O significado de amizade para Jesus Por José Vieira da Silva [email protected] Não há outra maneira de construir e manter uma amizade senão convivendo com aquela pessoa ou um grupo de pessoas, embora nos dias contemporâneos esta importante prática tem sucumbido às redes sociais. A amizade pede o cumprimento de requisitos que jamais os bytes conseguirão preencher. Eles são apenas auxiliares nesse processo. Jesus, no seu curto, porém eficiente ministério terreno, também experimentou amizades, principalmente com os seus doze. Eram seus seguidores. Sendo assim, partilhavam todos os momentos juntos. Ele entendeu tão bem o valor e o significado de uma amizade que, ao ser apresentado aos seus algozes pelo traidor Judas, disse: “Amigo, a que viestes?” Que coisa forte! Ou Ele desconhecia completamente o fato da chegada de Judas naquele momento – hipótese que eu descarto, é claro, pois era um acontecimento profético – ou quis causar um forte impacto no coração, no íntimo, daquele ser corrompido por valores tipicamente humanos e, portanto, mundanos e falíveis. Ou, ainda, desejava uma confirmação verbal dele, uma retratação. Talvez quisesse dar uma chance ao arrependimento: “Judas, é isso mesmo que queres fazer?” Poderia perfeitamente ter ocorrido a Judas naquele instante: “Como assim amigo a que vieste?” Estou entregando esse Jesus à morte, ainda assim me considera seu amigo? Para um ser humano comum, a atitude de Judas é simplesmente inconcebível, triste, inaceitável. Sei que é desnecessário dizer: Ele é o nosso permanente amigo, o tempo todo. Nos ama permanentemente. Se estamos angustiados, essa aliança se fortalece ainda mais; ela se transforma. Os laços se fortalecem de tal modo que passamos a ser tratados como irmãos. Somos agora parentes. Irmãos verdadeiros dividem o mesmo teto, compartilham confissões, segredos, uma intimidade fora do comum. Ele quer resolver o nosso problema, por isso se envolve tão profundamente. “O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade.” (Provérbios 17.17) Não posso descrever em sua plenitude o conceito de amizade nos tempos ministeriais terrenos de Jesus, em uma sociedade completamente diferente da nossa em todos os aspectos, mas certamente a sua essência, a amizade boa e pura, foi e continuará preservada. O conceito de amizade para Jesus transcende toda e qualquer explicação teológica, humana, filosófica e psicológica, pois é sobrenatural. Assim, é possível que algum ser jamais o execute (o ato da amizade) completamente nos moldes de Jesus durante sua existência “carnal”. Exige algo que não estamos dispostos e não podemos fazer: ceder o direito à vida por alguém. Foi exatamente isso que Jesus. Amizade também se traduz em pequenos, porém importantes atos, tais como servir. Jesus deve ter demonstrado isso inúmeras vezes em seu ministério. Quando lava os pés dos discípulos, incorpora as atitudes de servo. Talvez uma das maiores demonstrações, visto que demandava o uso das mãos, se abaixar e encurvar a cerviz, uma alusão direta aos atos ministeriais requeridos por um líder religioso verdadeiramente preocupado com o bem-estar e destino das ovelhas que não lhes pertencem. Quantos estão dispostos a abandonar seus caros ternos, templos luxuosos e igualmente caros para enfrentar o escaldante sol ou o frio onde habita a necessidade alheia? 3 sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus, 4 levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiuse com ela. 5 depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. (João 13:3-5) O que dizer da compaixão? As irmãs de Lázaro viram, ouviram, sentiram. O maior dos representantes estava lá. Certamente foi o sentimento que Jesus esboçou naquele momento, motivado também pela amizade que tinha pelo morto. Era de quatro dias. E daí? Jesus chorou; Jesus ama o “morto” pecador. O ato da ressureição de Lázaro está em completa consonância com amizade e compaixão. Amigos esboçam compaixão, sentimento de simpatia com a miséria alheia, acompanhada do desejo de amenizá-la ou suprimi-la completamente. Foi o que fez com o seu amigo. “E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto, envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir.” (João 11:44) O interessante desse ato, que às vezes nos passa despercebido, é que Lázaro, mesmo depois de ressuscitado, saindo daquela tumba, caminhando em direção aos que presenciaram aquele milagroso ato, continuou defunto. O homem, enquanto vivo, em sua trajetória aqui na terra, pode perder o direito à sua salvação. Ele pode interromper esse processo, pode rejeitá-lo e voltar ao seu estado inicial. Por isso, mesmo salvo ou não, continua sendo um defunto por natureza, até que a terra o convide para o ato final, já que habita em um corpo carnal, sujeito a todo tipo de ataques, oscilações de caráter, de um ser salvo ou não. A certeza é que pode contar nesses momentos difíceis com um advogado e amigo chamado Jesus. Outra qualidade de uma amizade verdadeira é a sinceridade, mesmo que não seja conveniente para nós naquele momento. Jesus a exerceu sempre. Muitos vivem imersos no mundo da mentira. Engano e falsidade são subprodutos desse mundo. Lá, reina absoluto o Diabo e seus anjos, de modo que a verdade tem um tom desagradável e estridente. Ela de fato incomoda, não é bem-vinda, porque liberta para a salvação. Mentira e verdade sempre estarão em oposição. “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (Jo 8:44) Veja, é a matéria-prima do Diabo. Para ele, a mentira é verdade. Mas Jesus combate e estabelece um antídoto: “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (Jo 14:6) Finalmente, o ponto culminante da verdadeira definição de amizade emana de uma declaração feita por Paulo e pelo evangelista João: “Dificilmente alguém morreria por um justo; poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:7-8) “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (João 15:13)