O QUE REALMENTE MORRE

Nós amamos formas, nós achamos bonitas algumas formas. Apenas os olhos, o tato e a consciência podem perceber formas.

Os objetos que estejam distantes, só os olhos podem perceber, mas, só podem ver a parte frontal, aquela parte que nos envia luz. O tato não pode perceber tais objetos (devido à distância) e a consciência só vai percebê-los se tanto os olhos quanto o tato tiverem percebido de alguma forma.

Objetos que estão próximos podem ter sua forma vista no todo, tanto pelos olhos quanto pelo tato.

O que amamos, o que achamos bonito são apenas formas vistas pelos olhos. Não conseguimos amar ou achar bonitas as coisas que só podemos ver com o tato.

Amamos ou achamos bonito (ou feio) um corpo de homem ou de mulher apenas quando o vemos com os olhos. Para o tato não existe o feio ou o bonito.

Então existe uma diferença entre a forma vista pelos olhos e a forma vista pelo tato. As informações colhidas por cada um desses sentidos são diferentes. Os olhos captam muito mais informações do que o tato, mesmo que o objeto não esteja em movimento (para o tato, nunca está).

O tato só consegue capturar a forma pura. Nenhuma variação que não faça parte da forma pura (que não seja uma protuberância, uma reentrância, uma mudança de direção) pode ser vista pelo tato, mas, pode ser vista pela visão, daí a maior quantidade de informações que esta obtém.

Cores, brilhos, luz, sombra, podem afetar a forma para a visão, porque afetam a própria visão, mas, não podem afetar o tato.

Quanto mais informações, maior será a chance de simpatia ou antipatia. Por isso é que a fonte dos preconceitos é a visão (seguida da audição), enquanto que o tato não gera qualquer tipo de preconceito.

O tato mostra a forma real das coisas (quando ele pode alcançá-las), não deixando margem para intepretações, enquanto que para a visão e a audição, a maior parte da informação recebida é interpretada, principalmente por uma consciência (conceito) pré-formada ou baseada em interpretações de pessoas com as quais simpatizamos naquele momento interpretativo.

A forma dos objetos é formada, moldada na matéria. Nisto se inclui o nosso corpo. Matéria é energia um tanto condensada. Energia não se perde, não desaparece e nem é criada. Ela simplesmente existe. Isso é uma constatação cientifica. Dito isto, eu posso afirmar que: Não sei da alma, do espírito, ainda, mas, o corpo não desaparece após a morte. O que desaparece é a forma que pode ser constatada pelo tato e pela visão. O corpo permanece por aí, em outra forma. Talvez com menos componentes (mesmo enquanto vivo, seus componentes estão sempre variando, para menos ou para mais), mas, ainda existente. Nem a Ciência é capaz de negar isso.

O que é um muro? Uma barreira material ou artificial, mais ou menos alta, com uns vinte centímetros de espessura, moldada com outras formas (tijolos, pedras, pequenas partículas sólidas – areia).

O que é uma parede? Um muro alto.

O que é uma casa? Um conjunto (forma) de muros altos com aberturas (portas e janelas) cobertos com outras formas (telhas).

Quem ou o quê cria a forma casa?

Qualquer forma que existe, mesmo na consciência, foi criada por alguma coisa ou por alguém. Assim, quem ou o quê criou a forma corpo?

Note o tempo verbal: criou, não cria. Não é porque o bebê está sendo formado no útero da mãe que o seu corpo está sendo criado naquele momento. O que está acontecendo é que o corpo está sendo desenvolvido de acordo com uma lei pré-estabelecida. Essa é a Lei da Criação do Corpo.

Mas, não basta uma lei, é necessário um agente moldador, assim como o pedreiro é o agente moldador que segue a lei de construção de uma casa para ela ficar parecida com o que se chama de casa. O agente é imprescindível.

O corpo que nasce não vem do nada. Ele vem do que está por aí (dentro e fora do corpo da mãe), assim como a casa que nasce não vem do nada, mas, do que está por aí. Isso nos permite dizer que, se a quantidade de energia bruta (aquela que se condensa em matéria mais facilmente) é finita, então, teoricamente, existe um limite para a “formatação” de corpos e objetos. Esse limite não é atingido por causa da reciclagem de corpos e objetos (morte/nascimento).

Segundo a Ciência, a quantidade de matéria (ou energia) que conhecemos representa 4% do total, ou seja, 96% estão no desconhecido.

O que existe no pedreiro que formata a casa, além de sua forma corpo? Não pode ser apenas isso (corpo material), pois, cinco minutos depois da morte do pedreiro, isso continua 100% a mesma coisa!

Ok, você pode dizer que a energia elétrica parou de circular nele no momento da morte. Na verdade, ainda hoje, a Medicina tem dificuldades para determinar o momento exato do fim da vida em um corpo.

Para mim, esse momento não é quando a atividade elétrica cessa (para a Ciência também não), mas, quando uma quantidade irrecuperável de células importantes se degenera, ou volta para o ambiente ao redor do corpo.

A atividade elétrica principal de um corpo pode ser mantida por um período bastante longo enquanto esse corpo for alimentado adequadamente. Mas, ainda fica faltando alguma coisa para se afirmar que a pessoa está plenamente viva. Essa coisa que falta pode até ser que uma parte elétrica, mas, é mais sutil que a atividade elétrica que mantém a “matéria bruta” estável.

Então, no pedreiro existe uma energia que está fora daqueles 4%. É essa energia que formata o corpo no útero da mãe, que segue a Lei da Criação do Corpo.

A conclusão é que tudo é energia e, portanto, nada se perde (tudo se transforma, como disse Antoine Lavoisier, no século 18). O corpo continua por aí, a alma (em forma de energia) continua por aí. A questão que fica é sobre a consciência. Ela precisa do tato e/ou da visão ou de si mesma (a consciência tem visão própria e tato próprio). Ela só pode continuar por aí se ela for uma energia em vez de um efeito energético, uma espécie de forma.

Se ela for apenas um efeito, então podemos ressurgir algum dia, quando as mesmas causas que nos moldam se juntarem novamente.

Se ela é uma energia à parte, imutável, não formatável, mas, formadora, então podemos ressurgir algum dia, ou não!

Nos dois casos que podemos ressurgir, pode ser em qualquer forma ou ambiente. No caso do não, pode ser por vontade própria (não quero ressurgir) ou por uma lei qualquer que nos é desconhecida agora (não posso ressurgir).

A interação energética com o ambiente ao redor é constante, com partículas entrando e partículas saindo. Algumas que entram se encaixam direito, outras não. Num caso e no outro, a função elétrica é alterada. À medida que essa interação evolui (a complexidade do corpo aumenta), ocorrem mais disfunções do que funções normais, o que causa um desgaste (envelhecimento) do objeto, seja ele um objeto bruto ou um corpo, levando-o à desagregação, ou perda da forma, ou ao que chamamos de morte.

A forma transcende a matéria bruta, ou seja, energias mais sutis podem ser formatadas?

Creio que não. Qualquer energia que possa ser formatada não pode ser sutil.

Formas precisam ser aquilo que a visão e o tato percebem?

Se o que a visão e o tato extraem é informação, então formas não precisam ser físicas! O tato é muito mais seletivo do que a visão. A visão é extremamente externa, isto é, ela não tem extensões para fora e nem para dentro do corpo. Já o tato tem extensões internas que se estendem à consciência. Assim, enquanto a visão cavalga apenas no mundo físico, o tato pode cavalgar no físico e no não físico. Nesse aspecto, sim, formas precisam ser aquilo que pelo menos um destes dois sentidos percebe.

É a forma o que realmente morre. Só podemos nos comunicar através de formas, principalmente formas materiais, mas, não somos capazes de nos comunicar através de todas as formas energéticas. Com isso não dá para afirmar que morrer é ir para o nada como a maioria o define. O verdadeiro nada é o equilíbrio (ver Física é Matemática?).

Brasilio – Maio/2015.