O respeito ao princípio da propriedade

Um pequeno conto de Machado de Assis revela bem o comportamento de pessoas que se respeitam e que buscam manter-se em pé de igualdade diante de toda e qualquer situação:

“Certo homem, passando por uma estrada, depara-se com outro, sentado à margem do caminho, cabisbaixo e desalentado. Atrás dele, uma casa está pegando fogo. O homem para, olha a casa, olha o homem e, subitamente, lhe pergunta:

- Desculpe-me, esta casa é sua?

O homem o olha em seu desespero e solta, num murmúrio:

- Sim, meu senhor. Era a única coisa que eu tinha na vida...

O home, sem titubear, lhe pergunta:

- O senhor me dá licença de eu acender ali o meu cigarro?”

A situação vem nos mostrar exatamente como devemos nos comportar perante as pessoas que conosco compartilham a mesma sociedade, a mesma legislação, os mesmos tratos culturais e sociais a que nos submetemos, depois de séculos de incompreensão e de desmandos.

Se criamos uma sociedade regida por leis, devemos nos submeter a essas leis para que possamos conseguir a evolução que tanto buscamos. E, se respeitamos a legislação, estamos nos comportando da maneira que é exigida para que essa sociedade possa também evoluir, trazendo benefícios a todos, indiscriminadamente.

É evidente que falta muito para isso e podemos escrever um tratado sobre os desvios que ocorrem na sociedade e que não deixam que essa evolução aconteça de forma natural.

O respeito ao princípio de propriedade, afinal, existe?

 A fábula que contamos nos princípio deste artigo pode nos levar a analisar uma situação que está se apresentando de forma caótica, hoje ocorrendo na Europa, mas também se manifestando no Brasil: os refugiados sírios e africanos, fugindo da barbárie de religiosos radicais, que não conseguem separar a religião do Estado.

Na situação em que se encontram é evidente que devemos nos pautar pela solidariedade e encontrar meios para salvar tantas e tantas vidas, acolhendo e criando condições para que esses refugiados consigam um meio de sobrevivência respeitável.

Ao mesmo tempo, porém, um vídeo postado na internet pode trazer uma preocupação maior, senão no presente, num futuro próximo. Na Inglaterra, por exemplo, uma manifestação de muçulmanos já estabelecidos no país há mais tempo contra a polícia e contra o governo britânico, postulando que o Estado não deve ser respeitado se não for islâmico e que suas regras e hábitos devem ser considerados como prioritários.

Afinal, estamos, nós, ocidentais, manifestando nossa solidariedade para com os refugiados, ou estamos trazendo a víbora para nosso ninho? Quando buscam refúgio, natural e lógico que haja o respeito pela sociedade que os acolhe, que respeita seus princípios, mas que exige o respeito pela condição social estabelecida no país.

Quando não existe esse respeito e se manifesta o mesmo radicalismo implantado em seus países, onde o Estado é a religião e vice-versa, a previsão é que esse mesmo radicalismo se manifeste, depois que tudo estiver em ordem e que todos estejam atuando na sociedade, exigindo que essa sociedade seja transformada ao gosto e prazer de quem, mesmo minoria, não aceita mudar suas próprias regras e adaptar-se ao meio em que está lhe provendo a subsistência.

Podemos antever um futuro onde, em nossa própria casa, tenhamos de enfrentar situações radicais desse nível?

Ou devemos nos precaver, da mesma maneira como acontece atualmente nos países nórdicos, que proíbem a construção de mesquitas em seu território, financiadas pelos petrodólares da Arábia Saudita, enquanto os países muçulmanos não permitirem a construção de igrejas cristãs em seu território?

Como alternativa, os dirigentes mundiais poderiam tomar a atitude mais correta com vistas à preservação da cultura e da sociedade, tanto em nossos próprios países quanto nos países atualmente em uma ilógica e pouco inteligente “guerra santa”: sanar o problema nesses próprios países, criando ali mesmo as condições para a permanência de sua população.

Ou, no futuro, criar leis que possam garantir a sobrevivência da sociedade ocidental para viver em harmonia com quem ainda não aprendeu que “em Roma, como os romanos”.

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