Todos os anos, quando chega este período de férias, a imprensa anuncia os inúmeros casos de mortes ocasionadas por acidentes de trânsito ou afogamentos, mostrando-nos a despreocupação das pessoas com a vida. Isto nos convida a refletir sobre o comportamento do homem, no mundo moderno, pois parece que o bem maior, que é a vida, esse não tem mais valor.

A ingestão abusiva de álcool, de droga, o dirigir em alta velocidade e/ou alcoolizado, a imprudência no mar, leva-nos a pensar no desejo inconsciente que essas pessoas têm de se destruírem. No entanto, este desejo está mascarado pelos sentimentos de onipotência, de narcisismo, de egocentrismo, que tomam conta do homem moderno. Estes têm a função de preencher um vazio interno, assim como, negar os sentimentos de menos valia, de incompetência, de baixa auto-estima, que importunam muitas pessoas, gerando-lhes sofrimento.

Vivemos numa época em que o humano se cobra e se exige muito. Vive numa eterna corrida, para vencer a competição, que a sociedade moderna impõe. Com isso, busca desenvolver a imagem de um "super-herói", pois talvez desta forma, consiga atingir o seu objetivo, ou seja, ir para o pódio da vida, arrancando aplausos de muitos e nutrindo o seu lado narcísico.

Fixado em ser o vencedor, passa a agir como um ser insuperável, percebendo-se muitas vezes, como um deus, não precisando, portanto, respeitar as regras. Estas são compreendidas como desafios a serem enfrentados. Julga-se capaz de vencer qualquer limite, até mesmo, o da finitude. Nada teme, não mede as consequências de seus atos, pois o seu único foco é ser reconhecido como um "super-herói. Nessa ânsia do reconhecimento, é que o "super-herói" acaba destruindo a sua vida e a de outras pessoas, que talvez apostassem na sua vitória.

E aí, fica um questionamento; quantos "super-heróis" precisarão morrer, para que as pessoas passem aceitar a sua condição de humano, ou seja, de um ser que tem limitações, que é frágil, sensível, finito, mas que pode viver por muito tempo, desde que saiba conviver com elas.