·O SENHORIO DE JESUS CRISTO

Introdução

Todas as etapas da história da salvação estiveram, estão sob a autoridade das Três Pessoas divinas, com destaque para uma ou outra conforme o período. Assim, fala-se que o AT é a era do Deus Pai, o NT, de Deus Filho, a Igreja no mundo, de Deus Mãe. Esquematização à parte, o período de Pentecostes à Parusia é o tempo da caminhada do povo de Deus para a casa do Pai, era da Igreja peregrina no mundo, sob a animação e inspiração de Deus Mãe, Espírito de santidade do Pai e do Filho, que nos gera cada dia filhas e filhos de Deus Mãe e do Pai, no Filho. Mas Deus Mãe não age isoladamente: sua ação está diretamente ligada à missão sacerdotal de Jesus junto ao Pai, que sem cessar enviam Deus Mãe ao mundo, pra que não cesse de gerar vida nova nos corações e em toda a criação. "Envias teu Espírito, tudo será criado e renovas a face da terra". A missão sacerdotal inclui o senhorio diaconal de Jesus sobre todas as coisas. Este foi instituído, sintomaticamente, no lava-pés, antes da instituição da eucaristia e quando Jesus interveio na discussão dos discípulos "sobre qual deles devia ser considerado o maior. E Jesus lhes disse: Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder fazem-se chamar benfeitores. Entre vós não deve ser assim. Pelo contrário, o maior dente vós seja como o mais jovem, e quem governa como quem serve. Qual é o maior: aquele que está à mesa ou quem serve? Não é aquele quem está à mesa? Chamais-me Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Porém, estou no meio de

vós como aquele que serve. Se, pois, eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também vos lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como vos fiz eu, vós também o façais. O servo não é maior que seu senhor, nem o enviado maior que quem o enviou. Todo discípulo perfeito deverá ser como o mestre e o servo como o seu senhor. Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes" Lc 22,27; Jo 13,13-17; Lc 6,40; Mt 10, 25. Eis a essência do senhorio de Jesus e de seus seguidores pela fé e vida ética: servir, não ser servido e oprimir. "Senhor, teu grande poder está sempre ao teu serviço e quem pode resistir à força do teu braço? O mundo inteiro é diante de ti como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra, como um grão de areia na balança. Mas te compadeces de todos, pois tudo podes, fechas os olhos diante dos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo que criaste e não te aborreces com nada do que fizeste: se tivesses odiado algo, não o terias feito. Como conservaria a existência, se não a tivesses chamado? Como poderia algo subsistir se não o tivesses querido? Mas perdoas todos, pois são teus, Senhor que amas a vida. Pois, não há Deus fora de ti que cuida de todos, pra que devesses mostrar que teus julgamentos não são injustos. Justo, governas o universo com justiça e estimas incompatível com teu poder condenar quem não merece castigo. Pois o princípio da justiça é tua força e, por seres o Senhor de todos, perdoas todos. Dominando a tua força, julgas com moderação e nos governas com indulgência. Assim procedendo, ensinas ao teu povo que o justo deve ser amigo dos humanos" Sb 11,21-26; 12,13-19. O Senhor do universo é atraído pela pequenez, se comove, se compadece com a humildade das criaturas, ao ponto dele mesmo partilhar da condição humana, assumindo até o que temos de pior: o pecado. Por amor louco por nós, o Unigênito do Pai se o Primogênito da nova criação no ventre de Maria, se fez pecado por nós, pra beber o cálice da nossa maldição até a última gota e nos fazer ressurgir novas criaturas com ele. "Vemos Jesus, por pouco feito menor que os anjos,

coroado de honra e glória, por causa dos sofrimentos da morte. É que, pela graça de Deus,

ele provou a morte em favor de todos os seres humanos. Não veio se ocupar com os anjos,

mas com a descendência de Abraão. Por isso, convinha se tornasse semelhante aos irmãos

que em tudo, para ser em relação a Deus um sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo. Pois, tendo ele mesmo sofrido pela tentação, é capaz de socorrer os que são tentados" Hb 2,9.16-18. Eis o mistério insondável de Deus que revela seu esplendor e glória experimentando a baixeza, a desgraça, a kénosis do diferente de Si. O Deus poderoso, Senhor do céu e da terra, é fascinado pela pequenez, por quem não tem poder, para comunicar brilho a quem vive nas trevas, vida a quem está morto. Ademais, é uma constante de Deus quando vai iniciar algo importante: não chama poderosos e ricos, mas fracos, pobres, idosos, jovens, pequenos, marginalizados, par confundir os poderosos. "O que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus escolheu pra confundir o que é forte; e o que no mundo é vil, desprezado, o que não é Deus escolheu pra reduzir a nada o que é" 1 Cor 1,27-28. Um dia, arrependido de ter criado o ser humano, que acumulava pecado sobre pecado, Javé se curvou diante da intercessão humilde do justo Noé e lhe permitiu fazer uma arca para salvar um casal de cada espécie antes de destruir tudo pelo dilúvio. As gerações depois de Noé multiplicaram o pecado do mesmo jeito que as anteriores, "porque os desígnios do coração humano são maus desde a sua infância" Gn 8,21. O cúmulo do pecado e arrogância contra Javé foi a construção da Torre de Babel, "cujo ápice penetra nos céus" Gn 11,5. Javé Sabaot, Senhor dos exércitos, vendo que o ser humano é incorrigível, se rende e decide caminhar com ele apesar dos seus pecados. Para iniciar a nova empreitada, chama o casal de idosos, Abraão e Sara, pra começar um novo povo, gerado não da carne e do sangue, mas através da fé na Palavra revelada. Eles geraram filho único Isaac, do qual se originou povo tão numeroso como os grãos de areia do mar e as estrelas do céu. A descendência de Abraão pela fé desaguou em Jesus Cristo, que une em sua Pessoa todos que nasceram pela fé, antes dele e depois. Pois, antes da encarnação, o Cordeiro já estava imolado na Trindade imanente por nós, ensejando a salvação de quem a ele aderisse pela fé, praticando o direito e a justiça, vivendo a santidade ética. Jesus é o realizador do sonho de santidade de Javé pro seu povo. Entre o pai da fé judeu-cristã e Jesus muitas mulheres e homens humildes, idosos, jovens, pequenos para o mundo, participaram da caminhada de fé dos descendentes de Abraão: Ana, mãe de Sansão e Ana, mãe de Samuel eram idosas. Davi, o filho mais novo de Jessé, ainda adolescente foi chamado para ser o rei de Israel do agrado de Javé. Jeremias ainda era criança quando foi chamado para ser profeta do Altíssimo. Diante da alegação: "Sou apenas uma criança", Javé lhe assegura: "Vai, eu te envio a eles. Não os temas, pois estarei contigo". Para Javé pequenez, fraqueza, pouca ou muita idade não são obstáculos para que manifeste seu poder, realize seu projeto, pois "pra Deus, nada é impossível". A maturidade que vale é a da fé, não a da vida longa. "Velhice venerável não é a de uma longa duração, nem se mede pelo número dos anos; o bom senso equivale aos cabelos brancos, uma vida eticamente sábia, à idade avançada" Sb 4,8. Morrer com muitos anos não significa morrer idoso, mas viver eticamente, ter grande fé, viver no registro do kairós, da eterna presença de Deus, gerador de paz, não no registro do chrônos, tempo tripartite inconstante, fugidio, causador de ansiedade. Antes de Abraão, houve muitas pessoas de fé abraâmica, inclusive Adão, que viveu 930 anos. A fé do jovem Abel o fez avançado em idade kairológica e ele se tornou uma ameaça ao ímpio irmão Caim, que o matou por inveja. Para substituir Abel, Adão e Eva geraram Set, homem de fé, pois faleceu aos 912 anos. Matusalém viveu 969 anos, Noé, 950. Noé gerou Sem, que viveu 500 anos. Sem gerou Nacor, que viveu 119 e ele gerou Taré, que viveu 205 anos. Taré gerou Abraão, o paradigma daquele que crê, que viveu 175 anos. Quer dizer, Abraão integra longa tradição de pessoas de fé, que remonta a Adão e Eva e continua depois dele nas pessoas de Isaac, Jacó, José do Egito, Moisés, Rute, Débora, Ester, Tamar, Ana mãe de Samuel, Davi, Jó, o Salmista, os Sábios e Profetas, até o limiar do NT, quando os idosos (maduros na fé) Isabel e Zacarias geraram João Batista. Essas pessoas todas pertencem à descendência da Mulher, inimiga da estirpe da Serpente (Gn 3, 15). A fé de Abraão, de seus ancestrais e pósteros insere-se, pois, na estirpe a nova Eva, da mulher Maria, cujo primogênito, Jesus, é "a Descendência goélica de Abraão, que incorpora em sua Pessoa milhões de "filhos e filhas de toda tribo, língua, povo e nação" gerados com ele em Maria Gl 3,16; Lc 2,7; Ap 5,9. Por isso, Jesus diz: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu Dia. Ele o viu e se encheu de alegria" Jo 8,56. A fé de Abraão já era em Jesus Cristo. Para a ocorrência do Dia de Javé, Maria e José, jovens, mas maduros na fé, foram chamados para ser mãe e pai do primogênito da Mulher, daquele que esmagará a cabeça da Serpente, Jesus Cristo, a Descendência corporativa de Abraão, "mais numerosa que as estrelas do céu e os grãos de areia da praia". Junto ao Menino Jesus havia outros idosos na fé, da estirpe da Mulher, da Descendência corporativa de Abraão: a profetisa Ana e Simeão, que louvavam Deus pela chegada de Jesus e por tê-lo visto na fé. "Agora, soberano Senhor, podes despedir em paz teu servo segundo tua palavra, pois meus olhos viram tua salvação, que preparaste em face de todos os povos, luz para iluminar as nações, glória do teu povo, Israel, pra fazer misericórdia com nossos pais, lembrado da sua aliança sagrada, do juramento que fez ao nosso pai Abraão" Lc 2,29-32; 1,72-73. Pobres e idosos pra o mundo, ricos e jovens na fé. Jesus também faz parte da plêiade dos anawins de Javé, pois, "sendo rico se fez pobre, pra nos enriquecer com sua pobreza". Mostra preferência pelos pequenos quando chama e escolhe doze rudes pescadores pra serem apóstolos e com eles iniciar a etapa final da caminhada do novo povo de Deus, iniciada por Abraão, levada à perfeição pela encarnação do Unigênito. Paulo conhecia a peculiaridade, preferência do Deus de Israel pelos pequenos, pelos pobres, desprezados, por viúvas, órfãos, estrangeiros. "Vede, pois, de quem sois irmãos, vós que recebestes o chamado de Deus; entre vós não há muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos ou de família prestigiosa. Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; o que é fraqueza, Deus o escolheu pra confundir o que é forte; o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, ele o escolheu pra reduzir a nada o que é, para que criatura alguma possa vangloriar-se diante de Deus. Ora, é por ele que vós sois em Cristo Jesus, que tornou-se para nós sabedoria quevem de Deus, justiça, santificação e redenção, a fim de que, como diz a Escritura, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. Irmãos, até quando fui ter convosco, não apresentei-me com o prestígio da palavra, da sabedoria humana pra vos anunciar o mistério de Deus. Pois não quis saber de outra coisa entre vós, senão de Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado que, pra os judeus é escândalo, pros gentios é loucura, mas pra os que são chamados, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder e sabedoria de Deus. Os gregos andam em busca de sabedoria, os judeus pedem sinais. Porém, nós anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios. Pois, o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens. Por isto, com todo ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo. Por isso, alegro-me nas fraquezas e opróbrios, nas necessidades, nos perseguições e angústias por causa de Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte" 1 Cor 1,26-31; 2 Cor 12,9-10. Para chegar à glória, ser exaltado é preciso passar pelo cadinho da humilhação (Eclo 2,5). Deus faz o milagre de tirar a glória do desprezo. Maria sabia disso quando diz: "Minha alma engrandece o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada, pois o Poderoso fez grandes coisas em meu favor. Agiu com a força do seu braço, dispersou homens de coração orgulhoso. Depôs os poderosos de seus tronos e elevou os humildes" Lc 1,46-52. O Deus humanado conheceu a glória, a exaltação, depois de passar por grandes humilhações por parte dos homens. Chegou à glória, conquistou o senhorio depois de passar pelo desprezo dos homens. "Jesus, o autor e realizador da fé, em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus" Hb 12,2-3. Jesus não conquistou senhorio e glória por vontade própria, mas o recebeu do Pai depois de passar pela humilhação para salvar seus irmãos da morte. "Aquele por quem, para quem todas as coisas existem, querendo conduzir muitos filhos à glória, levou à perfeição através do sofrimento o autor da salvação deles. Pois, tanto o Santificador quanto os santificados, todos descendem de um só" Pai; "razão porque não se envergonha de chamá-los irmãos, dizendo: anunciarei teu nome a meus irmãos. Eis-me aqui com os filhos que Deus me deu" Hb 2,10-13. Paradoxal, desconcertante senhorio, conquistado, não com a derrota dos inimigos pelas armas, mas pelo dom da vida para os livrar da morte. "Meu reino não é deste mundo. Se fosse, meus súditos teriam combatido para eu não ser entregue aos judeus. Mas meu reino não é daqui" Jo 18,36. O combate de Jesus não é contra os poderes do mundo, "o sangue e a carne, mas contra os Principados, Autoridades, Dominadores do mundo das trevas, contra os espíritos do Mal, que povoam as regiões siderais", pondo obstáculo entre Deus e os homens. Os poderes infernais que escravizavam os irmãos de Jesus foram derrotados pelo Cordeiro de Deus, nosso Goel, que tomou sobre seus ombros os pecados pessoais dos irmãos e o pecado impessoal do mundo, força negativa da sociedade e instituições que oprimem a estima das pessoas, e os destruiu com sua morte vicária na cruz. Morte, que é ao mesmo tempo julgamento e condenação dos poderes das trevas, do príncipe deste mundo, da Serpente e sua descendência maldita. Na agonia do Getsémani, que prenunciava as torturas e a morte de cruz, Jesus declarou incisivamente: "É agora o julgamento deste mundo, agora o príncipe deste mundo será lançado fora; e quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim" Jo 12,31-32. Morte de cruz seguida da ressurreição, que inundou a criação de vida nova de Jesus, selando de vez a destruíção da prole da Serpente. Paulo descreve com beleza a conquista do senhorio de Jesus: "Paulo, servo de Jesus Cristo, nascido da estirpe de Davi segundo a carne e estabelecido Filho de Deus com poder, por sua ressurreição dos mortos segundo o Espírito de santidade, Jesus Cristo, nosso Senhor, de quem recebemos a graça e a missão de pregar, para o louvor de seu Nome, a obediência da fé entre todos os gentios" Rm 1,1-5.

Eis uma linda razão para apaixonar-nos por Jesus Cristo, nosso rumo, nosso alimento, nossa energia, nossa paz, o nosso Senhor. Ele deu o exemplo de humildade, mostrando que

se chega à vida passando pela morte, à glória pela quénose: "Sendo rico se fez pobre, para nos enriquecer com sua pobreza. Sendo de origem divina, não se prevaleceu da igualdade de natureza com Deus, mas esvaziou-se, assumindo a forma de escravo. E sendo achado em forma humana, humilhou-se mais ainda, sujeitando-se à morte, morte de cruz. Por isso, Deus o sobreexaltou grandemente e agraciou com o Nome que está sobre todo nome: Jesus

Cristo é o Senhor". Portanto, "o que para mim era lucro o tive como perda, por amor de

Cristo. Ainda mais: tudo considero perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus,

meu Senhor. Por ele perdi tudo e tenho tudo como esterco, para ganhar Cristo e ser achado nele, não com a justiça da Lei, mas a justiça que vem de Deus, apoiada na fé, pra conhecê-lo, conhecer o poder de sua ressurreição e participação nos seus sofrimentos, me igualando com ele na sua morte, pra ver se alcanço a ressurreição dos mortos. Avançando para o que está adiante, esquecendo-me do que fica pra trás, prossigo pro prêmio da vocação do alto, o alvo, que vem do Pai no Cristo Jesus" Fl 3,7-12. A kénose do Primogênito é o esplendor, a glória do rei e Senhor Jesus. Ele é poderoso, tem a plenitude do poder, mas não o usa pra humilhar os pequenos, mas gerar vida onde ela está ameaçada e elevar-lhes a auto-estima. Ele não perde a grandeza ou se sente diminuído porque desceu até nós. Pelo contrário: sua glória está justamente em aceitar ser humilhado pra livrar-nos de toda humilhação. Pelo generoso dom da vida por nós, pagando o preço do próprio sangue, "o Pai sobreexaltou-o e lhe deu o nome que está a cima de todo nome: Jesus Cristo é Senhor". Nome que tem de toda eternidade e que nunca usou pra rebaixar ninguém. "Não há Deus fora de ti que cuida de todos, pra que devesses mostrar que teus julgamentos não são injustos. Não há soberano ou rei que possa desafiar-te por tê-los castigado. Justo, governas o universo com justiça e estimas incompatível com teu poder condenar quem não merece castigo. Pois a tua força é o princípio da justiça, e por seres o Senhor de todos, todos perdoas. Demonstras tua força a quem não crê na perfeição do teu poder, confundes a audácia dos que não a reconhecem; mas, dominando tua força, julgas com moderação e nos governas com muita indulgência; quando queres está sempre ao teu alcance fazer uso do teu poder" Sb 12,13-18. Eis a prova inconteste da indulgência de Deus conosco: "Quando chegou a plenitude do tempo, enviou ele ao mundo seu Filho, que se fez carne num corpo semelhante ao nosso corpo de pecado, e habitou entre nós e nós vimos a sua glória, glória que tem junto ao Pai como Filho único, antes da fundação do mundo, cheio de graça e verdade" Jo 1,14;17,24. Não só encarnou-se: "deu a vida por nós quando ainda éramos pecadores e estávamos mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo e com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus com Cristo Jesus, para mostrar a extraordinária riqueza de sua graça aos tempos vindouros, pela sua bondade conosco, em Jesus Cristo" Gl 4,4; Rm 8,3; Fl 2,4-7. Quem de bom senso, recusaria submeter-se com respeito, reverência, gratidão, amor ilimitado a tão santo, corajoso e generoso Senhor? Senhorio conquistado pelo anúncio da Palavra do Pai e Ruah, pelo serviço humilde aos irmãos (diaconia) e o dom da vida (missão sacerdotal).

Só quem é rei, sacerdote e profeta como Jesus merece ser exaltado, glorificado como o Senhor. "Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo (na encarnação e na cruz) e assumiu a condição de servo (rei), tomando a semelhança humana. E achado em figura de homem, se humilhou, foi obediente até a morte de cruz! Por isso, Deus o sobreexaltou grandemente e o agraciou com o Nome que está acima de todo outro nome, pra que, ao Nome de Jesus, se dobre todo joelho dos seres celestes, terrestres e dos que vivem sob a terra, e, para a glória de Deus Pai, toda língua confesse: Jesus Cristo é o Senhor" Fl 2,6-11. De fato, só merece o nome de Senhor quem, como Jesus, serve com gratuidade, sem visar o próprio interesse, vantagens pessoais (rei); quem oferece gratuitamente a vida para gerar vida em abundância para outros, fazendo da vida uma consagração, entrega livre em louvor ao Pai (sacerdote): "Irmãos, exorto-vos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva e agradável a Deus: este é vosso culto espiritual" Rm 12,1; quem testemunha o que viu e ouviu da parte de Deus (profeta). Javé tem os olhos abertos para a dor do seu povo, e sempre encontra um meio de socorrê-lo com gratuidade. "Eu vi a opressão do meu povo no Egito, ouvi os gritos de aflição diante dos opressores, tomei ciência do seu sofrimento. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios, fazê-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel. O clamor dos israelitas chegou a mim. Vi a agressão que os egípcios fazem pesar sobre eles. Vai, pois, enviar-te-ei ao faraó, pra fazer os filhos de Israel, meu povo sair do Egito", disse Javé a Moisés. O Libertador do povo do pecado fez mais. "Saí do Pai e vim ao mundo (encarnação), realizei a obra que o Pai encarregou-me de realizar (salvar o povo dos pecados). De novo deixo o mundo e vou pro Pai (morte/ ressurreição). Aquele que vem do céu dá testemunho do que ouviu e viu. Aquele que Deus enviou fala suas palavras, pois este dá o Espírito sem medida. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que seu senhor faz; chamo-vos amigos, pois tudo o que ouvi do meu Pai dei-vos a conhecer. Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos. O que ouvimos (fé), vimos (obras), contemplamos (adoração) e nossas mãos apalparam (encarnação) do Verbo da vida, vo-lo anunciamos. Falavam ainda, quando ele apresentou-se entre eles e disse: A Paz esteja convosco! Tomados de temor e espanto, imaginavam ver um espírito. Mas ele disse: por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai, senti que um espírito não tem carne nem ossos como vedes que tenho. Dizendo-lhes isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, por causa da alegria, ainda não podiam acreditar e permaneceram surpresos, disse-lhes: tendes o que comer? Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o e o comeu diante deles" Ex 3,7-10; Jo 3,11.32; 15,15; At 2, 20; 1 Jo 1,1-2; Lc 24. Só alguém como Jesus, que serve com gratuidade segundo o exemplo do Pai, que faz o sol levantar-se de graça sobre justos e pecadores, e a chuva cair pra maus e ingratos, que faz da vida uma consagração aos irmãos em louvor ao Pai, que nos ama com amor ilimitado, dá o próprio corpo em alimento e o sangue em bebida, só alguém assim pode falar com conhecimento de causa, pois fala do que ouviu e viu. Só Jesus tem as credenciais da "Testemunha fiel", o Profeta por antonomásia. Só Jesus pode ser o Senhor do céu, da terra, dos infernos, e todos lhe devem reverência, respeito, honra, glória, adoração. Seu senhorio resume sua missão profética, sacerdotal e régia, a tríplice forma dele se entregar por nós. "Digno és de receber o livro, abrir seus selos, pois foste imolado e, por teu sangue, resgataste para Deus homens de toda língua, tribo, povo, nação. Deles fizestes para Deus uma realeza e sacerdotes, que reinarão sobre a terra. Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo da particular propriedade dele" Ap 5,9-10; 1 Pd 2,9. Jesus é o paradigma do Senhor porque é o modelo do Servidor, que dá a vida por amor. "Chamais-me Mestre e Senhor, e eu o sou. No entanto, estou no meio de vós como quem serve. Quem quiser ser o primeiro, seja o servo, o último". Primeiro no serviço, no dom de si, não no mando. Senhor é quem serve, quem faz, não quem manda autoritariamente. Só assim o último na escala social faz-se primeiro na escala de valores éticos. Na Escritura, servir antecede o louvor e a palavra, que devem estar a serviço da ação criadora e renovadora. Depois de criar todas as coisas abaixo deles, Javé criou o homem e a mulher e entregou-lhes a gestão da criação. "Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra, submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam sobre a terra. Dou-vos por alimento todas as ervas que dão semente, que estão sobre toda a superfície da terra, e todas as árvores que dão frutos com semente" Gn 1,28-30. Interação perfeita entre o homem e as demais criaturas: as criaturas servem o homem (alimentam), o homem serve (cuida) as criaturas. Dominar, ser senhor é servir, cuidar das necessidades das criaturas. Só no sétimo dia ocorre o louvor, que coroa o servir. Sete é número simbólico, que representa completude. A semana tem 7 dias, cada dia é dia de louvor. "Bendizei a Javé todas as suas obras, nos lugares todos onde ele governa, louvai-o e exaltai-o para sempre. Vós todos que adorais Javé, Deus dos deuses, bendizei-o: louvai-o, dai-lhe graças, pois a sua misericórdia é para sempre" Sl 102 [103],22; Dn 3,57.90.

É este o formato do senhorio de Jesus. Ele passava o dia cuidando das ovelhas perdidas. À noite, recolhia-se em lugares ermos para louvar e curtir seu Abba, Pai querido. Antes do louvor máximo, da oração de intercessão absoluta, com resposta inegável do Pai, antes de dar a vida na cruz, Jesus serve. Durante a última ceia da antiga aliança, dentro da qual ele instituiu a ceia única da nova aliança, que substituirá em definitivo os sacrifícios ineficazes de animais para apagar pecados e santificar, "Jesus levanta-se da mesa onde estava sendo servido, depõe o manto, toma uma toalha, cinge-se com ela. Depois põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos Doze e a enxugá-los com a toalha (como o servo com o senhor). Depois de lhes lavar os pés, retomou seu manto, voltou à mesa e lhes disse: Compreendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Pois, se eu, o Mestre e o Senhor vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo pra que, como vos fiz, o façais vós também. O servo não é maior que seu senhor, nem o enviado maior que quem o enviou. Basta que o discípulo se torne como o mestre e o servo como seu senhor. Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes" Jo 13,4-5.12-17; Mt 10,24. Eis aí o segredo do amor: cuidar, gerar, conservar a vida fora de si. Não apenas dando coisas, mas dando o melhor de si, gastando a energia da vida e do corpo para gerar vida, em homenagem e louvor ao Autor e Doador da vida e da fé, da salvação. "Oferecei vossos corpos como hóstia viva e agradável a Deus. Eis vosso culto espiritual agradável a Deus" Rm 12,1. Assim Jesus fez para restaurar a criação. Por isso é Rei, Sacerdote e Profeta ab eterno: serve, doa a vida, fala o que ouviu e viu junto do Pai. Ação: "No Princípio era a Palavra, Ela era Deus e estava junto de Deus desde o Princípio; por Ela foram criadas todas as coisas no céu e na terra, as invisíveis e as visíveis, e sem ela nada foi feito de tudo que existe. Na plenitude do tempo, aprouve a Deus reconciliar por ele e pra ele todos os seres, os da terra e os dos céus". Louvor: liturgia (leiton-ergón), ação da fé do povo, que proclama e agradece a misericórdia de Javé, firmada na aliança de amor com ele: "Eu serei vosso Deus, vós sereis meu povo": Amo-vos, amparo, protejo; obedecei às minhas leis: "aquele que me ama, guarda minhas palavras". O papel do povo sacerdotal é oferecer o sacrifício de louvor da própria vida: renunciar ao egoísmo e reconhecer Jesus como único Salvador e Senhor. "Meu sacrifício é um coração penitente. Palavra: sabendo-nos amados de Deus e o louvando, tornamo-nos testemunhas do que ouvimos e vimos, pela fé. Testemunhamos a Palavra que deixou pra alimentar nossa fé e que faz por nós. Somos profetas de Jesus, pois falamos em seu Nome o vimos e ouvimos dele na fé. Jesus fala o que viu e ouviu do Pai. Por isso, é a Testemunha fiel, aquele que nos ama e dá a vida por nós. Por isso o Pai "lhe deu o Nome que está acima de todo outro nome: Jesus Cristo é o Senhor dos senhores, que tomou posse do seu Reino pela ressurreição dos mortos", após derrotar pela morte de cruz o príncipe deste mundo, o senhor da morte. "Agora foi julgado o príncipe deste mundo. Ele nada tem comigo". Por isto, vivemos sob o senhorio, a realeza do Ressuscitado, somos súditos do único Senhor, que conquistou o senhorio pelo dom da vida e o humilde serviço de lavar-nos os pés e pela generosidade e amizade de nos revelar os segredos que ouviu do coração do Pai. "Eu vos amo e Pai também vos ama. Resta-nos esperar até que seus inimigos sejam postos debaixo dos seus pés", à medida que os súditos e irmãos assumirmos a morte ao pecado, pela fé. Enquanto não assumirmos os méritos da redenção operada por Jesus, Satanás continuará tendo poder sobre nós. "Aquele que crê em mim tem a vida eterna, não será condenado. Aquele que não crê, já está condenado, pois não creu no Nome do Filho Único", fora do qual não há salvação. Mas, em cada ato nosso de fé o Juízo de Jesus sobre o príncipe do mal se consumará, e a morte é derrotada em definitivo . A fé nos dá a vida eterna. Nossa missão é "proclamar entre as nações: reina Jesus", para despertar a fé no único Senhor, que nos ama e protege. Não há Senhor mais poderoso que Jesus Cristo, o Rei dos reis da terra, que exerce silenciosamente seu poder, como Intercessor de plantão pelos irmãos junto ao Pai. Ninguém, na terra e no céu tem o poder único de Jesus Cristo, paradoxalmente conquistado pela humilhação da cruz, onde doou a vida pelos pecadores, para livrar-nos do poder de Satanás: "Conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque libertará o seu povo dos seus pecados". O poder-serviço, o senhorio amoroso de Jesus desmoraliza o poder opressor do príncipe do mundo e seus asseclas. Ele não tem poder algum sobre os filhos do Pai e Ruah, que vivem pela fé no Servo e Senhor, Jesus. Mesmo que os seguidores da Serpente nos massacrem, a vitória será dos descendentes das Mulher, pela fé no Rei-Servo. Por isto, quem segue Jesus não precisa temer o barulho dos opressores, pois confia no poder silencioso, mas eficaz do Senhor Jesus. "Os que confiam no Senhor jamais serão confundidos. Nem que passem por vales escuros, nada temerão: com eles está Javé sempre. Não temais, homens de pouca fé. Estou convosco todos os dias até o fim". São passageiras as derrotas dos que vivem pela fé: a vitória Deus está garantida desde já. "Aquele que crê em mim já tem a vida eterna. Javé é meu pastor, nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar. Para as tranqüilas águas me conduz e restaura minhas forças. Ele me guia por caminhos justos, por causa do seu Nome. Ainda que caminhe por vales tenebrosos, nada temerei, pois estás junto a mim; teu bastão e teu cajado tranqüilo me deixam. Diante de mim preparas uma mesa à frente de meus inimigos; minha cabeça com óleo unges e minha taça transborda. Sim, felicidade e amor me seguirão todos os dias da minha vida; minha morada é a casa de Javé por dias sem fim" Sl 22 (23). Satanás usa o poder barulhento para gerar medo e insegurança. Mas o poder de Jesus transmite segurança, paz, comunica vida. No Dia da ressurreição/ascensão Jesus diz aos discípulos: "A Paz esteja convosco. Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. O Pai ama o Filho e entregou tudo em sua mão. E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o Filho se submeterá ao Pai que tudo lhe submeteu, pra que Deus seja tudo em todos". Eis o fundamento da realeza de Jesus, que o crente assume pela fé. "Quem crê no Filho tem vida eterna; quem não crê não verá a vida. Dou a vida eterna a minhas ovelhas e elas não perecerão, e ninguém as arrancará da minha mão. Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos, e ninguém as pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai somos um. Chegou a hora, Pai: glorifica o teu Filho, pra que teu Filho te glorifique e que, pelo poder que lhe deste sobre toda carne (criação), ele dê a vida a todos que lhe deste" Lc 24,36; Mt 28,18; Jo 3,35-36; 10,28-29; 13,3;17,2; 1 Cor 15,28. Na generosidade de servir, gerar vida reside a essência do senhorio de Jesus. "O maior dentre vós, quem governa, seja como aquele que serve. Chamais-me Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Porém, estou no meio de vós como aquele que serve. Se, pois, eu, o Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo pra que, como eu vos fiz, vós o façais também" Mt 23,11; Lc 22,27; Jo 13,12-15. No espírito de serviço se revela a glória, a estética transcendental de Jesus de Cristo, o Senhor dos senhores. Senhor que serve seus súditos é a maior revolução antropológicas e sociológica jamais vista. Este é o espírito da diaconia do Deus de Abraão, Isaac, Jacó, Profetas, Maria e José, de Jesus de Nazaré, dos Apóstolos e de toda pessoa que vive pela fé em Jesus Cristo.

O único Senhor é Jesus Cristo. A autoridade dele e dos que o seguimos pela fé emana do amor-serviço aos irmãos, não do mando opressor. O espírito do senhorio de Jesus e seus seguidores na fé é amor que se doa gerando vida nos diferentes de si, sem manipulação, como fazem os poderosos maus, descendentes e seguidores da Serpente. Os que seguimos Jesus, os descendentes da Mulher e de Abraão, não compactuamos com os desvalores dos seguidores do Dragão. "Ninguém pode servir a dois senhores. Pois, odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao mundo" Mt 6,24. O discípulo de Jesus não pode ficar em cima do muro, indefinido, tíbio: acender uma vela a Deus e outra ao Diabo. A tibiez atrai a ira santa da "Testemunha fiel e verdadeira. Conheço tua conduta: não és frio nem quente. Oxalá fôsseis frio ou quente! Assim, porque não és frio ou quente, estou pra te vomitar da minha boca. Pois dizes: rico sou, enriqueci-me, de nada mais preciso. Mas, não sabes que és um infeliz: miserável, nu, pobre" Ap 3,15-17. A indefinição por Jesus favorece Satanás. Precisamos escolher de qual lado estamos. Se Jesus é de fato nosso Senhor, por que ficamos indecisos e nosso coração se perturba ante os falsos senhores do mundo, que covardemente erigimos como senhores dos nossos destinos, como medo de nos comprometermos com os valores e exigências do senhorio de Jesus? Por que, quando nossa cruz aumenta mais, empenhamos tão facilmente nossa liberdade com a Serpente? A explicação é: não levamos a sério o senhorio de Jesus. Se confiássemos nele, só por ele nosso coração bateria de felicidade, só a ele serviríamos sem medo de ser manipulados. Se sirvo ao meu Senhor, não importa o que digam: ele é meu juiz. Se diante dele a minha consciência está em paz, não há porque temer a má-fé do

mundo. Servir meu Parceiro é minha satisfação. Seja na missão ostensiva anunciar a boa nova a toda criatura, atender os necessitados ou na humilde, silenciosa missão sacerdotal, intercessora dos contemplativos juntamente com Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, Cordeiro de Deus imolado e de pé, eternamente ofertado em sacrifício pelos pecados para gerar vida abundante pra aqueles que libertou da morte. Terezinha do Menino Jesus é a padroeira das missões, sem nunca ter saída da trapa, onde, por 9 anos, ofereceu a vida em sacrifício de louvor. Apesar de muito jovem, sem idade suficiente para viver na clausura, era madura na fé e recebeu autorização do Papa para ser monja carmelita descalça. Sua oração e amor ao Reino participavam tão intimamente da missão sacerdotal de Jesus, que era apoio logístico poderoso aos missionários Jesuítas e Franciscanos na linha de frente em diversas missões na terra. A missão sacerdotal de Jesus, da qual os contemplativos participamos, é a missão principal do Cordeiro. A oração é o combustível mais poderoso de qualquer ação motivada pela fé. O Reino é de Jesus, sua energia é Deus Mãe, geradora de vida. Unidos a Ruah na oração, faremos proezas em Nome de Jesus. "Eles saíram a pregar por toda parte, o Senhor agindo com eles, confirmando a Palavra através dos sinais que a acompanhavam" Mc 16, 20. Que sinais? Adesão das pessoas à boa nova anunciada pelos Apóstolos; a formação das comunidades fraternas motivadas pela fé, que celebravam a eucaristia sob os sinais do pão e do vinho e partilhavam solidariamente os bens com os mais fracos. Como Jesus agia com eles? Dando-lhes apoio logístico da oração sacerdotal permanente junto ao Pai; enviando Deus Mãe aos corações dos Apóstolos e dos que, por meio da palavra deles, convertiam-se, aderiam a Jesus, aos valores éticos do Reino de Deus, pela fé. No serviço do Reino não podemos separar ou opor oração e ação, pois a boa obra da fé é fruto da oração sacerdotal de Jesus na vida de quem crê, na comunidade. Na vida cristã, a missão principal é a oração unida à oração sacerdotal incessante de Jesus. O sucesso do anúncio da boa nova, das boas obras da fé depende da nossa oração em, com, por Cristo. Sem sentido, inúteis ao Reino de Deus, são obras realizadas sem a mediação intercessora, a oração sacerdotal de Jesus e dos contemplativos. A oração é a ação principal do missionário contemplativo, do pregador do Reino de Deus ou da humilde diaconia pelos pobres. Mas, para ser eficaz, ela precisa ser feita em Cristo (unido à videira como o ramo), com Cristo (junto com ele), por Cristo (por intercessão dele). Orando deste modo, não precisamos nos preocupar em pôr nossas vidas e missão nas mãos, sob o poder de Deus, pois a fé nos coloca de cheio no âmbito do poder de Jesus Cristo. Ele é o Senhor, tudo lhe pertence, tudo está sob seu poder: "Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra, o Pai o constituiu herdeiro de todas as coisas e nada escapa ao teu divino olhar". Na fé, resta-nos aceitar Jesus Cristo como o Senhor, Enviado do Pai na força de Ruah. Não com submissão servil, pois "já não vos chamo servos, mas amigos, pois vos dei a conhecer tudo que ouvi do meu Pai", mas acolhendo a soberania de Jesus pelo serviço de amor prestado em favor da humanidade pecadora, sendo senhores ao modo de Jesus: servindo os irmãos como ele continua servindo. É por causa do humilde serviço de Jesus e de seus seguidores que "o Pai sobreexaltou-o grandemente e o agraciou com um Nome que é sobre todo nome, para que, ao Nome de Jesus se dobre todo joelho dos seres celestes, terrestres e dos que vivem sob a terra e, para a glória do Pai, toda língua confesse: Jesus é o Senhor". Acolhendo na fé o senhorio de Jesus e sendo senhores como ele é – servindo – sabemos que nossas preocupações e desejos são também dele, pois não é indiferente a nossos impasses e angústias. A missão é de Jesus e Deus Mãe, mas tomamos

parte nela, com a mesma energia e eficácia de Jesus. Tudo que é humano, Jesus assumiu e resgatou na encarnação: o que 'Jesus não assumiu não foi redimido'. Se o deixarmos ser Senhor das nossas vidas, ele cuidará das nossas vidas. "Coloca no Senhor a tua alegria, ele realizará os desejos do teu coração. Entrega teu caminho a Javé, confia nele, ele agirá. Javé assegura os passos do homem reto, eles são firmes e seu caminho agrada-lhe; quando tropeça não chega a cair, pois Javé o sustenta pela mão. Ele deu ordens a seus anjos pra que não tropeces em alguma pedra em teu caminho". De fato, nossa vida, a vida de cada um está nas mãos de Deus, sob o poder benfazejo do Criador já antes da fundação do mundo e quando fomos gerados por nossos pais. Somos obra do amor criador do nosso Deus, que nos ama no Amado de toda eternidade. "Amas tudo que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito. Como poderia subsistir alguma coisa se não a tivesses querido? Como conservaria sua existência, se não a tivesses chamado? Mas perdoas todos porque são teus, Senhor, amigo da vida". Porque somos povo de Deus e ele é nosso Deus, somos sua propriedade e ele é nossa herança. Se Jesus foi constituído pelo Pai "herdeiro universal de todas as coisas", os ramos videira "são co-herdeiros dos bens celestes com Cristo. Nele o Pai nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou a sermos filhos adotivos seus por Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua vontade, pra o louvor e glória de sua graça, com a qual nos agraciou no Amado" Fl 1,4-6. Somos filhos por participação na natureza do Filho. Tudo que Jesus é por natureza, cada membro do seu Corpo o é por participação. Ele é o Filho, nós, filhos adotivos, filhos no Filho. "O Verbo é a luz verdadeira que ilumina todo homem. Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas tem a luz da vida. Mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más. Vós sois a luz do mundo. Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus". Cristo é o Pastor, nós, as ovelhas. Mas, quando cuidamos das ovelhas em Nome de Jesus, imbuídos, guiados pelo Espírito santidade filial, somos pastores também. Ele é o "Templo, a Morada de Deus na Terra". Nós "somos pedras vivas do Templo novo. Nele bem articulado, todo o edifício se ergue em santuário sagrado no Senhor, e vós, nele também sois co-edificados pra serdes a habitação de Deus, no Espírito". Jesus é a videira; nós também, pois somos ramos vivos dela. Tudo que a videira é por natureza, os ramos o somos por participação. Por isso, tudo que Jesus pode, nós podemos também. "Nossa capacidade vem de Deus. É ele quem opera em nós o querer, o operar. Sem mim nada podeis". Mas unidos a ele, por nosso intermédio Deus age no mundo. "Quem vos ouve, ouve-me; se ouviram minhas palavras, ouvirão a vossa também; mas farão isto por causa de mim; quem vos recebe, recebe-me, quem vos rejeita, me rejeita; quem me rejeita, rejeita o Pai que me enviou. Portanto, desde já nossas vidas estão nas mãos, sob o poder de Deus, pela fé. Por isso, não precisamos preocupar-nos mais com entregar nossas vidas nas mãos dele. Precisamos apenas consentir que seja nosso Senhor, reine em nossas vidas, praticando os valores éticos, o direito e a justiça. Se

deixamos Deus ser Deus, tudo que nos acontecer ele partilhará conosco mediante a fé. Se deixarmos Deus ser Deus, servindo-o na condição em que estamos, por mais humilde que seja nosso trabalho, ele multiplicará o que fazemos com amor, em espírito de serviço aos irmãos, como ele fez com os cinco pães e dois peixes, para alimentar grande multidão com sobra. Só há um Rei: Cristo Jesus. Mas, ele conquistou a realeza pelo humilde serviço aos irmãos, assumindo corpo humano, solidariamente e o entregando na cruz para remir-nos da maldição do pecado. Todos somos chamados a ser senhores servindo os outros, como o fez o Senhor Jesus. Ninguém tem direito de oprimir ninguém. Jesus conquistou o senhorio no serviço humilde do lava-pés, do dom da vida na eucaristia, morte de cruz, ressurreição. Não pode ser diferente conosco. Jesus é o Senhor porque primeiro é Servo. Quando ele diz "Quem quiser ser o maior, sirva os outros", ele já o fez primeiro. "Dei-vos o exemplo, para que, assim como eu fiz, o façais vós também". Tudo que Deus nos pede, ele já praticou primeiro. Ele nos pede para amar, perdoar, servir, mas amou, perdoou, serviu primeiro. A realeza de Jesus é de serviço; seus seguidores não podem exercê-la de outra maneira. Pois o "discípulo não é maior que o Mestre: basta-lhe ser igual". Servir os irmãos é servir Jesus. "O que fizerdes ou deixardes de fazer ao menor dos meus irmãos, fazeis ou deixais de fazer a mim". Cada um, na sua condição e situação, sirva a Jesus nos irmãos, seguindo o exemplo do Irmão mais velho, fazendo nossa parte na parceria com a Trindade servidora. Ser santo é servir, pois nos torna semelhantes a Deus-Servo: "Sede santos, misericordiosos como vosso Pai é misericordioso". Só quando levarmos a sério a parceria com Deus, o deixando reinar, desempenhar o papel de Parceiro principal na aliança, e nós com ele na fé, aí seu Reino chegará a nós e teremos segurança e paz. Assim o mundo não nos atingirá com tanta violência: o Senhor mesmo tomará a dianteira, nos defenderá. "Já que confiou em mim, o defenderei". Por sermos parceiros seus, toda nossa vida está sob seu senhorio de Jesus, e nele venceremos, vencendo ou perdendo no mundo. Creio em Deus e sei que estou em suas mãos, por força da parceria de amor comigo, pela fé. Jesus é solidário com o que acontece aos parceiros mais fracos. Pela fé, sei que não serei abandonado: "Sei em quem pus minha fé. Posso tudo naquele que me fortalece". Eis minha fé, esperança, amor.

Deixar Deus ser Deus, não amoldá-lo ao nosso modo de pensar e viver, mas ajustando-nos ao seu modo de pensar e agir. "Mus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu. Tanto quanto o céu dista da terra, tanto é superior minha conduta à vossa e meus pensamentos ultrapassam os vossos" Is 55,8-9. Sintonizar com o pensamento e o modo de agir do Senhor é respeitar sua soberania e começar a mudar de vida segundo os termos da aliança que aceitei na fé, e viver em paz. A sintonia do meu pensar e agir com o pensar e o agir de Deus é a fé. A fé é dom da vida divina, com todas as potencialidades de pensar e agir que o Criador e Salvador me comunica e eu incorporo a meus pensamentos e sentimentos, pela fé, passo a viver pelos valores éticos do Reino. Viver pela fé é ser justo, ético como Deus é santo, em palavras e atos. Justiça da fé, não das obras. "Abraão creu e a fé lhe valeu como justiça. Meu justo vive pela fé": reconhece a soberania de Deus sobre todas as coisas, sem prejuízo das leis naturais e da liberdade de escolha dos seres livres. "Nele vivemos, nos movemos e existimos, pois somos também da sua raça" At 17,28. Ele está presente nos acontecimentos, até nos contrários a seus projetos, pra dar-lhes sentido, fazendo-os redundar no bem da criação inteira. Ao Senhor interessa o destino feliz de suas criaturas. Criados à sua imagem e semelhança, homem e mulher refletem o Criador na sensibilidade, sentimento, pensamento, vida ética, social, comunitária. Tudo que brota da imagem de Deus é semelhante a ele, que confiou à sua imagem e semelhança o cuidado da criação: do homem pela mulher, da mulher pelo homem, deles pela manutenção, evolução conservação e das outras criaturas. "Deus disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, submetei e enchei a terra: dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu, todos os animais que rastejam sobre a terra". Ora o casal primevo, embora incumbidos de cuidar da criação, se apoderou dela, devastou-a sem respeito. Os descendentes de Adão e Eva entenderam o mandato genésico - dominar - como devastar, depredar. Ora dominar vem de 'dominus', senhor, e senhor é quem serve sem devastar: "Quem quiser ser o maior faça-se o menor; quem quiser ser o senhor torne-se o servo dos outros. Vós me chamais de Senhor e Mestre, e eu o sou. No entanto, estou no meio de vós como quem serve". Só o Senhor cria, ama e conserva suas criaturas. Do caos inicial ele cria a ordem criatural. Do caos do pecado ele faz a nova criação, restaurando todo o universo em, com, por Cristo Jesus. Assim como o Criador incumbiu Adão e Eva de respeitar a criação e cuidar dela, o Primogênito da nova criação também incumbe o homem e a mulher de "anunciar a boa nova da salvação a toda criatura", para restabelecer a ordem sonhada pelo Criador. Se o ser humano se tornar ético, toda a criação (animais, plantas, mares, montanhas) será beneficiada e tratada pelo homem com sabedoria, transformando a criação em cultura e civilização, harmonia entre natureza civilização. Todos as criaturas são solidários entre si. As plantas dão flores, as abelhas e outros insetos polinizam as flores, se alimentam delas e delas fazem mel, que alimentam seres humanos. Animais comem frutas, semeiam as florestas com os dejetos, em ciclo vital maravilhoso. A solidariedade do ser humano com a natureza é mais negativa que positiva, infelizmente: a natureza sofre mais efeitos da maldade e insensatez que da bondade do serhumano. "Por causa da maldade dos homens, animais, plantas morrem" Jr 12,4. Quando homens e mulheres se converterem e voltarem a cuidar da natureza, a boa nova chegará a ela. A exemplo dos Profetas e Jesus, a boa nova da salvação deve ser anunciado em atos e palavras. Eles faziam o que diziam. "Vou suscitar pra eles um profeta como tu, dentre seus irmãos. Colocarei as minhas palavras em sua boca e ele lhes comunicará tudo que eu lhes ordenar. Caso haja alguém que não ouça minhas palavras, que esse profeta pronunciar no meu nome, irei eu próprio acertar as contas com ele. Todavia, se o profeta tiver a ousadia de falar no meu nome uma palavra que eu não lhe tiver ordenado e falar no nome de outros deuses, este profeta deverá ser morto. Talvez perguntes no teu coração: como saberemos se tal palavra não é de Javé? Se o profeta fala em nome de Javé, mas a palavra não realiza-se, não se cumpre, trata-se então de uma palavra que Javé não disse. Tal profeta falou por presunção: não o temas". As palavras dos profetas têm eficácia idêntica à palavra de Deus: "Javé disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança, haja firmamento, luz", tudo ocorreu como ele falou. A boa nova, anunciada em palavras humanas cheias do Espírito criador é também palavra criadora, que gera filhas e filhos de Deus. "Aqueles que creram no seu Nome, que a receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, da vontade da carne e do homem, mas de Deus" Jo 1,12. Quem ouve a boa nova não lhe ficará indiferente, pois é interpelado, desinstalado, provocado por ela. "Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam sem antes terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pão ao que come, tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: não torna a mim sem fruto; cumpre, antes, minha vontade, faz ter êxito a missão para a qual a enviei. A fé provém da pregação, a pregação se exerce em função da palavra de Cristo. Mas, como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar se não há quem pregue? E como poderão pregar se não forem enviados?" Is 55,10-11; Rm 10,14-17. O evangelho também é anunciado em atos e palavras, tanto aos pobres como aos outros seres da criação. Nossa salvação eterna se definirá pelo que tivermos feito aos menores irmãos de Jesus: "Tive fome e me desates de comer; sede e não me destes de beber; estava prisioneiro e fostes ver-me; doente e não fostes me visitar. Tudo que fizestes ou deixastes de fazer aos meus irmãos pequeninos, é a mim o fazeis ou deixais de fazer". Como anunciar em atos a boa nova a pássaros, campos, mares, rios, florestas? Vimos que o destino da criação está unido ao destino do ser humano no bem e no mal. Infelizmente, por causa da insensatez humana, o mal tem afetado mais a criação que o bem. Desde o pecado de Adão e Eva, o ser humano vem tratando a criação com irresponsabilidade e desprezo, privando-a de usufruir, através da ação do ser humano, do cuidado de Deus por tudo que criou. Deus não apenas cria, mas conserva a criação e, com carinho, cuida "até dos lírios dos campos e aves do céu". O cuidado com a criação é parte da missão diaconal confiada por Jesus aos enviados em seu Nome: "Ide, anunciai a boa nova a toda criatura". Se o Criador, através do ser humano, tirar o olhar da criação, ela desaparecerá. Infelizmente o homem não está cuidando da obra de Deus. Os poluidores e destruidores maiores da vida no Planeta, os USA, recusam-se a assinar os tratados de Bali e Kyoto a favor da despoluição do Planeta, alegando prejuízo à economia. Os poderosos do mundo estão dando as costas à criação, terão de prestar contas ao Criador. "Todos esses seres esperam de vós que lhes deis de comer em seu tempo. Vós lhes dais e eles recolhem; abris a mão e fartam-se de bens. Se desviais o rosto, se perturbam. Se lhes retirais o sopro, expiram e voltam ao pó donde saíram. Se enviais, porém, vosso sopro, revivem e renovais a face da terra". Mas o ser humano não assumiu seu papel de tutor, curador da criação que Deus lhe confiou. Pelo contrário, passou a explorá-la sem respeito, destruí-la. E ela passou a sofrer as conseqüências da maldade humana, "não por seu querer, mas pela vontade má daquele que a submeteu". Em razão de quê, "ela geme, até o presente, como a mulher em dores de parto esperando sua libertação do cativeiro da corrupção, na esperança de atingir a liberdade dos filhos de Deus. E não somente ela: também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente suspirando pela redenção de nosso corpo. A terra está de luto e todos os seus habitantes perecem; os animais selvagens e aves do céu, até os peixes do mar desaparecem. Sois sumamente justo, Javé, pra que eu entre em disputa convosco. Entretanto, em espírito de justiça, desejaria vos falar. Por que alcançam bom êxito os maus em tudo que empreendem? E por que razão os pérfidos vivem felizes? É que sofrimento não há para eles, seus corpos são robustos e sadios. Não participam dos sofrimentos dos mortais, não são atormentados como outros homens. Ornam-se com colar de orgulho, com o manto de arrogância se cobrem. Os plantastes, enraizaram, cresceram, frutificaram. Nos seus lábios permaneceis, mas longe dos seus corações. Por isto, volta-se pra eles meu povo e bebe de suas águas sujas. E dizem então: Por ventura o sabe Deus? Tem conhecimento disto o Altíssimo? Então foi em vão que conservei o coração puro e lavei minhas mãos na inocência? Até quando permanecerá a terra em luto e há de secar a erva dos campos? Por causa da maldade dos humanos que nela habitam, animais, peixes morrem, por haverem dito: 'Não verá o Senhor nosso fim". Não se enganem os ímpios, os George Bush da vida: de Deus não se zomba impunemente. "Ri-se deles O-que-mora-lá-nos-céus". Quando o ser humano respeitar e temer Deus, tendo com ele relacionamento ético, aí começarão a olhar a criação com olhos bons. Limparão à terra da poluição que a maldade humana causou: limparão ares, rios, mares e darão aos peixes e aves, as espécies de animais recuperarão o direito de respirar ar puro, comer alimentos sem tóxicos, viver saudavelmente. Neste dia, pelas mãos benfazejas do homem e mulher éticos, a boa nova terá sido anunciada à criação inteira. É a esperança do Paraíso, em que todos os seres viverão integrados. "Então o lobo morará com o cordeiro, o leopardo se deitará com o cabrito, o bezerro, o gordo novilho e o leãozinho andarão juntos, um menino pequeno os guiará, a vaca, o urso pastarão juntos, se juntas deitarão suas crias. O leão se alimentará de forragem com o boi, a criancinha porá a mão na cova da víbora e a criança de peito poderá brincar junto à toca da áspide. Ninguém fará o mal ou destruição alguma em todo o meu santo monte, porque a terra ficará cheia do conhecimento de Javé como as águas enchem o mar" Is 11,6-9. Conhecer Javé é praticar o direito e a justiça, a essência do amor de Deus. É a nova terra, o novo céu, onde passaram as coisas antigas: Deus antigo, o homem e mulher antigos, a antiga criação. Por força da redenção universal, Deus armou sua Tenda com os homens e mulheres do mundo (nova terra), para viver com eles a parceria do direito e da justiça, e ao mesmo tempo "fez-nos assentar com Cristo Jesus nos céus" (novo céu), como "concidadãos dos santos e membros da Família Divina", que, além das Três Pessoas, inclui a nova humanidade e nova criação. Cristo Senhor habita conosco, nós "somos seu povo e ele, Deus-Conosco, é o nosso Deus". É a aliança mais perfeita, mais abrangente entre a terra e o céu, que durará para sempre, como Javé o prometeu: "Selarei com eles uma aliança eterna; eu serei seu Deus, eles serão meu povo". A parte de Javé está cumprida em definitivo em Jesus Cristo. Cabe a cada um cumprir sua parte, vivendo pela fé os méritos do auto-sacrifício do Cordeiro, que se-lou a nova e eterna aliança. Se cada um cumprir sua parte na aliança, o senhorio de Jesus terá sido partilhado e atualizado, e o Reino de Deus terá chegado até nós.

Jesus Cristo é o Senhor, o Rei da nossa vida, porque nos acolhe gratuitamente, nos ama, e

nos deixa crescer, ocupado com o nosso processo de crescimento através dos inseparáveis

erros e acertos, que fazem parte da verdade dialética, mais que com meus pecados. Jesus é o senhor ético, tolerante, respeita a igualdade de oportunidades nas diferenças do produto, que forma unidade por complementaridade, não identidade unilateral. Jesus conquistou o senhorio servindo, humildemente lavando-nos os pés, comunicando-nos a vida de DeusTrino, fazendo-nos novas criaturas, restituindo-nos a liberdade dos filhos e filhas de Deus. "Quem quiser ser o maior, seja o menor. Chamais-me Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. No entanto, estou entre vós como quem serve", não como quem é servido. Jesus Cristo é meu Senhor porque me conquistou a liberdade ao preço do sangue vertido na cruz, fazendo-me descendente da Mulher com ele. Por ter-nos concedido a "gloriosa liberdade dos filhos de Deus", nossa vida, tudo que somos e temos está definitivamente ligado a ele: nada de nós lhe é indiferente, por causa da aliança de vida comigo. Por causa dele, sei que sou livre verdadeiramente, pois sou parceiro da Pessoa mais livre: Jesus Cristo. Sei que na busca da liberdade terei obstáculos a transpor. Mas sei também que o irmão Parceiro é o primeiro a tomar partido por mim. Por maiores que sejam os problemas, ele os supera. Se eu viver a fé parceira com ele, maravilhas acontecerão. Ele poderá pedagogicamente ferir-nos pra debelar nossas resistências, temores e indecisões pelos valores positivos. Mas será sempre o Parceiro fiel quem o fará, não é qualquer um: Ele me ferirá para me salvar: curar, sanar, não por maldade. Sabe que sou carne, fragilidade, sujeito a pecar. Salvar é dar saúde (salus). Jesus é o Salvador, porque restaura a vida e os pecadores somos os enfermos (vida ameaçada) que Jesus cura, mediante a fé. O pecado é a pior doença, pois contamina mente e corpo por inteiro. Aos fariseus e doutores, que se achavam santos por cumprirem a Lei, Jesus dizia com ironia: "Não os sadios precisam de medico, mas os doentes; não os justos precisam de perdão, mas os pecadores. Não quero sacrifícios, quero misericórdia". Diante da misericórdia comprovada de Jesus, o que posso mais temer? "Se Deus é por mim, quem será contra mim. Quem não poupou o próprio Filho e o entregou por todos nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com ele" Rm 8,31-32. Jesus assegura aos Doze e a todos seus seguidores na fé: "não se perturbe vosso coração. Não vos deixarei órfãos: vou e retorno a vós, e estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos" Jo 14,1. 18.28; Mt 28,20. Se Jesus marcou encontro comigo na tempestade, entre as chamas, ele é poderoso e sábio suficientemente para acalmar a tempestade e apagar o fogo. Importa não separar-me dele em meio às chamas, achando que são mais poderosas que Parceiro fiel. "Caiam mil ao teu lado, dez mil à tua direita, nada te atingirá, desgraça alguma atingirá tua tenda. Porque a mim se apegou, o livrarei, o protegerei, pois conhece o meu Nome. Ele me invocará e responderei: na angústia estarei com ele, o livrarei e glorificarei; saciá-lo-ei de longos dias e lhe mostrarei a salvação" Sl 90 (91),7.10.14-16. Se tenho fé no Parceiro, nada tenho a temer, só confiar nele. "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei pra lá. Javé deu, Javé o tirou: bendito seja o Nome de Javé. Se recebemos dele os bens, não deveríamos receber também os males? É Javé quem faz morrer e viver, faz descer ao Xeol e dele subir. É Javé quem empobrece e enriquece, humilha e exalta, fere e volta a curar. Da sua mão ninguém se livra" Dt 32,39; Jó 1,21; 1 Sm 2,6-7. Por isso, quando tudo parece perdido, está tudo bem: "melhor receber o castigo do Senhor que elogio do insensato". Pois ele castiga por dez gerações, mas o seu perdão e a sua misericórdia dura mil gerações. Não há proporção: em toda situação, Javé é Libertador. Marca encontro conosco na fornalha, no espinheiro, depois nos tira de lá, pra nos educar na confiança, ensinar-nos que é o Senhor domina toda situação, fazendo todas as coisas redundarem em benefício dos que o temem. Nada preciso temer: "para Deus nada é impossível": quem está com Deus tem vitória garantida.

Maravilhosa pedagogia das provações, luminoso caminho da santificação pelo crisol das provações. Em todas elas sou mais que vencedor, pela virtude do Rei-Servo que me amou

e por mim se entregou livremente. Por isso, só ele é o Rei dos reis, Senhor dos senhores do céu e da terra: tudo está sob seu poder, nada escapa ao seu domínio. Seu poder, sua realeza vem do serviço, não da dominação. Ele conquistou o senhorio fazendo-se um de nós e pelo serviço humilde de elevar-nos à condição de filhos de Deus, nutrindo-nos com seu corpo e sangue, portadores da vida que recebeu do Pai e de Deus Mãe. Sua grandeza e poder são a misericórdia, o amor-doação de Si, perdão gracioso. Infundindo-nos o Espírito filial, Jesus nos infunde o espírito de serviço e nos potencia pra servirmos generosamente, com alegria como ele. Imbuídos do Espírito de diaconia do Filho, estamos aptos a praticar "as obras boas que já de antemão o Pai tinha preparado para que nelas andássemos. Deus Mãe está sobre mim, porque me conferiu a unção para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me pra proclamar aos cativos a libertação, aos cegos a recuperação da vista, enviar livres os oprimidos, proclamar o ano de acolhimento da parte do Senhor; consolar e curar os feridos e entristecidos corações, tirar o pecado do mundo, debelar o domínio dos poderosos sobre os fracos, derrubá-los dos seus tronos, elevar os humildes, saciar de bens os famintos, os ricos despedir de mãos vazias" Fl 2,9-10; Lc 1,52-53; 4,18-19. Tudo isto é parte da realeza de Jesus. Aderir a ele pela fé é assumir a realeza-serviço em favor dos oprimidos. "Quem quiser ser meu discípulo, faça-se servo dos outros como eu me fiz, renuncie a si mesmo e siga-me; lá onde eu estiver, aí estará também meu servo": na cruz do compromisso e na ressurreição gloriosa. Promessa maravilhosa, cumprida por Jesus na vida de todos os seus enviados que viveram a experiência de fé com ele, levando em conta todas as agruras que a caminhada com ele acarreta na vida pessoal e social.