No meu quintal, que apelidei de Meu Nano Universo, crio patos e galinhas Vivem por lá também um jabuti, chamado Porolóco, um coelhinho, de nome Cenourinha, além de alguns intrusos -- e que intrusos! --, como ratos e mucuras. Outros, o visitam frequentemente como japus e muitos passarinhos. Nele existem também uma copa de mangueira-rosa da vizinha e alguns pés de banana, manga, cacau, tucumã do amazonas, nins e algumas outras árvores como uma frondosa paineira.

                Recentemente, uma galinha ficou choca e decidiu tomar conta de alguns ovos que sua vizinha, a pata, vinha colocando no ninho ao lado... Totalizavam 10 ovos, quando a pata começou o chocá-los. Como a galinha choca persistia em quere-los para si a tarefa, decidi reparti-los igualmente: 5 ficaram com a pata e 5 com a galinha... No decorrer do período de gestação, ou melhor, incubação, a galinha dava um jeito de puxar para baixo de si, os 5 ovos da pata... Foi preciso eu fazer uma parede, separando os dois ninhos... A incubação chegou ao final, não antes, de um dos 10 ovos terem sido surrupiados ou por um rato ou por uma esperta mucura... Portanto, nasceram 9 patinhos, 5 com a pata e 4 com a galinha.

No seu primeiro dia de vida, a prole dos patinhos nascidos sob a pata saíram do ninho e começaram a explorar o terreiro. Os 4 patinhos da galinha, porém, ficaram com ela dentro do ninho, sob o calor e cuidados da mãe. Dia seguinte, resolvi interferir e toquei os patinhos da galinha do ninho, que os levou para o terreiro. Imediatamente, os 9 patinhos se reuniram em um bando só, sob dois comandos: o da pata e o da galinha. A galinha cacarejava, bicando e ciscando o chão com as suas patas, como se chamasse os patinhos adotados como filhos. A pata, próxima, cercada dos 9 patinhos, grasnava impávida, como se “soubesse” que os filhos eram dela e não da galinha... Mesmo assim, alguns patinhos atendiam ao chamado da galinha e corriam para perto dela... Viveram assim por vários dias, agora confinados em um viveiro dedicado à eles, com fornecimento de comida adequada e suprimento de água permanente. E sem a perturbação dos patos e patas adultos do terreiro.

                Na terceira semana de vida, mais um ataque noturno aconteceu entre a prole dos patinhos! Um deles sumiu! -- Teria sido caçado por um rato, uma mucura? Ninguém sabe, ninguém viu... Nessa mesma semana, encontrei um dos patinhos engatado e morto numa tela que separava o viveiro do terreiro... Devidos os tristes fatos acima, tomei uma decisão radical: Vou acabar com a prole dos patinhos! Vendi-os. -- Melhor dar-lhes uma chance de vida, do que vê-los sendo devorados soturnamente durante as noites...

                Dia seguinte ao da partida dos patinhos, vi a galinha, estranhamente empoleirada na beira do tanque de banho dos patos do terreiro. Achei estranho. Nunca tinha visto a galinha escalando aquela posição... -- Será que ela estava com muita sede? Não dei bola e fui embora.

                No outro dia, aproximadamente na mesma hora, que corresponde ao rotineiro trabalho de distribuir milho e trocar a água do bebedouro, procurei pela galinha por todo o terreiro e não à encontrei. Fui até o tanque de banho dos patos e a cena que vi me espantou e impressionou profundamente: Boiando na água, lá estava a galinha! Morta, mortinha da silva! 

Tirei o seu corpo da água e o examinei cuidadosamente. Não vi nenhuma marca de ataque de bicho, ferida ou outro sinal que indicasse a causa mortis... Comecei a conjecturar os possíveis motivos, as causas deste infortúnio. Sem nenhum argumento científico plausível, levantei a hipótese de suicídio! A galinha sentiu profundamente a ausência dos filhos postiços. Quando à vi na beira do tanque, ela na verdade estava procurando por eles... Como não suportou suas ausências, preferiu dar cabo de sua vida, jogando-se na água como uma pata que não era e morrendo afogada!