As imagens e seu simbolismo na Umbanda

Iremos começar a dissertar sobre esse assunto a partir de uma indagação que me fez um irmão com relação as imagens dos nossos amados guardiões da esquerda, os senhores Exus e as senhoras Pomba-Giras, a pergunta é essa é me foi feita da seguinte forma: irmão porque as imagens dos Exus e Pomba-Giras são tão depreciativas? Eu lhe sorri e disse: realmente algumas são carregadas de excesso! Na hora me veio a cabeça uma voz já minha conhecida a dizer: para que responder tão rápido assim, toda pergunta merece um tempo para reflexão. Se debruce sobre o assunto, peça um momento ao seu irmão e lhe responda algo com conteúdo ou se cale, pois o silêncio seria mais propício ou mais elegante que essa resposta vazia.
Um sorriso discreto tomou meu rosto e disse ao meu irmão de tenda, espere um pouco, as coisas não são assim tão simples... Gargalhei um pouco.
Após alguns minutos de reflexão, cabisbaixo e com o ouvido esquerdo a postos. Finalmente um sorriso de contentamento daqueles que brota no rosto de quem foi contemplado com a explicação de uma dúvida surgida e esclarecida.
Olhei para o irmão com esse mesmo sorriso e lhe falei:
Irmão, tudo tem uma razão de ser, as imagens da umbanda são simbólicas e  nos revelam por traz das suas muitas ou poucas  indumentárias, a qualidade divina que por aquela linha de trabalho está ali representada, me veio a mente a imagem do Sagrado guardião tranca Ruas das almas, no qual utilizei como exemplo a imagem de um elegante senhor de meia idade que cujo os membros inferiores os pés eram representados na imagem como pés de bode. Ele teve uma expressão de surpresa, pois justamente era sobre essa imagem que ele gostaria que eu lhe falasse, pois era seu guardião espiritual a esquerda e o “seu” Exu de trabalho. Eu lhe sorri e lhe disse que talvez seja “ele” que esteja nos ensinando através daquela inspiração. Continuei...
As patas de bode significa exatamente isso! E ele disse: isso o que? Quem tem a qualidade de trancar algo na criação divina? Ele me respondeu Deus! Sim mas Ele o faz através de qual princípio Divino? Ele disse: não sei! Quem tranca ou prende ou deixa trancafiado alguém aqui na nossa sociedade? Quem tem esse poder e autoridade para realizar uma prisão? Ele me respondeu, a polícia? Isso!!! disse eu entusiasmado. A polícia está a serviço de quem? Ele me respondeu: da Lei. Quase gritando eu disse: maravilhoso!!! Agora transporte isso para o nosso mundo religioso e saberá de quem é a função de trancar ou prender, ele rapidamente disse: é da Lei Maior e da justiça Divina, eu disse: a justiça Divina julga e não aprisiona, a lei executa e ela sim aprisiona, cada um no seu campo certo? Ele disse:  nossa como tudo tem um porquê, sim o acaso na criação divina não existe! Mas voltando ao assunto, em nosso mundo religioso quem prende ou tranca? A lei Divina, certo e quem a representa na Umbanda, ele respondeu: Pai Ogum! Perfeito. E continuei com a reflexão: então quem rege a linha do sagrado guardião tranca-ruas das almas? Ele disse, isso é fácil e todo mundo sabe que seu “Tranca” é de Ogum!
Eu lhe disse: e o porquê “ele” é de Ogum? Porque Ogum é senhor dos caminhos... E que mais? Ah ele também tem como qualidade divina a função de trancar, cujo o atributo maior pertence a Lei Divina no qual Ogum é seu representante e manifestador desse princípio Divino. Mais uma vez disse: maravilha irmão!!!
Perguntei, e aí agora entende? E meu irmão disse entende o que? Eu continuei, a função divina de trancar é uma das infinitas funções que pertence a Lei Maior, função essa que é um de seus infinitos atributos divino. Sendo um princípio Divino, seu aplicador na criação é o sagrado pai maior Ogum que é a divindade representante dessa qualidade de Deus, que é trancar tudo e todos que atentam contra a vida e seus princípios divinos. Sendo essa função de trancar regida por uma qualidade de Ogum que na umbanda se manifesta como a linha de trabalho tranca Ruas, cujo atributo pertence ao senhor Ogum e a atribuição de executar essa qualidade está nos campos do orixá Exu que é por excelência um executor final da lei, além de outras infinitas atribuições Divina.
Pois embora a atribuição de trancar pertence ao divino Ogum, aqui a nível espiritual ela se realiza através do orixá Exu que se tornou responsável por toda a reatividade ou reação à algum desequilíbrio na criação, por isso entendemos que o sagrado senhor Ogum, não é o “senhor da guerra” e sim do Diálogo, pois a guerra representa um desequilíbrio ou uma ausência do diálogo, e como os Orixas do alto e da direita só atuam a partir da presença divina gerada por nós “ diálogo” quem assumiu toda as reações das divindades Orixas do alto foi o sagrado pai orixá Exu, cuja atribuição é atuar de fora para dentro a partir das ausências divinas  momentaneamente geradas por nós, quando por desequilíbrio ficamos momentâneamente ausentes de Deus e geramos e fomentamos a guerras, ódio, vingança, devassidão, etc, todos esses sentimentos gerados somente por nós e que não encontram eco em Deus o gerador das virtudes, cujos vícios representam sua ausência. Bem, voltando ao assunto: Exu é o orixá responsável por esgotar essas ausências que em momento de dificuldade ou desequilíbrio geramos em nosso intimo. 
Sendo assim, o Sagrado guardião tranca-ruas das almas atua trancando os pensamentos e as faculdades mentais de tudo que em liberdade, atentam contra a vida do próximo.
Sendo assim ele tranca tudo que atenta contra a vida e destranca tudo que esgotado e cansado de atentar contra a vida, resolve servir a vida.
Enquanto estamos positivos ele nos protege e nos ampara contra as ausências divinas geradas contra nós. E quando ausentes e em desequilíbrio, ele tranca nossas ações para que não cometamos erros e nem venhamos a atentar contra a vida e a liberdade alheia.
Se existe o livre arbítrio, pois essa é uma lei Divina, também existe um mistério de Deus denominado trancador, cujo atributo e atribuição é de trancar tudo e todos que deram mal uso ao seu livre arbítrio e atentam contra a vida alheia, seja física, verbal ou mentalmente. Se existe a lei do  livre arbítrio, também existe a Lei do “orai e vigiai” e Ogum rege todas as Leis na criação, e o mistério trancador está no princípio dessa lei, vigiando com seus olhos atentos, todos os maus pensamentos que atentam contra a vida.
Então o porquê do pé de bode na imagem do senhor tranca Ruas das almas?
Perguntei ao meu irmão, Pé representa o que? Ele respondeu: Estabilidade? Certo, mas além de estabilidade, representa: locomoção, movimento e finalmente caminho, certo?
“ruas” simbolicamente representa o que? Caminhos ou trânsito comum de ida e vinda de pessoas ou “ espíritos” certo? Certo!
Trancar ruas é trancar um caminho coletivo por onde transita os seres, certo? Certo!
Agora trancar ruas ou caminhos das “almas” ai  já tem um outro significado, pois se ruas são caminhos onde transita pessoas, “ caminho das almas “ ou “ruas das almas” são caminhos evolutivos onde transitam espíritos de um nível para outro ou de uma “ rua para outra” e quem rege a evolução e as passagens e níveis vibratório? Não me lembro! No cemitério quando alguém é enterrado e deixa de fazer parte do nosso caminho ou dessa vida ou desse nível material, qual é símbolo que se fixa numa cova? A cruz! Muito bem! Na lápide, na data de nascimento está qual símbolo? A estrela! E na data de falecimento? A cruz.
Então simbolicamente e inconscientemente constatamos que a estrela simboliza vida e a cruz simboliza o fim da evolução de uma vida vivida nesse nível material, correto? Sim!
E quem rege a evolução e os estágios ou níveis evolutivos na nossa religião? Obaluaê! Correto! E o Nascimento da vida pertence a quem? A mamãe Iemanjá! Correto.
Aqui nesse exemplo vimos que a cruz representa a transmutação de um nível para o outro, 
Tal como a pipoca, por exemplo. (Quando eu falei pipoca, ele fez uma cara do tipo, o que tem de ver pipoca com nível vibratório?) Eu notando isso disse sorrindo: calma que eu explico a pipoca!
A pipoca é um grão que na nossa religião e consagrado a qual orixá? Pai Obaluaê! Certo!
A pipoca, para virar pipoca tem que passar por um processo que denominamos transmutação, cujo princípio é regido por Obaluaê, certo? E ele com cara de espanto disse: nossa!!! Tudo está ligado, uma coisa na outra!!! Eu disse sorrindo, adoro essa fisionomia de eureca!!!
Continuei, não é a toa que a pipoca na nossa liturgia pertence ao Sagrado pai Obaluaê que na mitologia africana é regente e cura tudo que “pipoca” inclusive a varíola, por isso ele é o senhor da varíola, pois cura e acalma essa manifestação cutânea. Nossa, nossa, nossa!!!! Ele disse!
Continuei, então vimos o significado do fator transmutador do pai Obaluaê até na pipoca e aqui transmutação significa alteração de um estado ou nível para o outro. A decomposição é um atributo também ligado ao orixá Obaluaê e ao senhor Omolu, pois a decomposição é a atribuição de transmutar algo, porém é uma transmutação de algo que já morreu e quem rege a morte é o senhor Omulu que está no fim de tudo ou que  dá finalidade à tudo, pois enfim a morte é a finalidade e a certeza da vida, certo! Ele só concordou com a cabeça.
Agora sim, a imagem de tranca Ruas das almas com os pés de bode significa isso: a lei maior que atua o tempo todo na vida e nos caminhos evolutivos dos espíritos, que ao se desequilibrarem e atentarem contra a vida, tem a sua liberdade de ir e vir trancada momentâneamente por esse mistério, até que esgotado de suas ações ausentes de Deus, volte a vibrar vida e vontade de caminhar sobre a presença divina do Pai Maior.
O que é o bode? Ele me respondeu de imediato, um animal! Certo!
E o que diferencia um ser humano de um animal o que é? Sua racionalidade presumo! Certo!
O animal é um ser instintivo e o ser humano é racional, certo? Correto!
O sagrado orixá Exu é uma qualidade divina que atua em nós de fora para dentro, correto? Sim! Se Ele atua de fora para dentro, isso quer dizer que ele atua a partir dos nossos instintos ou nossas ausências ou a partir das nossas ações ausentes de racionalidade, certo? Sim! E quando agimos sem pensar e de forma irracional, nos parecemos com o que na criação? Com os bichos... Correta a afirmação! Sendo assim se Exu atua a partir dos nossos instintos, e por isso ele no culto de nação é o regente dos axés animais, nada melhor e mais simbólico do que um pé de bode, pois é um membro inferior de um animal cujo membro tem a função de se locomover, que significa caminhar e que significa evoluir. Ou seja, ele atua trancando os caminhos daqueles que decidem evoluir de forma instintiva ( por isso o pé de bode) atentando contra a liberdade da vida alheia”
Ele disse: nossa fiquei estarrecido em como as coisas estão ligadas e tudo tem um sentido. Eu lhe disse: eu também irmão, pois pode ter certeza que a cada pergunta que me fazem eu aprendo na mesma hora em que falo com vocês, é assim,  a Umbanda nos encanta em todos os sentidos e hoje ela encantou-nos através do sentido do conhecimento, que não é nem melhor ou pior que os outros sentidos, mas tão importante quanto todos eles, pois o conhecimento sem fé é vazio e a fé sem o conhecimento é fraca.
Nos abraçamos e lhe falei ao seu ouvido:
As imagens de Pomba-Gira que às vezes chocam os “fieis” quando mostradas com os seios de fora, está gritando no mais alto do seu silêncio, o mesmo seio exposto na imagem da mãe Iemanjá que representa a vida e que amamenta  o filho pois é fonte de vida, é também o mesmo seio que em mim estimula o prazer para que a vida na carne se conceba. Lembre-se : tudo faz parte de um mistério Maior!
Quando ele ia me perguntar mais alguma coisa: ouvimos um grito: vamos fechar o terreiro e largar vocês dois aí dentro!!! Demos um sorriso de contentamento e fomos embora seguir as nossas vidas.
Fim