O AMOR é um tema de grande valor na sociedade e sempre encontrou maneiras de se expressar, servindo como cartaz nos grandes espaços públicos de todo o mundo. A literatura, por exemplo, sobretudo dos tempos clássicos, assim como a escultura, a pintura, a música, o teatro, o cinema, e outras manifestações artísticas, sempre viram no amor um alento imprescindível, cujo simbolismo é inspirador de grandes feitos humanos nos vários domínios da arte, da ciência, da filosofia e da religião. É por este fascínio que o amor, desde sempre, foi pensado e estudado por vários pensadores dos diversos campos do conhecimento, que nunca deixaram de admirar o seu valor - real, histórico e simbólico - que atravessa uma imensidão de séculos e ainda se mantém firme, inspirando as gerações actuais. Ao imergir no cerne humano, o amor demuda por completo sua forma de pensar e de agir, acertando nele cálices de afeto, de esperança e de apego à coisa amada. Assim também, em nome do amor, os homens primitivos se agruparam em cabanas e criaram laços de intimidade que fizeram surgir as sociedades humanas como hoje conhecemos. Isto mostra que o amor está presente desde os  primórdios da humanidade, desde a antiguidade humana mais remota de que temos registro. Ora, um sentimento tão extraordinário como este, que dita o rumo dos relacionamentos e das sociedades, é, deveras, digno e credor de ser estudado e discutido por todos. É assim que, neste livro, tentar-se-á entender, à luz da ciência e da filosofia, o que é o amor e como ele se manifesta nos episódios humanos, apresentando suas mais importantes concepções desenvolvidas no decorrer dos tempos. 

O AMOR NAS RELAÇÕES AFETIVAS 2 “Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que os seus caminhos sejam duros e escarpados. E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir”. (Khalil Gibran) O TERMO amor surgiu do latim amore e possui uma variedade de significados que iremos tratar no decorrer deste livro. Primeiramente, vale dizer que, desde os primórdios da humanidade, sempre esteve presente a necessidade dos homens se relacionarem e juntos coabitarem, o que permitiu a sobrevivência dos homens primitivos nos períodos mais longínquos da história. Este ajuntamento entre indivíduos possibilitou o estreitamento das relações afetivas e, com isto, foram surgindo os vários tipos de relacionamentos que encontramos nas sociedades de hoje, desde os mais simples, até aos relacionamentos mais íntimos. É também no estreitamento das relações afetivas que surgiram os relacionamentos conjugais entre duas (ou mais) pessoas. Em todo o caso, encontrar alguém com quem construir uma relação pressupõe, antes de tudo, a abertura ao mundo e, consequentemente, aos relacionamentos. Importa então reconhecer que o amor é sem dúvida um dos sentimentos mais antigos que conhecemos. Daí que não se ensina a amar, pois já nascemos amando; em outras palavras, o nascimento carrega consigo a afetividade pelas primeiras pessoas que nos ajudam a crescer e a desenvolver, isto é, os nossos pais, irmãos, nossa família e nossos amigos. Brendali Bystronski, no seu livro Teorias e Processos Psicossociais da Intimidade Interpessoal, realça que é nas relações interpessoais que o homem vive suas mais fortes emoções, dentre elas o prazer que se obtém através do amor. Concebe-se então o amor como um sentimento que sentimos pelas pessoas; um sentimento que nos une, que nos inspira a vivermos em sociedade; e que nos submete a uma condição de apego e apreço ao próximo.

PAIXÃO 

ACREDITA-SE que todo amor começa com uma paixão. A paixão seria, então, a primeira condição para que o amor aconteça. O mesmo sucede com a afeição que sentimos pelos nossos parentes. Ao nascermos, surge em nós a paixão pelos nossos pais; e à medida que nos damos conta da realidade, começamos a amá-los; assim também, os pais adquirem a paixão pelo filho que acaba de vir ao mundo para depois desenvolverem o amor incondicional por ele. É neste sentido que muitos pais acabam por abandonar ou desprezar seus filhos quando a paixão se esgota, pois não chegam a desenvolver o amor por eles. O mesmo acontece nos relacionamentos afetivos entre duas ou mais pessoas. Quando não se desenvolve amor, acabamos por nos frustrar. A paixão por si só é garantia da própria destruição, mas quando se desenvolve amor, a paixão amadurece e este amor se constrói. A paixão é vista como cega, descontrolada, intensa, de grande intensidade emocional. A paixão de um homem por uma mulher, ou vice-versa, por exemplo, é muitas vezes definida como a suspenção temporária do juízo, uma vez que a paixão nos incita a buscarmos incessantemente a pessoa amada, o que muitas vezes nos leva a desenvolvermos um comportamento obsessivo-compulsivo e a cometermos loucuras para estarmos perto da pessoa. [...]