O sonho escorre pelo arame enferrujado
Parte II



Numa dessas lindas manhas de domingo, que o sol convidava a uma caminhada pelas ruas arborizadas do bairro nobre da cidade, Clemente voltou à frente do sobrado que estava a venda.

Bem próximo notou que o portentoso portão de madeira estava apodrecido nos lugares em que a madeira sem verniz ficou expostas a ação do tempo. Ele estava entre aberto.

Clemente curiosamente aproximou-se para ver detalhes do sobrado que lhe causou tanta admiração no dia anterior.

Chamou-lhe a atenção, o tamanho da casa, não percebido por cima do portão de onde ele havia visto a tabuleta de vende-se.

O jardim frontal, abandonado ao sabor do tempo, com vegetação estorricada pelo sol e morta por falta de cuidados, mantinha vivo apenas um arbusto, inacreditavelmente verde e resistente ao tempo.

Pelo que restava do jardim, percebeu por suas características, ter sido projetado com esmero de quem tem bom gosto e condições financeiras.

Um caminho coberto por um velho toldo verde levava a porta da frente que ficava dois degraus acima do jardim.

Os degraus de mármore importado que ainda denotava brilho, beleza, suavidade.

Na lateral espaço para alguns carros e a porta, semelhante à frontal, com o toldo igualmente verde, para proteger os visitantes que chegavam para festas naquele salão.

Clemente ouviu uma voz dentro da casa e afastou-se indo para o outro lado da rua.

Viu a janela aberta. Dentro um senhor passava um pano na placa pendurada na parede e falava alguma coisa com ela.

A cada limpada lenta e carinhosamente, seu olhar ficava parado, perdido no tempo. Viajava ao passado vivendo como se fosse o agora.

Para ele havia algo de especial naquela premiação, esta também era especial apenas para o ganhador.

Ele veio até a janela e chorou. Uma lágrima caiu sobre o arbusto. Este era o segredo de estar verde e vivo. Cumpria sua missão de tampar a placa, no afã de escondê-la para ninguém ver que a casa estava à venda.

Aquela premiação representava muito para ele. Estampava seu passado de vitórias, enquanto a casa representava a decadência e o fim da vida.