O ser e o não ser de Heráclito e Parmênides

Como base nesta discussão  podermos ponderar a ontologia em que esta imerso o ser do ente e o não ser, é preciso pensar algumas questões primordiais, que numa relação direta com a ciência, com sua forma de analisar e pensar o ente e descartar o nada, não existe um aprofundamento desta questão e quando nos deixamos guiar pelos conceitos implícitos neste contexto, é que podemos nortear nossa discussão, entretanto, segundo a ciência o nada ou não ser não deve ser pensado, pois vai na contramão da definição e da contextualização deste ente, que na verdade é o  objeto de estudo da ciência. Existe uma discussão entre os pensadores que são objetos de nossa discussão Heráclito e Parmênides.

Em contra posição ao conceito de Heráclito, temos Parmênides (c. 540-480  a C.), a grande diferença entre eles, estava justamente no fato de Heráclito acreditar que “tudo flui”, ou seja, a mudança constante. Para ele tudo esta em movimento, segundo este raciocínio tudo é passageiro, não eterno, “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio. Isto porque quando entrarmos pela segunda vez no rio, tanto eu quanto ele já estaremos mudados” (GAARDER, P47 2005).         

Para Heráclito a fundamentação dos opostos é peça importante no processo, pois fazem parte de um mesmo contexto e, para a harmonia do todo, segundo Heráclito são imprescindíveis os opostos. Temos em Heráclito uma primeira manifestação que nos remete a “DEUS”, é claro que ele não estava se referindo ao Deus do cristianismo, porém uma alusão direta a Deus, que segundo ele era o responsável por este movimento constante de transformação. Sabemos que para a época era comum à evocação de diversos deuses, podemos arrazoar que este Deus talvez seja o Deus desconhecido e, de onde pode ter se originado o Deus único. Em potência podemos relacionar a questão da maiêutica de Sócrates e, sua discussão no sentido de mostrar ao ser humano o seu potencial de conhecimento, sem a interferência destes deuses que tecnicamente só existiam dentro da mitologia; a alusão de Heráclito a fluidez deste Deus é fator preponderante segundo entendemos no conceito filosófico de  Sócrates, muito embora cheguemos a Sócrates por intermédio de Platão, o que não quer dizer necessariamente que não houve interpretação ou distorção no conceito.

A sistematização de Heráclito tem um embasamento teórico da “tensão entre os opostos”, que irá de forma direta ditar todo seu enunciado filosófico, buscando discutir a mutabilidade do ser, ou seja, o constante devir ou vir-a-ser. Como base de arrazoamento Heráclito coloca que como podemos discutir ente de forma cabal, se não temos segundo o conceito do vir-a-ser,  a possibilidade concreta de conhecer este ente. Dentro dos pressupostos da ciência, o que iremos pensar é a finitude ou mutabilidade deste ente.

Pelo que podemos entender desta discussão é que o vir-a-ser esta diretamente relacionado ao não-ser, se pensarmos a teoria dos opostos, ou seja, para que possamos de forma clara observar o conceito, é preciso utilizar a teoria dos opostos, ou de forma cientifica irá dizer, que não podemos pensar o “nada” ou “não-ser”, então como ponderar esta discussão?

Na seqüência para podemos discutir de forma mais clássica, precisamos examinar o enunciado de Parmênides sobre a imutabilidade do ser que vai diametralmente ao sentido oposto do enunciado de Heráclito, pois  em  Parmênides este ente é imutável e, em sendo assim como objeto do conhecimento é simples intuir seu conceito, pois o mesmo é imutável, ou seja, não sofre alteração em sua estrutura e, portanto é de fácil compreensão. Agora, segundo o enunciado cientifico o “nada”,  não pode ser pensado, temos então um impasse conceitual, como solucionar esta questão? Nos filósofos clássicos, mais especificamente em Platão e Aristóteles é que teremos uma solução, primeiramente em Platão que irá conciliar as realidades de Parmênides e Heráclito, no mundo sensível e inteligível, que na verdade discorre a respeito de duas realidades distintas, busca induzir este ente a uma realidade dentro da metafísica, que pelo que podemos entender é a única forma de conciliar os opostos. Uma realidade no mundo inteligível, onde tudo é imutável, pois segundo Platão é o mundo das idéias onde tudo é perfeito, pois não sofre mudança, já no mundo sensível que segundo Platão é uma cópia imperfeita do mundo das idéias, onde tudo sofre mudança, portanto suscetível à mudança como dissemos o vir-a-ser. Pelo enunciado de Parmênides e Heráclito, muito embora sejam posições antagônicas o que prevalece é a conceituação da razão e dos sentidos, se para Sócrates é importante trazer a luz por intermédio da discussão um pensamento que já esta presente no intimo do ente, e para tanto se vale da razão para mostrar isso, é lógico afirmar que os enunciados dos pré-socráticos norteiam o trabalho de Sócrates, e entendemos que talvez este seja o ponto de aproximação e aperfeiçoamento dos conceitos de razão e sentidos, mas é em Platão que essa contextualização será explicada, dentro do mundo sensível e inteligível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS                         

Dentro da discussão pertinente da relação de aproximação ou distanciamento dos conceitos de Parmênides, Heráclito e Sócrates, o que notamos é uma aproximação no que tange a razão como forma de discernir o enunciado filosófico, mesmo que para isso em Parmênides seja desprezado os sentidos como forma de compor o raciocínio a luz dos fatos, para uma composição muito mais subjetiva, que quer mostrar que os sentidos indubitavelmente levam o ser humano a cometer erros de julgamento. Esta mesma razão é utilizada por Heráclito de maneira distinta, pois baseia e norteia o fundamento de forma a mostrar que pela composição do raciocínio lógico o universo em si esta em constante evolução, ora se pensarmos  o que une os dois conceitos é a razão interpretada de maneiras distintas, a base lógica em Sócrates é justamente mostrar por intermédio da discussão que o ente tem todo este manancial de informações dentro de si mesmo, bastando para isso utilizar de forma correta ou lógica como preferir o acesso e fundamentalmente colocar para fora algo que julgava pertencer somente aos deuses, neste ponto o enunciado socrático se distancia anos luz dos pré-socráticos que acreditavam piamente que todo este movimento ou estagnação eram provenientes dos deuses. “Brilhante”. Agora, como conciliar os pontos e explicar de forma lógica esta conceituação? Para Platão dentro do mundo sensível e o inteligível.

BIBLIOGRAFIA

 GAARDER, Jostein

O Mundo de Sófia: romance da história da filosofia/ Jostein Gaarder; tradução João  

Azenha Jr. – São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

WWW.brasilescola.com/filosofia/heraclito.htm : acesso: (05/01/2013)

WWW.scholar.google.com.br/scholar?q=parmenides:  acesso: (05/01/2013)