O silêncio

O silêncio que permeia seus dias, faz com que ela se sinta como se ostra fosse, a viver em uma concha. Uma concha que ela mesma se impôs. Ou impuseram... Quem sabe.                                                De início o silencio a incomodava. Incomodava mais que a maledicência traduzida em palavras ou olhares falantes. Mas pouco a pouco foi percebendo que era assim que deveria ser e ponto.         A subserviência a tornava cada vez mais infeliz. Não tinha aprendido a fazer-se respeitar. Mas fazer o quê, se nada sabia?                       O vazio silencioso a fazia perguntar-se se amanhã teria o que fazer. Mas a resposta não vinha. Fugia, por já saber o que responder.       Sentia-se um ser inexistente a espera do resgate da morte.              Negara-se a si mesma a alegria de doar algo de seu... Como o seu amor, que não soube dividir com ninguém. Ninguém suavizava suas noites de angústia...                                                                         Seu passado emergiu, sem que se desse conta. E era tão difícil viver perto do passado...                                                                              O desapego não era seu forte e ela sabia muito bem. Compartilhar suas duvidas era tão difícil e ela não entendia porque isso sempre acontecia com ela, que sempre perseguia quimeras, como se fosse um antídoto perfeito para suas frustrações... Que não eram tão poucas assim.                                                                                       A solidão se fez necessária para entender que tudo o que passou não volta mais. Nunca. Nem travestido de outras roupagens. O novo substitui o velho e ponto.                                                                 Sua vida não tinha finalidade. Ela a tolerava sem reagir... A nada. Não tinha opção alguma. Sequer um deslize havia e ela cuidava para que não houvesse...                                                                 Até que... Depois de exercitar-se no silencio, transmitiu a si mesma que deveria procurar a felicidade, a generosidade, a vida... Resolveu então jogar tudo para o alto e procurar dentro de si aquela outra que queria trazer para o mundo. Ela mesma. Ou a que julgava ser. Mudou seu modo de agir, de pensar... De ver tudo o que a circundava.                                                                                         Cortou seus longos cabelos, que nem sabia mais se os gostava assim. Acostumou-se com eles alcançando suas costas. Mudou a cor. Sentiu-se viva, bonita o bastante para readquirir a confiança em si mesma.                                                                                          Deixou de lado as roupas a tanto tempo usadas, que até já faziam parte de seu corpo e trocou-as por outras que jamais pensou usar. Coloriu-se! Rejuvenesceu!                                                                Seus olhos, antes embaçados pela vida, se abriram para ver. Readquiriu o direito de ver o que deveria ser visto. Seu mundo interno e o mundo externo. Sequer imaginava que os dois lhe pertencessem. Readquiriu-os. Tomou posse dos dois.                    Era outra mulher. Aquela que sempre deveria ter existido e que sequer sabia dessa possibilidade. A possibilidade do ver com olhos de encantamento. Do encantamento de saber-se viva para a vida. A vida que no aqui e agora desenhou para si mesma, certa de que nada, nada seria como já foi um dia. Nem repaginado. Melhor ou pior... Mas plena de vida a ser vivida.                                                   Para ela não seria um recomeço, mas sim um iniciar. Iria, certamente, esquecer o que já havia passado. Necessitava entender o novo. Impregnar-se de todas as novidades. Viver!                           Mas como? Como bem entendesse. A seu bel prazer... E quanto prazer pensava usufruir dessa nova vida? Ela não sabia. Mas viveria cada minuto para que tudo valesse à pena. A pena de ser vivida!     E assim seria. Ah, como seria!