimento e assistência que são ofertados aos alunos no que se refere à inclusão significativa de ensino/aprendizagem.Também tem como finalidade a reflexão acerca da realidade atual que é vivenciada nas escolas regulares de ensino pelos alunos surdos.O eixo central proposto para que realmente ocorra um trabalho diferenciado com o sujeito surdo é pensar a educação para esses sujeitos sob a perspectiva de um ensino bilíngue que se apresenta com uma série de mudanças que vai além das metodologias.É inserir de forma plena o sujeito surdo com língua própria(LIBRAS)desenvolvendo um trabalho com significação,oferecendo espaços sociais e educacionais semelhantes ao dos ouvintes.
O trabalho é norteado por meio de dados coletadosem observâncias e experiência profissional nos períodos em que atuando como professora bilíngue na disciplina de História tive a oportunidade de acompanhar como se processa o ensino/aprendizagem para alunos surdos. Minha observação focou os alunos em todas as disciplinas e em seu espaço escolar,como também a atuação do professor com o aluno surdo com e sem a presença do intérprete.
É muito evidente a dificuldade de compreender como ocorre a aprendizagem no universo do surdo, adaptar e fornecer atividades de suporte para que o desenvolvimento educacional com significância realmente aconteça.Também é claroa necessidade de mudanças, por parte das Instituições governamentais que devem se preparar para receber o aluno surdo e oferecer a inclusão ao surdo nas escolas regulares de ensino,respeitando o bilinguismo que é amplamente defendido pela comunidade surda como alternativa significativa na transmissão do conhecimento, o que já é previsto em lei.
A trajetória histórica dos surdos é repleta de mudanças significativas que influenciaram na posição atual da comunidade. A esse respeito é importante que se reflita sobre três pontos centrais que influenciam de forma significante o ensino para o sujeito surdo. A LIBRAS como segunda língua, o bilinguismo e a inclusão.
2. Mudanças construtivas no ensino/aprendizagem - A Libras como segunda língua
A respeito da Libras, Libras Brasileira de Sinais, sua importância se deve principalmente ao espaço conquistado pela comunidade surda que recorrendo a movimentos sociais em prol de seus direitos, conquistaram garantias de valorização e respeito às especificidades linguísticas, sociais e culturais, fatores que representam esses sujeitos. Vislumbra-se assim um cenário que é permeado pela defesa dos surdos de usarem sua língua[1], o que permite além da comunicação, a participação destes como sujeitos cidadãos na sociedade.
Nesse sentido, a contribuição que Skliar apresenta acerca da importância da Libras e sua aceitação que conforme o autor explica “A utilização da língua de sinais por parte dos surdos é, por si só, o fato que melhor sublinha esse conjunto de relações assimétricas de poder e evidencia aquilo que a maioria(minoria) ouvinte quer desterrar das escolas de surdos: a surdez”.(SKLIAR, 2013,p.23).
Evidencia-se não somente sua importância como necessária à comunicação, mas também como mecanismo de confronto às atividades tradicionaishierárquicas de décadas de práticas de dominação. A utilização do uso da Libras permite que oportunidades de compartilhamentos de experiências, desejos, anseios, informações, ampliem e diversifiquem conquistas das comunidades surdas, pois permitem resignificar espaços e saberes que antes eram majoritariamente liderados por ouvintes.
Ainda segundo Skliar, “Os surdos criaram, desenvolveram e transmitiram, de geração em geração, uma língua, cuja modalidade de recepção e produção é visuogestual. Muitos supõem que essa modalidade linguística nasceu porque a deficiência auditiva impede os surdos de acenderem à oralidade. Assim, a língua de sinais deixa de ser vista como um processo e como um produto construído histórica e socialmente pelas comunidades surdas”. (SKLIAR, 2013, p.24)
Surgida em meio a imposições e fortemente defendida como um vínculo que interliga significamente os sujeitos surdos, edificando estreitas relações de compreensão, construção, significância e intercomunicação entre os da comunidade surda. A Libras, após seu reconhecimento, alcança livre e ampla circulação passando a ser difundida nos diversos espaços educacionais. Sua obrigatoriedade permitiu a inserção nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) contemplando todos os níveis instrucionais e contribuiu para disseminar a prática de aceitação da condição de cidadania nos espaços sociais.Sànchez (1990) reconhece a importância da língua de sinais para os surdos entendendo esta como necessária aos sujeitos, já a fala é dispensável e a escrita ganha papel de destaque.
Skliar (2013) reconhece a importância da língua de sinais para a comunidade surda e faz uma reflexão critica acerca da desvalorização da mesma. Em sua visão o autor apresenta o questionamento: “Mesmo agora, quando numerosas pesquisas já têm demonstrado que as línguas de sinais cumprem com todas as funções descritas para as línguas naturais, ainda persiste e chama a atenção a sua desvalorização o seu tratamento como mescla de pantomima e de sinais icônicos e a sua consideração como um pidgin primitivo”. (SKLIAR, 2013, p.24)
Mudanças sinalizadas por intermédio de pesquisas, debates e movimentos sociais indicam a necessidade de um olhar mais atento e respeitoso à comunidade surda e suas particularidades. Compreender a importância da língua de sinais como primeira língua de valorização de uma comunidade é um bom começo para que se firme com significância, esses sujeitos.