O Seu Alonso
Publicado em 15 de dezembro de 2007 por Marcelo Cardoso
"O seu Alonso morreu ! ... O seu Alonso morreu ! ..."
Foi gritando assim que a dona Jujú , que era nossa lavadeira , entrou lá em casa ...
O seu Alonso era um antigo funcionário do Departamento de Conservação da Prefeitura e que , depois do trabalho e nos finais de semana , para aumentar a sua renda e poder sustentar a sua grande família , vendia sorvete caseiro , batido na manivela de uma grande caixa que ele costumava levar na cabeça ...
Aliás , ele devia levar na cabeça nos dois sentidos : o do peso e o do prejuízo, porque esse biscate não devia lhe dar lucro nenhum ! ...
Pois muito bem ... Lá ia ele mancando , por causa de um defeito num dos pés ... e toda a garotada ia correndo atrás , pedindo sorvete ...
As crianças gostavam muito dele e os meus dois primos , Washington e Walker , não eram exceção ...
E no dia em que a dona Jujú entrou lá em casa com essa notícia , eles dois estavam lá e ficaram desolados ...
Correram logo para o jardim e colheram rosas , margaridas e papoulas , fazendo uma grande braçada de flores para levar p'ro seu Alonso.
A casa dele era a última da vila que ficava bem em frente do antigo campo do Tupy , na R. Manoel de Macedo, esquina com a Praça São Jerônimo... Era uma casinha de frente de rua , com janelas baixas e que ficava sempre com a porta aberta , num permanente entra-e-sai de crianças correndo ...
Mas naquele dia não havia nenhuma correria ... Estava tudo tranquilo ... E logo que os meus primos chegaram , quem os recebeu , sentado na mesa da sala , foi o próprio seu Alonso ! ... Em carne e osso ! ...
Um dos meus primos simplesmente deu um berro e saiu desembalado pela rua e o outro , diante da cara de espanto do seu Alonso , mijou-se todo , largou a braçada de flores no chão e , antes de correr também , disse p'ra ele :
"Essas flores foi vovó que mandou p'ro senhor !" ...