Edward Thorndike foi um renomado psicólogo, conhecido pelas inúmeras contribuições oferecidas a psicologia educacional. Em seus anos lecionando na Columbia University, ele criou boa parte das teorias que hoje explicam o processo humano de aprendizagem.

 

Em 1898, ele conduziu um experimento que viria a ser a base do nosso entendimento sobre o funcionamento e a gênese dos hábitos. A partir deste estudo, feito com gatos, a sociedade científica chegou a uma compreensão muito maior sobre as regras que guiam o próprio comportamento humano.

 

O experimento era bem simples: ele colocava um gato dentro de um artefato conhecido como “caixa quebra-cabeça”. Uma caixa que era projetada de forma que o gato só pudesse sair pela porta se puxasse uma alavanca ou subisse em uma plataforma.

 

Resumindo: havia um gato, uma caixa com uma alavanca dentro, que ao ser acionada, abriria uma porta em uma das laterais do estranho artefato. E, claro, após cumprir o objetivo, o gato podia pular fora e se deliciar de uma bela refeição.

 

 

 

Como você pode imaginar, esse ambiente não parecia ser nenhum paraíso para os bichanos. Como reação inicial, os gatos tentavam sair a todo custo: enfiando o focinho nas gretas, colocando as patas entre as frestas, e fuçando qualquer objeto que estivesse dentro da caixa.

 

O papel do pesquisador era de roteirizar o comportamento dos gatos dentro da caixa, diante de cada uma das tentativas.

 

No início, por ser um ambiente desconhecido, o comportamento dos gatos era completamente aleatório. No entanto, logo que associavam a abertura da porta com o movimento na alavanca, eles desenvolviam um padrão de comportamento.

 

Ali começava o processo de aprendizagem. E depois de até trinta tentativas, esse ritual se tornava tão automático que, poucos segundos eram suficientes para o gato sair da caixa e conseguir alimento.

 

Havia uma relação direta: quanto mais repetições, maior a velocidade de execução do processo. Nas primeiras tentativas, o tempo médio para se concluir a empreitada era de 1,5 minuto; nas últimas, o tempo médio migrava para 6,3 segundos.

 

Talvez, isso explique a intuição que teve Bruce Lee, ao afirmar: “não temo o homem que praticou mil golpes, mas aquele que praticou um único golpe mil vezes.” E, de fato, era isso que acontecia: com a prática, os gatos cometiam menos erros, e suas ações se tornavam cada vez mais rápidas.

 

A conclusão de Thorndike, nos levou a compreensão fundamental sobre o funcionamento dos hábitos: “comportamentos que levam a consequências prazerosas tendem a ser repetidos, e aqueles que produzem resultados sem um ingrediente prazeroso possuem menor predisposição de serem feitos novamente.”

 

Vale repetir! Hábitos (comportamentos repetitivos) nascem a partir de caminhos que levam ao prazer.

 

A questão é: o que são esses hábitos? por que nosso cérebro busca criar esses padrões automatizados?

 

É isso que vamos ver!

 

Hábitos: por que eles existem?

 

Não tem segredo! Um hábito é apenas um comportamento que foi repetido com frequência suficiente para tornar-se automático.

 

Como no experimento acima, o processo de criação de hábitos se dá por ensaio e erro. Ou seja, durante o correr da vida, recebemos estímulos externos, e o nosso cérebro busca sempre oferecer um significado a esses estímulos.

 

Às vezes, surge um estímulo que já descobrimos qual é a “melhor” resposta a oferecer; outras vezes, não.

 

O que sabe-se hoje é que, com os mecanismos de escaneamento do cérebro, situações desconhecidas levam à maior atividade neurológica. O cérebro, diante daquilo que é novo, busca rastrear respostas, através de uma análise da situação e buscando por uma decisão consciente. Ou seja, ele se ocupa de aprender a melhor resposta possível para cada estímulo novo.

 

Assim como o gato de Thorndike, com o cotidiano, nós também vamos encontrando caminhos que nos levem a determinadas soluções. Depois de um dia exaustivo de trabalho, você aprende que sair com os amigos para tomar uma cervejinha te deixa relaxado; diante de um problema difícil, você corre para as redes sociais para assistir vídeos engraçados; quando está ansioso, aprende que uma barra de chocolate pode acalmar os ânimos.

 

Passamos a vida recebendo estímulos, explorando, procurando, até que surja algo prazeroso - uma recompensa!

 

É justamente aí que está a chave! Quando você descobre algo prazeroso no ambiente, seu cérebro já começa a identificar os caminhos que levaram a essa recompensa. Ele cria um catálogo com os eventos que precederam aquilo que o levou ao prazer.


 

 

 

Esse é o processo de formação de hábitos: quando emerge um problema frequente, o cérebro começa a trabalhar para automatizar a solução disso. Ou seja, os hábitos são soluções automáticas que resolvem ou aliviam os problemas que enfrentamos regularmente. Ou, como disse o cientista comportamental, Jason Hreha: “hábitos são, apenas, soluções confiáveis para problemas recorrentes no ambiente em que nos situamos.”

 

Portanto, vivemos em um ambiente que nos oferece estímulos. Quando esses estímulos são desconhecidos, a atividade cerebral explode, a fim de encontrar respostas para o contexto. Ao passo que, quandos os hábitos são criados, essa atividade diminui consideravelmente, e criamos regras que determinarão nosso comportamento no futuro: “quando isso acontecer, então farei isso”.

 

Assim, nasce um padrão. Ou, como disse James Clear, em seu excelente livro Atomic Habits: “hábitos são atalhos mentais aprendidos a partir das experiências”.


 

A caixa-preta dos hábitos

Todo hábito é constituído de 4 etapas: pista - anseio - rotina - recompensa.

 

Todo hábito se enquadra dentro deste modelo, e isso é tudo que precisamos para entender o que é um hábito, e todo seu processo de funcionamento (inclusive para criar novos).

 

Primeiro, temos uma pista que aciona uma reação no cérebro, um gatilho para que se inicie um comportamento. Esse é o gancho, a âncora que já prevê a recompensa futura.

 

“Nossos ancestrais pré-históricos prestavam atenção nas pistas que indicavam a localização de recompensas primárias, como: comida, água e sexo. Hoje, nós gastamos a maior parte do nosso tempo aprendendo as pistas que preveem recompensas secundárias, que é o que proporciona o dinheiro, a fama, o poder e o status, reconhecimento e aprovação, amor e amizade, ou um senso pessoal de satisfação. (Claro, esses anseios também aumentam indiretamente nossas probabilidades de sobreviver e reproduzir, o que, em nível mais profundo é a motivação por trás de tudo que fazemos).”

 

Essas são as pistas: indicadores de que estamos próximos de uma recompensa já catalogada.

 

Além disso, temos o “anseio”, que advém de uma força emocional. Esse é o fator motivacional, o que nos faz mover. Inclusive, lembrando a etimologia da palavra emoção, ela deriva do latim emovere, que significa mover, agitar, sair do lugar.

 

Aqui, vale o exemplo do cigarro: ninguém anseia fumar um cigarro, mas aquilo que ele proporciona, que é um senso de alívio. No caso, o anseio aqui é o desejo por sentir esse alívio.

 

O anseio é conectado à um desejo específico, e sua razão de existir é o ímpeto para adquirir uma recompensa.

 

Em terceiro, temos a rotina - que é nada mais do que a ação que tomamos após o anseio. É a resposta comportamental que oferecemos à pista que surgiu em nosso ambiente.

 

Por último, toda rotina conduz à uma recompensa. O prazer, a refeição do gatinho que conseguiu abrir a caixa. E esse é o objetivo final de todo hábito!

 

A pista trata-se de perceber a recompensa. O anseio é querer a recompensa. A rotina é obter a recompensa. Simples assim, preto no branco.

 

Essa é a engrenagem por trás de todos os hábitos que temos, ou que viremos a ter. A constituição dos comportamentos que executamos todos os dias são esses 4 simples passos, que representam o processo natural de aprendizagem do cérebro.

 

Exemplo 01:

 

  1. Pista: Seu telefone vibra e mostra uma nova notificação no whatsapp

  2. Anseio: Você sente uma vontade de ver o conteúdo da mensagem

  3. Rotina: Você pega o telefone e lê a mensagem

  4. Recompensa: Você alivia o anseio de ler a mensagem.

 

Exemplo 02:

 

  1. Pista: Você acorda e levanta da cama

  2. Anseio: Você quer se sentir “ligado”

  3. Rotina: Você vai até a cozinha e toma uma xícara de café

  4. Recompensa: Você satisfaz seu desejo por se sentir alerta. Logo, tomar café começa a se associar com acordar.

 

Essa é chave da mudança de hábitos: colocar as 4 alavancas na mesma direção, de forma sincronizada.

 

Se a pista é algo que viabiliza o anseio, ela precisa ser óbvia e visível; O anseio precisa ser atrativo; a rotina, ou o comportamento, precisa ser fácil (sim, quão mais fácil for, maior é a adesão); por último, tem de haver uma recompensa, algo prazeroso.

 

Ou seja, se você pensa em criar um hábito:

 

1 - Crie uma deixa óbvia e visível;

2 - Crie um anseio atrativo;

3 - Defina um comportamento fácil;

4 - Tenha uma recompensa prazerosa.

 

Faça isso repetidamente. Nascerá disso o hábito.

 

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