A INOCÊNCIA DA CRIANÇA!

Professor Ciro José Toaldo

 

A cada época em que se celebra o ‘dia da criança’, muitas questões deveriam ser refletidas, uma vez que se trata de uma importante fase da existência. Na sociedade consumista, globalizada e sem as perspectivas de equilíbrio, o ‘trato’ com as nossas crianças são de extrema preocupação.

Os estudos junto à Psicologia e Filosofia evidenciam o quanto a infância é de suma importância, portanto, deveria ser encarada de forma que ajude o ser humano em sua evolução. Essa é uma fase onde dois fatores assumem valores imensuráveis: trata-se da inocência e da curiosidade. Essas características são fundamentais para o pleno desenvolvimento da criança, aquelas que conseguem desfrutar destes dois deleites, tronam-se adultos plenos. A inocência é uma virtude fantástica, além do preparo para o humano enfrentar as mazela da existência, reporta-nos a questão da ‘pureza’ e da ‘doçura do coração’. Tais expressões parecem expressar certo desdém, mas, por meio desta inocência, nossos pequeninos conseguem desenvolver em suas mentes, o quanto a maldade, as más inclinações e a malícia podem deturpar o pleno sentido da vida. Infelizmente há inúmeras criaturas, que não levam com seriedade essa importante fase e, acaba ridicularizando a própria inocência, característica marcante da infância.

Quanto à curiosidade, trata-se de outra caraterística fundamental do ser humano, como seres racionais, há essa aptidão natural, entretanto, necessita de estimulo. Em seus profundos estudos filosóficos, o discípulo de Sócrates, Platão, deixou suas reflexões, na Grécia Antiga, há mais de dois mil e quinhentos anos, sobre como educar as crianças, além de afirmar que elas deveriam cursar o ‘Jardim da Infância’ (na legislação brasileira, trata-se do segmento da Educação Infantil), esse excepcional filósofo afirma que na infância encontra-se o despertar de uma das essências da existência, a curiosidade. Quando devidamente despertada nesta fase, corrobora em muito para a evolução humana, rumo a sua perfeição. Além de Platão, podemos lembrar-nos de uma pedagoga italiana contemporânea, falecida em 1952, Maria Montessori, defensora de que a criança precisa desenvolver com liberdade as virtudes de sua fase. Tornou-se célebre sua frase: “liberte o potencial da criança e você transformará o mundo”.

Contudo, assim como muitos contribuem para tirar da criança a inocência, também buscam sob todas as óticas, solapar esse potencial de forma cruel daquelas ingênuas criaturas a sua curiosidade. Talvez seja por meio desta interrupção que muitas não consigam contribuir para transformar este mundo. É importante não se esquecer dos subterfúgios midiáticos que levam a ‘queimar’ essa etapa da vida, pois transformam pequenas criaturas, ainda em formação, em adultos forçados, onde a inocência e a curiosidade sequer são praticadas. Não se trata de reprovar a tecnologia, uma vez que é benéfica para o ser humano, mas, quando ela é colocada como forma para antecipar fases da existência, torna-se questionável. A criança precisa exercitar em sua mente a curiosidade, ou seja, despertar a sua imaginação e seus encantos, ela deve descobrir aos poucos, por meio de sua inocência e os maravilhosos encantos da vida, desta forma passa a entender que existe uma relação entre o humano e o divino, mas, deverá ter adultos que possam ajudar ela a fazer essa ligação.

Quantos pais, pela necessidade da subsistência deixam seus ‘pupilos’ a mercê das babás eletrônicas que contribuem para perca da inocência, da curiosidade e da fantasia. Além de que, por estes meios, as ideologias perversas podem ser instauradas nas mentes destas pequenas criaturas. A verdade seja dita: a criança precisa de muita brincadeira saudável e construtiva, do inventar (por meio do exercício de sua curiosidade), de poder ter sonhos e ilusões, de imaginar o imaginável, de ouvir ou ler as histórias do ‘mundo infantil’, ou seja, por meio dessa candura ela poderá se tornar um adulto criativo e equilibrado.

Tenho muita saudade dos bons tempos de meninice, no Sul chamamos de ‘guri’, que foram vividos na Rua Carmelo Zocolli, em Capinzal, Santa Catarina, próximo ao antigo Frigorífico Ouro. Naquele ambiente, em volta de muito verde, de poucas casas, com outras crianças passávamos as tardes com as brincadeiras fantásticas com carrinhos, ‘gaiotas’ (carriolas) ou em cabanas, onde tudo era feito por nós; também era salutar o brincar na rua como pega-pega, esconde-esconde, passa anel, pular corda, jogo de bolo, escorregar na grama e correr atrás das galinhas. Tendo um detalhe: não havia asfalto, calçada, pois a rua era de terra com uns pedregulhos e brincávamos de pés descalços. Realmente aquele foi um tempo de muita inocência, pelo exercício da curiosidade e de fecunda criatividade. Sou grato ao Papai do Céu por ter oportunizado a viver uma magnífica infância.

É lamentável observar na atualidade, inúmeras crianças (não são poucas) que acabam perdendo a oportunidade de ‘saborear’ a inocência e a salutar curiosidade em uma fase exclusiva para exercitar estas virtudes. Um bom exemplo, dos encantos desta fase da vida é o natal e a páscoa, nestes tempos que eram aguardos com muita ansiedade, a imaginação nos fazia transpor ao encanto. Independente do contexto religioso, o aspecto cultural deveria ser mantido. Lembrando que se tratando de inocência e imaginação, jamais deveriam ser encaradas como algo prejudicial, pelo contrário, como citado anteriormente, elas são formas de encantar e tornar a pureza infantil em antídoto de vida adulta equilibrada.

Jesus Cristo, em Mateus 19, 13-14, tem uma cena linda, após os seus discípulos repreender as crianças que estavam em sua volta, o grande Mestre ordena: ‘deixai vir a mim as crianças, pois o Reino dos céus pertence a quem for semelhante a elas’.  Se desejarmos, não apenas a vida após a morte, também na vida terrena, deve-se buscar vivenciar a inocência e as demais características da fase da infância.

Talvez, tenhamos tantos adultos desiquilibrados, justamente por estes terem sido impedidos de viverem as importantes virtudes de seu tempo de criança, como a inocência e a curiosidade. Não seria este o momento de aprofundarmo-nos nos estudos de Platão, Montessori e Cristo a respeito das crianças?

 

            Pense nisto! Até o próximo