NEIDE FIGUEIREDO DE SOUZA

ANA DE SOUSA CELESTINO SILVA SANTOS

A avaliação é tradicionalmente associada na escola, à criação de hierarquias de excelência, definida ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos.

Não Podemos avaliar nossos alunos somente pelas provas objetivas, pois a nota em si é uma mensagem que não diz de início ao aluno o que ele sabe, mas o que pode lhe acontecer “se continuar assim até o final do ano”. Mensagem tranquilizadora para uns, inquietante para outros, que visa também aos pais com demanda implícita ou explícita de intervir antes que seja tarde demais. A avaliação tem a intenção quando se dirige a família, de prevenir no duplo sentido de impedir e de advertir. Ela alerta contra o fracasso que se anuncia ou ao contrário tranquiliza acrescentando desde que continue assim.

Essas hierarquias se preocupam mais em informar a posição do aluno do que informar sobre seu grau de conhecimento e competência.

Percebe-se com isso que o que importa é o certificado mais tarde e não os seus conhecimentos e suas experiências. Um certificado fornece poucos detalhes dos saberes adquiridos e o nível de domínio em cada área. Garante sobre tudo sua admissão no campo de trabalho.

A avaliação é uma engrenagem no funcionamento didático e mais globalmente, na seleção e na orientação escolar. Ela serve para controlar o trabalho dos alunos e, simultaneamente para gerir os fluxos.

A escola conformou-se com as desigualdades de êxito por tanto tempo quanto elas pareciam “na ordem das coisas”. É verdade que era importante que o ensino fosse corretamente distribuído e que os alunos trabalhassem, mas a pedagogia não pretendia nenhum milagre, ela não podia senão “revelar” a desigualdade das aptidões.

Dentro desta perspectiva, uma avaliação formativa não tinha nenhum, sentido: a escola ensinava e, se tivesse vontade e meios intelectuais, os alunos aprendiam. A escola não se sentia responsável pelas aprendizagens, limitava-se a oferecer a todos a oportunidade de aprender: cabia a cada um aproveitá-la.

A avaliação se tornava um instrumento privilegiado de uma regulação contínua das intervenções e das situações didáticas. Seu papel, na perspectiva de uma pedagogia de domínio, não era mais criar hierarquias, mas delimitar a aquisição e o modo de raciocínio, o suficiente para auxiliar cada aluno a progredir no sentido dos objetivos.

A avaliação formativa introduz uma ruptura porque propõe deslocar essa regulação ao nível das aprendizagens e individualizá-la.

Nenhum médico se preocupa em classificar seus pacientes, do menos doente ao mais gravemente atingido. Nem mesmo pensa em lhes administrar um tratamento coletivo. Esforça-se para determinar, para cada um, um diagnóstico individualizado, estabelecendo uma ação terapêutica sob medida. A avaliação formativa deveria ter a mesma função em uma pedagogia diferenciada. Essa avaliação assume todo seu destino no âmbito de uma estratégia pedagógica de luta contra o fracasso e a desigualdade, que está longe de ser sempre executada com coerência e continuidade.

O fato da avaliação está ainda entre duas lógicas decepciona aqueles que lutam contra o fracasso escolar. Quase todos os sistemas educativos modernos declaram avançar para uma avaliação menos seletiva, mais integrada á ação pedagógica cotidiana. Pode-se julgá-la pelo distanciamento entre essas intenções e a realidade das práticas.

Quando falamos em mudança de avaliação concepção de avaliação, estamos referindo aquela que atenda não só aos nossos anseios enquanto educadores, como também a que as ciências têm nos apontado enquanto mediação entre o ensino e a aprendizagem através dos escritos de teóricos como Hoffmann, Luckesi e outros.

Entretanto, esta discussão exige a construção de um novo paradigma que dê sustentação a este projeto e garanta às nossas crianças direito á escolarização.

Tal esforço busca superar um modelo de avaliação, centrada na retenção e exclusão que, utilizando-se de mecanismos tais como a classificação, seleção e discriminação geram evasão e repetência, legitimando e perpetuando o fracasso e a expulsão dos alunos pertencentes, sobretudo á classe trabalhadora.

A avaliação não pode mais ser exercida como um instrumento que venha castigar e puni-los por meio da repetência, como forma de garantir a qualidade do ensino. 

Referências

 

HOFFMANN, Jussara M. L. Avaliação mediadora uma prática em construção da pré-escola à universidade. 8ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1996.

 

----------------- Avaliação: mito e desafio. Porto Alegre, RS: Educação e Realidade,1991

 

DEMO, Pedro. Avaliação sob o olhar propedêutico. Campinas, São Paulo: Papirus, 1996

 

------------------. Avaliação qualitativa: um ensaio introdutório. Campinas, São Paulo: Papirus, 1996