O Sacro Império Romano-Germânico e a Formação do Estado-Nação Alemão

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 24/06/2024 | História

Muitos já ouviram falar sobre Carlos Magno, mas não sabem que ele foi o maior conquistador da Europa Ocidental. Suas terras iam até a Península Ibérica, contendo, na zona central, pequenas sociedades feudais, em sua maior parte maioria germânicas e existentes desde a Queda da Império Romano do Ocidente. Nessa enorme descentralização de poder, os Senhores Feudais (que podiam ser ou não Reis) concediam terras aos vassalos, que as ocupavam para fazer valer suas necessidades, a exemplo das alimentares e militares, bem como, se solicitados, as dos próprios Senhores (eis que, no dito sistema, obtinham mais prestígio que Poder). Todos deviam obediência a Carlos Magno e ao Papa.

E não foi ao acaso que, na data de 25 de dezembro de 800, o Papa Leão III coroou Carlos Magno com o título de Sacro Imperador Romano-Germânico. Há alguns historiadores que afirmam ter sido Otto I o pioneiro a ostentá-lo, em razão de uma controvérsia sobre heranças até hoje não pacificada (antes, durante e após a época Carolíngia, Senhores Feudais também poderiam ser vassalos de outros Senhores, e cuja produção agrícola, impulsionada por escravos e servos, era armazenada nos seus enormes castelos, seja para a devida proteção contra as perecíveis temperaturas e pragas, seja como reserva para as guerras).

Esse sistema foi o Feudalismo.

O Sacro Império Romano-Germânico era uma monarquia eletiva: os príncipes-eleitores se reuniam, creio que em Aachen, capital de jure (a capital de fato era Roma) e elegiam o Sacro Imperador, posteriormente referendado pelo Papa. O ramo religioso oficial era o Católico Romano, sendo que o Grande Cisma do Oriente de 1054 e o consequente fato de o Leste do Antigo Império Romano tornaram sede da Igreja Católica Ortodoxa Grega, em Bizâncio, de modo que tal fato se constituiu no único Cisma não absorvido pelo Sacro Império (os outros seriam a Reforma Protestante e o advento do Calvinismo, mais abaixo tratados), pois ainda havia um sem número de arianos e pagãos no seu território, cuja conversão se necessitava, se necessário, à força.

Um dos fatos que mais chamou à atenção para o papel da religião ocorreu quando, em 1095, o Para Urbano II convocou todos os que se consideravam Cristãos a se dirigirem a Jerusalém, em busca da salvação, ao tomá-la dos muçulmanos. 

Passando por intermináveis guerras, religiosas e econômicas, entre os feudos (o que era agravado pelo fato de o Sacro-Império ter dezenas de línguas, como alemão, francês, latim, iídiche, polonês, búlgaro e uma penca de outros idiomas germânicos e eslavos), num ambiente de tensão religiosa agravado pela Inquisição, observou-se um religioso, no que viria a ser a Alemanha, denunciando, dentro dos limites da Doutrina Cristã, condutas que não agradariam a Deus, como a imoral venda de indulgências pela Igreja Católica Romana, e pregando a obediência apenas à Bíblia, não ao Papa e suas encíclicas. Seu nome era Martinho Luthero, fundador do Protestantismo, cujo posterior confronto de ideias com as dos católicos, por parte de seus seguidores, foi bastante sangrento.

Daí, para pôr um fim à carnificina, foi proclamada a Paz de Augusburgo, em 1555, passando o Sacro Império a ter dois ramos Cristãos como oficiais: o Catolicismo e o Protestantismo. O mesmo ocorreu quando se fala do suíço João Calvino, fundador do ramo Calvinista, também gerador de discórdia, mas, de modo semelhante, aceito na Paz de Vestfália, em 1648. O Sacro Império, desta maneira, teve até seu fim, em 1806, com a Batalha de Austerlitz, travada entre Napoleão Bonaparte e por ele vencida contra austríacos e russos, três ramos religiosos oficiais (de 800 a 1555 apenas o Catolicismo, de 1555 a 1648 o Catolicismo e o Protestantismo, e de 1648 até 1806 o Catolicismo, o Protestantismo e o Calvinismo).

Em 1806 dava-se o fim do Sacro Império Romano-Germânico, constituinte do I Reich, e sua substituição, decidida no Congresso de Viena, pela Liga Renânia, que seria sucedida pela Confederação Germânica, sob influência direta da Áustria. A Prússia não aceitou a influência dos austríacos e contra os mesmos travou guerras, fazendo com que surgisse a Confederação Norte-Germânica em 1866, o que unificou os Estados Germânicos, outrora divididos em feudos, no Império Alemão em 1871, sob a Chancelaria de Otto von Bismarck, o maior Estadista tido pelo povo alemão, e instituidor de leis trabalhistas e da Previdência Social, por exemplo. Dava-se o início do II Reich.

O Império Alemão durou até 1918, quando, capitaneado pelo Chanceler Maximilian Baden, assinou sua rendição, na Primeira Guerra Mundial, configurando-se, assim, o fim do II Reich, com a conseguinte promulgação da Constituição Democrática de Weimar, em 1919.

A República de Weimar não obteve êxito em recuperar a Alemanha das consequências da Primeira Guerra Mundial, incluindo a inflação avassaladora, abrindo caminho para a eleição de um Parlamento dominado pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães em 1932 e a seguinte ascenção de seu líder psicopata ao cargo de Chanceler em 1933, extinguindo-se a República de Weimar e iniciando-se o III Reich.

Após isso, todos sabem o que, de forma muito triste e repugnante, veio a ocorrer.