Fim da primeira década do século XXI, 2010 é mais um ano em que permanecemos na encruzilhada da história. O Brasil, entretanto, vibrará com pelo menos três eventos: Carnaval, copa, campanha eleitoral...

Alguns supersticiosos poderão notar que a ordem dos algarismos, decompostos indicam uma ordem decrescente: 20, 10, 00... Claro que algum espertinho, em vez de decompor o número, somará seus algarismos: 20 + 10 = 30. Entretanto, nos dois casos, onde isso nos levará? A economia mundial indica retrocesso. O veneno da crise inoculado no final de 2009 ainda faz efeitos no mercado financeiro. E, se olharmos a partir disso, de fato a economia não está crescendo e gerando novos empregos. Então estamos em decadência: 20, 10, 00. Mas, se assumirmos a soma... seremos, teremos ou veremos 30!

Ainda na numerologia, se assumirmos uma postura pitagórica (Pitágoras, aquele da soma do quadrado dos catetos igual o quadrado da hipotenusa), poderemos fazer mais algumas considerações. Primeiramente isolamos o zero, pois esse algarismo era desconhecido dos gregos. Ficamos, portanto com 2 e 1. Para Pitágoras havia dois tipos de números: os números perfeitos e os imperfeitos. Sendo que os perfeitos eram os indivisíveis e os imperfeitos os números divisíveis. Lembremo-nos que naquela época não se conhecia o numero fracionado, portanto o 2 era um número divisível e o 1 indivisível. A soma, de ambos daria outro ímpar: 3. s|Endo assim, os algarismos de 2010 nos apresentam uma possibilidade de imperfeição e duas de perfeição. Pois são possíveis dois números indivisíveis, com esses algarismos.

Mas isso tudo são só conjecturas de supersticiosos. O que realmente importa são as possibilidades que 2010 nos apresenta. Possibilidades que podem nos ajudar a repensar o país ou que nos atirarão mais para perto do precipício... ou diretamente para dentro dele...

Primeiro elemento: carnaval.

Uma maravilha de invenção de povos pagãos. Festa de expiação. Momento de apresentar aos deuses os tributos e dádivas pelo ano que se inicia comemorando (comendo em uma festa) os restos do ano anterior, para deixar os celeiros à disposição para as novas colheitas. Uma forma de dizer aos deuses: agradecemos o que tivemos e faremos o que estiver ao nosso alcance para fazer um ano novo melhor. Nosso problema é que não usamos essa comemoração com essa finalidade. Pelo contrário, fazemos desse monumento nacional um momento de maior aviltamento e alienação. Entretanto permanece em nós a opção: comemorar proativamente ou se empanturrar de cachaça e tudo mais para, no dia seguinte – na sequencia da festa – descobrir a burrada que se fez...

Segundo elemento: copa.

Desde a antiguidade, na China, na Grécia, em Roma... existiram jogos praticados por um grupo de pessoas e uma bola. Ao que tudo indica foi somente na Inglaterra do século XVII que o futebol foi sistematizado, como o conhecemos hoje. Era, inicialmente, um esporte da nobreza. Como esporte de elite chegou ao Brasil em 1894, quando o estudante brasileiro Charles Miller voltou da Inglaterra. Em 1904 foi criada a FIFA, instituição que, em 1928, sob administração do francês Jules Rimet organizou uma disputa envolvendo vários países. Essa primeira Copa do Mundo ocorreu em 1930, no Uruguai. Contou com a presença de 16 equipes. O time da casa foi o primeiro campeão mundial. Em 1950 o Brasil foi sede da copa, mas só ganhou o primeiro título em 1958.

Tudo isso é história. Mas também tem ideologia na jogada. Como foi o caso dos anos de chumbo, como representado no filme "prá frente Brasil". Enquanto os militares matavam e torturavam brasileiros nos porões da ditadura, outros brasileiros, no México, ganhavam o tricapeonato. A copa, naquela época e em outras, foi usada pelo poder dominante para encobrir ou disfarçar falcatruas, desmandos e terrorismo de estado. E este ano, como ano de copa e eleições, precisamos ficar atentos não aos jogos, mas às malandragens que tentarão nos impor sob os foguetórios dos jogos.

Terceiro elemento: campanha eleitoral.

De dois em dois anos somos obrigados a fazer uma escolha que somente privilegia aqueles que já nadam em privilégios. Essa escolha, pelo voto, sempre é precedida pelo carnaval e por um grande evento: copa do mundo ou olimpíadas. Esses eventos (carnaval e copa ou olimpíadas) aprisionam as atenções dos eleitores, dificultando análises menos viciadas. Os grandes eventos se tornam como que cortina de fumaça e os interesses escusos se impõem sobre os interesses da população. E, em geral, os eleitores são levados a fazer opções não em favor do bem estar coletivo, mas em favor de grupos que já se solidificaram no poder. O debate político perde espaço no pré e pós evento festivo ou esportivo, ao ponto das decisões políticas serem baseadas não em critérios de bem estar coletivo, mas motivados por várias modalidades de "compra e venda" de votos.

Voltamos ao 2010. Quem sabe neste em 2010 poderemos usar os grandes eventos apenas como momentos de diversão – que deveria ser seu objetivo – sem sermos, como sempre, vítimas de decisões fabricadas em gabinetes. Quem sabe em 2010 seremos capazes de dizer não, para dizer sim apenas à nossa vontade soberana, sem direcionamentos interesseiros. Afinal, o que haverá em 2010?

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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