Qual é o sentido da existência humana? Qual o sentido da vida?

Com indagações dessa natureza é que, muitas vezes, começamos nossas aulas de filosofia.

É claro que os acadêmicos, recém chegados à faculdade nos tomam por louco. Ou ficam sem entender o que estamos querendo dizer. E, antes de responder sua incompreensão, continuamos as indagações: Por que exercemos nossas atividades profissionais? Por que queremos estudar, preparando-nos para bem exercer uma profissão? Por que fazemos, cotidianamente as mesmas atividades, mesmo algumas que não nos dão prazer?

A essas indagações, as respostas começam a surgir: “trabalhamos para ganhar dinheiro.” “Estudamos para nos preparar e exercer bem nossa profissão e, além de ser bons profissionais, ganharmos mais e com isso termos melhor nossa qualidade de vida”; “fazemos isso para sermos reconhecidos em nossa profissão e, graças a isso nos realizarmos profissional e financeiramente”.

Frente a essas respostas te convido a me ajudar a responder a essas indagações: por que queremos realização pessoal? Por que queremos dinheiro? Qual o sentido disso?

Aqui podemos acrescentar as indagações da música “Você”, do Raul Seixas:

“Você alguma vez se perguntou por quê

Faz sempre aquelas mesmas coisas sem gostar?

Mas você faz, sem saber por que você faz; e a vida é curta!

Por que deixar que o mundo lhe acorrente os pés

Finge que é normal estar insatisfeito

Será direito, o que você faz com você?

Por que você faz isso, por quê?”

Ao introduzir essa situação existencial, é possível que você reaja e procure, a todo custo, dar uma resposta que nos satisfaça, pensando que estamos querendo uma resposta correta, como se fosse uma prova. Mas nossa indagação vai para além disso.

“Deixa, deixa, deixa eu dizer o que penso desta vida

preciso demais desabafar!

Suportei meu sofrimento

de face mostrada e riso inteiro

se hoje canto meu lamento

coração cantou primeiro

e você não tem direito

de calar a minha boca

afinal me dói no peito

uma dor que não é pouca

tem dó! (Claudia)

A cantora não pedia dó, como a pedir tenha pena ou compaixão, mas como um convite à reflexão, como quem diz: “dá um tempo, e pene!”. E aqui a nossa indagação se baseia exatamente na necessidade de sentido para essa loucura que é nossa vida, sem sentido. Nossa indagação vem para afirmar o sem sentido da vida. Pare, pense e, honestamente, verifique se tem sentido de tudo o que você faz, o que nós fazemos...

A pessoa nasce, cresce e começa a enfrentar mil e tantos problemas: nos relacionamentos (namoro, casamento, filhos, amigos), na escola (“pra quê estudar tudo isso se nunca vou usar?” – tem até aqueles versos do Raul Seixas, falando do “dicionário cheio de palavras que eu sei que nunca vou usar!”), no trabalho (patrão chato, funcionário desleal e/ou descompromissado)... E, depois de alguns anos de trabalho, de sofrimento e superação, de entrega total, de dedicação; depois de conseguir um lugar ao sol... a pessoa morre! E o que acontece com tudo que fez? O que sobra de tudo que ajuntou?

Nesta altura você já deve estar arrumando argumentos para nos dizer que se sente uma pessoa realizada e não vê sentido nessas indagações. Nossa resposta a isso é: uma pessoa realizada é aquela que já alcançou seus objetivos. Uma pessoa que alcançou os objetivos da sua vida, não tem mais por quê lutar. Está, portanto, pronta para a morte; ou melhor, a pessoa que não tem objetivos, já está morta!

Outros, provavelmente nos dirão que dinheiro não é tudo. Concordamos! Mesmo porque não estamos falando sobre dinheiro. Estamos buscando o sentido disso tudo e constatamos que, mesmo o dinheiro, o poder que ele confere ou que pode comprar, não tem sentido. Tanto o mendigo, que passou a vida esfomeado como o mais rico dos homens dirigem-se para um ponto comum: a morte.

Essa busca de sentido para a existência não é recente. Ela acompanha a humanidade desde os mais antigos pensadores e pelas várias manifestações religiosas. O salmista (salmo 8,5), indaga a seu Deus: “que é o homem, para que dele vos lembreis? Um filho de homem, para que o venhas visitar?”

O propósito desta reflexão se deve à época em que nos encontramos. Estamos nos aproximando do natal; fim de um ano e começo de um novo. Tempo de avaliar e planejar. E como não temos resposta para o sem sentido da vida, podemos dizer que, embora nada tenha sentido, cabe a nós darmos sentido à nossa existência. E o final do ano é tempo de redefinir prioridades. E aqui podemos nos deparar com um problema: já que viver não tem sentido qual o sentido que podemos dar à nossa existência?

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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