O SETOR SIDERÚRGICO EM FOCO: RELAÇÕES DE TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL DOS ACIDENTES DE TRABALHO

No terceiro e último capítulo iremos procurar vislumbrar as mudanças que ocorreram no setor siderúrgico, sendo o setor siderúrgico de grande relevância a Marabá, pois exerce uma influência nas diversas camadas e áreas da sociedade.

Nesse sentido procuramos estudar a questão social voltada para a segurança do trabalhador nas siderúrgicas de Marabá que é o ápice do desenvolvimento do Programa Grande Carajás (PGC). O acidente de trabalho é algo que não deveria acontecer mais infelizmente acontece por várias razões. Esses acidentes acontecem em espaço e tempo específico, onde os proprietários da força de trabalho a empregam na detenção de produtos sob as condições determinadas pelos proprietários dos meios de produção. Por isso, há um confronto de interesses entre direção da empresa e os trabalhadores.

A população fica tão centralizada como o capital, nada mais natural porque na industria, o homem, o trabalhador, não é considerado senão como força do capital a qual o industrial entrega em juro - que se chama salário – para que este se lhe entregue para ser utilizado. Um grande empreendimento industrial exige numerosos operários trabalhando juntos num mesmo edifício (ENGELS, 1985, p. 52-53).

 A prevenção de acidentes resulta em aumento de custos operacionais o que contrária o interesse das empresas. Estes interesses entrelaçam aspectos locais e globais. E a implementação do PGC só foi possível por causa das vantagens diante dos preços do aço no mercado mundial e o baixo custo da obtenção do minério na Amazônia, conforme dito anteriormente no capítulo I.

A luta dos trabalhadores fez com que surgisse a legislação que regulamenta o a segurança do trabalhador, daí foram criado mecanismos com representação dos trabalhadores e das empresas para tratar desse assunto. Os dados desse trabalho procura construir uma visão dessa questão que está contida nesse capítulo. 

A siderurgia, em termos gerais, requer elevadíssima concentração de capitais. Alguns empreendimentos demandaram investimentos superiores a US$ 1 bilhão, como no caso da exploração do ferro, em Carajás, da bauxita, na região do Trombetas, e da produção de alumínio primário pela ALBRÁS e pela ALUMAR. Todavia, o controle desses capitais é feito extra-regionalmente, o que não reforça a região como local de decisão e dela subtrai componentes relevantes para a implementação de processos de desenvolvimento socialmente enraizados.

Essa grande concentração de capitais tenta, também, de forma quase direta, concentração de renda e não colabora para que se estenda a propriedade de meios de produção a segmentos mais amplos da sociedade. Trata-se, portanto, de dinâmicas que não se coadunam com processos de desenvolvimento de base local, pois estes requerem a ampliação da equidade social, intimamente associada à desconcentração da renda e da propriedade de meios de produção.

O aumento da força produtiva do trabalho em geral é uma alteração do processo de trabalho, pelo qual se reduz o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir uma mercadoria, que um menor quantum de trabalho adquire portanto a força para produzir uma maior quantum de valor de uso (MARX, 1996, 431).

Podemos notar que são características do processo capitalista de produção, fazem com que haja uma concentração global da riqueza. O local torna-se apenas o espaço de início do processo, mas ele termina na área do euro. A partir do processo de privatização, a CVRD tornou-se “Rio Doce Internacional” uma empresa multinacional com sede administrativa em Bruxelas, capital da Bélgica (COELHO, 2005, p. 270). Ocorre processo semelhante ao caso da borracha quanto à acumulação de proprietário fora da região.

Além disso, é muito elevada a composição orgânica desses capitais, ou seja, eles requerem grandes investimentos em maquinário e em infra-estrutura (capital fixo), quando comparados ao volume de recursos destinados à remuneração da força de trabalho (capital variável). Todavia, a maquinaria não é produzida na região, e a tecnologia para a implantação da infra-estrutura também não é gestada regionalmente. Em ambos os casos, são trazidas para a região na forma de pacotes tecnológicos fechados. Assim, a maneira pela qual maquinaria e infra-estrutura, são incorporadas ao processo produtivo faz com que inexistam mecanismos significativos de difusão, para outras atividades existentes na região, da tecnologia incorporada tanto na maquinaria e nos processos de gestão quanto na infra-estrutura que serve às empresas minero-metalúrgicas.

A partir da implantação de empresas caracterizadas por elevada composição orgânica de capital, seria possível estimular processos de modernização socialmente enraizados, mas isso depende das relações entre essas empresas e suas subcontratadas. Como aponta Carleial (1997), a forma da relação que se estabelece nessa interação pode beneficiar as empresas subcontratadas ou mesmo assumir o formato de cadeias inter-firmas, das quais podem resultar processos que auxiliam a difusão tecnológica, decisiva para o desenvolvimento regional. Entretanto, os estudos sobre as estratégias de flexibilização produtiva e de desverticalização adotadas por grandes siderúrgicas (CARMO, 2000) indicam que a relação de subcontratação não tem sido caracterizada por uma cooperação flexível, nem propiciado o estabelecimento de dinâmicas impulsionadoras de desenvolvimento local.

REFERÊNCIAS

CARMO, Eunápio Dutra do. Gestão do trabalho na indústria de alumínio ALBRAS: noção de qualidade e seus interlocutores. Belém: 2000.

CARNEIRO. Marcelo S. Relações de trabalho, propriedade da terra e poluição urbana nas atividades de carvoejamento para a produção de ferro-gusa em Açailândia. São Luis: CPT/Estação Gráfica, 1995.

COELHO, Maria Célia Nunes; COTA, Raymundo Garcia (Org.). Dez anos da estrada de Ferro Carajás. Belém: UFPA/NAEA, 1997.

______. CVRD e a reestruturação do espaço geográfico na área de Carajás (PARÁ). In. CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORREA, Roberto Lobato (Orgs.). Brasil: Questões atuais de reorganização do território. 3º edição. Rio de Janeiro: Bertrond Brasil, 2005. 

ENGELS, Friedrich. A situação de classe operária na Inglaterra. Porto: Afrontamento, 1985.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. vol. 1. São Paulo: Nova Cultural, 1996.